EDUCAÇÃO

Assédio ou afeto: Quais os limites do contato corporal nos espaços de ensino?

Sinpro/RS promoverá seminário, no próximo dia 27 de maio, para discutir as implicações pedagógicas, psicológicas e legais sobre o tema
Por Douglas Glier Schütz / Publicado em 22 de maio de 2023

Seminário trará Silvane Isse que é pesquisadora e professora para falar sobre o afeto dentro das escolas

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Fundamental para o desenvolvimento humano e para a construção das relações, o toque, de acordo com a professora e pesquisadora Silvane Fensterseifer Isse, tem valor significativo na educação de crianças e jovens. No entanto, ela ressalta que esse processo precisa acontecer de forma ética e respeitosa.

Para promover este debate e dar um respaldo às professoras e aos professores, o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) promoverá o Seminário Limites entre o afeto e o assédio na escola.

O evento será realizado no sábado, 27 de maio, das 9h às 12h, de forma híbrida – presencial, na Sala de Eventos do Sinpro/RS em Porto Alegre (Avenida João Pessoa, 919), e on-line. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no site do Sindicato.

O Seminário abordará as diferenças e os limites na relação entre professores e estudantes em uma dimensão pedagógica e o constrangimento moral; entre o toque corporal como elemento fundamental na formação de vínculos afetivos e o toque que viola o corpo e constrange; bem como suas implicações psicológicas e legais.

São painelistas no Seminário, a diretora da Divisão Especial da Criança e Adolescente e delegada Caroline Virgínia Bamberg Machado; a psicóloga, psicanalista e especialista em Problemas do Desenvolvimento na Infância e Adolescência, Luciane Susin; e a professora, pesquisadora e mestre e doutora em Ciências do Movimento Humano, Silvane Fensterseifer Isse.

Respeito ao corpo do outro

Casos de assédio não são incomuns no ambiente acadêmico e escolar. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), publicada em 2019, aponta, por exemplo, que 14,6% dos escolares entre 13 e 17 anos já foram tocados, manipulados, beijados ou tiveram seu corpo exposto sem a sua vontade na escola.

As meninas são as que mais denunciaram estes casos, 20,1%.

A rede privada registrou mais casos, com 16,3% de alunas e alunos relatando esses tipos de agressão, enquanto as escolas da rede pública somam 14,4% dos registros.

A professora Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS diz que o Seminário está inserido dentro de um novo olhar sobre a questão do assédio, dos limites e do respeito ao corpo do outro.

“Queremos chamar a atenção dos professores e mostrar que demonstração de afeto pode ter diferentes interpretações e até mesmo causar um sentimento negativo nos alunos. É importante alertar os profissionais da educação sobre esse tema”, destaca.

A professora Silvane Fensterseifer Isse, mestre e doutora em Ciências do Movimento Humano, observa que cada pessoa tem um limite sobre aquilo que conforta, que agrada e que entende como uma expressão de afeto.

“Eu sempre coloco para os alunos que o toque é uma questão super delicada”, conta. “Essa questão de ser respeitoso com o corpo do outro e com o próprio corpo, eu entendo que deve ser bastante discutida na sala de aula. Os alunos precisam falar quais são suas impressões, seus sentimentos quando estão sendo tocados ou quando estão tocando”, avalia.

Silvane também explica que o toque é um elemento vital para o desenvolvimento humano. Por meio deste sentido o indivíduo cria vínculos e também recebe informações e desenvolve percepções. No entanto, cada pessoa constrói, a partir da própria experiência, o seu limite em relação ao toque.

“Todo debate que fale de corpo, de afeto, de violência, de abuso precisa estar presente na escola. São temas da vida contemporânea. É extremamente importante compreendermos as relações corporais e discutir o que elas provocam em cada um de nós, o que elas provocam nos nossos estudantes”, reitera Silvane.

As relações dentro das escolas

No entanto, essa questão não está associada apenas à relação do professor com o aluno, mas também envolve o aluno com o professor ou professora e até mesmo os pais das crianças e jovens.

A diretora do Sinpro/RS conta que o Sindicato já recebeu casos onde professoras chegaram a ser perseguidas por estudantes que não entendiam os limites das relações dentro da sala de aula. Da mesma forma, pais que não compreendem o tratamento recebido pelas profissionais.

“No convívio com as professoras, alguns pais acabam confundindo uma relação profissional e acabam passando dos limites também”, explica.

De acordo com a professora Silvane, escolas e universidades ainda carecem desse debate nos seus currículos.

“A escola tem um receio bastante grande de colocar essas questões em pauta. Falar de toque é falar de modos de expressão, é falar de corpo. E o toque no corpo remete a questões de sexualidade, de eroticidade. Então, é muito difícil para a escola, pois isso é atravessado por crenças, valores, normas, aspectos religiosos e morais”, conclui a pesquisadora.

 

Douglas Glier Schütz é estagiário de jornalismo. Matéria elaborada com supervisão de Valéria Ochôa, editora-chefe.

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