EDUCAÇÃO

Ensino superior registra queda no acesso de jovens

Para o economista Rodrigo Capelato, retração das políticas públicas a partir de 2016 impactou nas matrículas das universidades privadas
Por César Fraga / Publicado em 17 de junho de 2022

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Ensino superior privado: Região Sul registra queda de 8% nas matrículas presenciais

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

De acordo com o Mapa do Ensino Superior 2022 apresentado na quarta-feira, 14, pelo Instituto Semesp, o ensino superior privado da Região Sul registrou queda de 8% nas matrículas presenciais. A tendência de queda e de redução de estudantes é nacional.  O Semesp representa e assessora mantenedoras do ensino superior em todo o país.

Segundo o levantamento, o total de matrículas nas instituições de ensino superior (IES) no Brasil cresceu apenas 0,9% de 2019 para 2020.

Esse número, apesar de positivo, disfarça uma queda de 50% em comparação  ao período anterior, quando as matrículas haviam aumentado 1,8%. A projeção para 2021 feita pela pesquisa, com base na PNAD Contínua do IBGE, deverá registrar uma redução de cerca de 7,0% no total das matrículas.

NESTA REPORTAGEM
Ainda não há números para avaliar 2022, a não ser a tendência de queda acentuada no número de matrículas e de migração do modelo presencial para o EaD.

Os números do Censo da Educação Superior 2020 apontam uma realidade preocupante: a diminuição no número de jovens ingressando no ensino superior, o que afeta diretamente a taxa de escolarização líquida (que mede a proporção de pessoas de 18 a 24 anos que frequentam o ensino superior em relação à população dessa faixa etária).

Em 2020, a taxa registrou uma redução de 0,3 ponto percentual e chegou aos 17,8%. Com o EAD ainda atraindo um público mais velho, entre 29 e 44 anos, que já está inserido no mercado de trabalho, os mais jovens seguem excluídos da educação superior.

Decadência das Políticas Públicas prejudicou o desempenho

 

Ensino superior registra queda no acesso de jovens

Foto: Reprodução/Vídeo

Rodrigo Capelato, economista e diretor-executivo do Semesp

Foto: Reprodução/Vídeo

“Sem atrairmos os jovens para o ensino superior, estamos não apenas nos afastando da meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece uma taxa de escolarização líquida para o ensino superior de 33% em 2024, mas também comprometendo o próprio desenvolvimento do país a médio e longo prazo”, afirma o economista e diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.

Em sua apresentação da pesquisa, destacou o crescimento do ensino superior privado depois da metade da década de 1990, devido às políticas públicas implementadas a partir da LDBEN, com novo incremento em 2005, com ferramentas de financiamento e inclusão das camadas de baixa renda, por meio do ProUni e Fies.

Segundo Capelato, ao ser questionado pelo Extra Classe sobre o impacto da retração das políticas públicas nas matrículas e na evasão de estudantes do ensino superior, “há uma correlação direta tanto no ingresso quanto na manutenção do ensino superior privado. Houve crescimento de 2000 a 2020, principalmente por conta de políticas públicas de acesso à universidade (ProUni, ReUni, sistema de Cotas e Fies), para as privadas, principalmente ProUni e Fies”.

O economista avalia que, a partir de 2015, ocorre uma decadência desses programas por terem chegado no seu limite. No entanto, o Fies ainda tinha campo para crescimento, mas caiu absurdamente. “Isso explica o tanto que foram importantes os programas para as classes menos favorecidas acessarem o ensino superior, que quando houve a retração do Fies, passou a crescer o EaD, que é o que cabe no bolso.”

“Outro dado interessante é que há muito menor evasão entre os estudantes da rede privada que ingressam com Fies e os demais. Isso mostra que essas políticas são importantes para inclusão e permanência dos estudantes de baixa renda no sistema educacional”, acrescenta.

“Não há perspectivas de retorno ou melhorias das políticas públicas de acesso à universidade. Por outro lado, caso não haja novas políticas para o setor no próximo governo, não há como desenvolver o ensino superior nem a educação como um todo”, afirma.

Ele vê com preocupação o crescimento (aumento) vertiginoso do EaD, pois teme por um crescimento que está sendo forçado por uma demanda de estudantes que buscam formação com mensalidades baixas e que isso possa ficar insustentável. Conforme ele, os mais jovens acabam nem se matriculando, e o perfil dos estudantes que buscam o EaD é dos mais velhos que procuram melhor remuneração em suas atividades.

No RS, a mensalidade média de um curso presencial é de R$ 1.544, desconsiderando o curso de Medicina. No EAD, a mensalidade média é de R$ 313.

“Sobre as políticas públicas, o Semesp apresentou uma proposta de ampliação do ProUni e de reformulação do Fies para que se torne mais sustentável, baseado no modelo de financiamento do Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia”, conclui.

EaD salta à frente do presencial no ensino superior

Ensino superior registra queda no acesso de jovens

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Os cursos presenciais privados tiveram uma variação negativa nas matrículas (-10%), enquanto a variação da modalidade EaD saltou para 28,6% positivo.

O crescimento no número de matrículas na modalidade EaD aumentou 7,7 pontos percentuais de 2019 para 2020, passando de 19,1% para 26,8%.

Com uma queda de 3,8% em 2019, as matrículas presenciais diminuíram ainda mais 5,6 pontos percentuais, chegando a uma redução de 9,4% em 2020.

Região Sul registra queda de 8% nas matrículas presenciais

Com pouco mais de 30 milhões de habitantes divididos em três estados (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), a Região Sul é a terceira em número de matrículas, com 1,5 milhão de estudantes no ensino superior. Juntando as modalidades presencial e EAD, a região representa 17,5% da educação superior do país.

Mesmo com os impactos do primeiro ano da pandemia da covid-19, a região registrou crescimento de 4,1% no número de matrículas. E foi a única do país em que todos os seus estados apresentaram variação positiva nas matrículas de 2019 para 2020, ainda que por causa do aumento dos alunos na modalidade EAD. A modalidade presencial teve recuo de 8% no período. Já as matrículas EAD saltaram 24,4%.

EaD tem mais estudantes matriculados do que em cursos presenciais

Outra peculiaridade da região é que, na rede privada, o número de estudantes matriculados em cursos EAD é maior do que o dos cursos presenciais em todos os estados. O número de ingressantes em cursos EAD também superou o de calouros presenciais nos três estados da região.

RS registrou o menor aumento de matrículas da Região Sul

Com 11,5 milhões de habitantes divididos em sete mesorregiões e 497 municípios, o Rio Grande do Sul possui 113 IES que ofertam cursos presenciais e 104 IES que possuem cursos EaD.

O estado registrou o menor aumento de matrículas da Região Sul em 2020, 3,1%, totalizando 535 mil alunos cursando o ensino superior.

Nos cursos presenciais, o Rio Grande do Sul vem registrando redução nas matrículas desde 2016, com mais um decréscimo de 9,0% de 2019 para 2020.

No mesmo período, o número de matrículas em cursos EaD aumentou 24,6%, seguindo a tendência de crescimento das matrículas de educação a distância verificada nos últimos anos.

O EaD já representa 43,6% das matrículas do Rio Grande do Sul. A modalidade representa 54,4% das matrículas da rede privada, superando já o número de alunos presenciais nas IES particulares do estado.

Perda de representatividade no ensino superior

Com 535 mil de estudantes no ensino superior, o Rio Grande do Sul representa 6,2% do total de alunos de graduação do país. Em relação à Região Sul, o estado detém 35,2% do total das matrículas.

No cômputo geral, com a queda de 15,9% das matrículas presenciais de 2019 para 2020, a rede privada vem perdendo representatividade no estado, concentrando 62,7% dos alunos da modalidade (era 67,9% em 2019). A diminuição de matrículas no total foi de 9% no mesmo período, com a rede pública registrando um aumento de 5,7%.

Entre 2009 e 2020, houve uma queda de 12,3% nas matrículas presenciais. Essa redução foi puxada pela rede privada que, no mesmo período, teve queda de 32%, com decréscimos registrados desde 2016.

Menor taxa de escolarização 

O Rio Grande do Sul possui uma taxa de escolarização líquida (que mede o total de jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior, em relação ao total da população da mesma faixa etária) de 22,1%, uma queda de 0,5 ponto percentual em comparação com o período anterior, ainda assim sendo acima da média nacional (17,8%).

O estado possui a menor taxa de escolarização líquida da Região Sul. 230 mil novos alunos ingressaram no ensino superior no estado em 2020, sendo 64,5% deles em cursos EAD, acima da média dos outros estados.

No que diz respeito aos concluintes, o Rio Grande do Sul formou 70,9 mil alunos em 2020, sendo 40,2% deles advindos de cursos EAD.

De 2019 para 2020, o número de concluintes em cursos presenciais caiu 16,7%: queda de 13,3% na rede privada e de 26,9% na rede pública. No EAD, o aumento de concluintes foi de 24,6%, sendo 21,5% na rede privada e 266% na rede pública.

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