EDUCAÇÃO

Pesquisa aponta por que os brasileiros abandonam a escola

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixarem de estudar é a gravidez; apenas 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estão matriculados em alguma instituição de ensino
Por César Fraga / Publicado em 26 de maio de 2023

Pesquisa aponta por que os brasileiros abandonam a escola

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

De acordo com a pesquisa Educação e Opinião Pública do Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) em todo o país, cada vez menos brasileiros concluem os estudos. Na avaliação dos pesquisadores, por um lado, as tecnologias têm provocado uma verdadeira revolução, com impactos diretos no mercado de trabalho e o mundo todo discute sobre aprendizado ao longo da vida, para requalificar e realocar os trabalhadores, mas o Brasil, por outro lado, ainda carece de desafios bastante básicos: os altos índices de evasão e a baixa escolaridade da população.

O levantamento do Sesi e do Senai mostra a dimensão de um problema que não é novo. Apenas 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estão matriculados em alguma instituição de ensino, com diferenças consideráveis por região, faixa etária e renda. A pesquisa ouviu 2 mil pessoas com mais de 16 anos nas 27 Unidades da Federação, tendo uma amostra representativa da população brasileira.

Estuda atualmente?

  • 15% dos brasileiros com mais de 16 anos estão matriculados em alguma instituição de ensino (ensino fundamental, ensino médio, técnico, superior e pós-graduação) – 53% entre os jovens de 16 a 24 anos;
  • Índice de quem está estudando é maior no Nordeste (18%) e menor no Sul (10%);
  • Índice maior na capital (17%) e menor em região metropolitana (9%);
  • Índice maior entre quem tem renda familiar acima de 5 SM (24%) e menor na de 1 até 2 SM (9%);
  • Entre os que estudam, só 16% estão no Ensino a Distância (EaD), índice que chega a 35% entre 41 e 59 anos. O EaD também está mais presente no Sul (24%) que no Nordeste (13%). 

Entre os que não estudam atualmente, apenas 38% alcançaram a escolaridade que desejavam e 57% não tiveram condições de continuar os estudos por diferentes motivos, sendo o principal deles precisar trabalhar para manter a família (47%).

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixarem de estudar é a gravidez ou nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez/filho é maior também entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.

“Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos que interromperam os estudos, e consequentemente sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.

Pesquisa elenca prioridades para o governo

A população reconhece que há uma lacuna no início da escolarização. A alfabetização tem a pior avaliação de qualidade: 47% dos entrevistados a consideram boa ou ótima e 20% ruim ou péssima – enquanto o ensino técnico, etapa mais bem avaliada, tem 58% de bom ou ótimo e só 8% de ruim ou péssimo.

A etapa de desenvolvimento da competência da leitura e escrita deve ocorrer entre o 1ª e o 2º ano do Ensino Fundamental, por volta dos 6 anos de idade. As dificuldades enfrentadas pelas famílias e pelos docentes para garantir que as crianças fossem alfabetizadas durante a pandemia pode ter contribuído para a avaliação negativa.

Tanto que a alfabetização aparece em primeiro lugar na lista das etapas que devem ser prioridade para o governo, apontada por quase um quarto (23%) dos brasileiros. As creches aparecem em 2º lugar nas prioridades, com 16%; o ensino médio em 3º, com 15%; e o ensino superior somente em 6º, com 6%. As entrevistas, realizadas pelo Instituto FSB Pesquisa, ocorreram em dezembro.

Avaliação da qualidade e prioridades variam de acordo com perfil

No geral, 23% avaliam a educação pública como ruim ou péssima e só 30% avaliam como ótima ou boa. Já a educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados. Quanto maior a renda e maior o nível de escolaridade, pior a avaliação da rede pública. Além disso, brasileiros com ensino superior dão nota mais alta para a importância do investimento em educação pelo poder público: 9 versus 8,4 na média nacional.

Para quem tem entre 16 e 24 anos, a prioridade do governo deve ser o ensino médio (25%); para os analfabetos/quem sabe ler e escrever são as creches (26%) e para quem tem ensino superior é a alfabetização (33%).

“A população tem uma clara percepção que nós temos deficiência nos anos iniciais, a alfabetização e as creches, que ainda têm problema de abrangência. O Brasil não conseguiu cumprir a agenda da educação no século XX como outros países. Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos problemas estruturais, de qualidade e na matriz educacional, que travam nosso desenvolvimento. Precisamos melhorar a qualidade e ampliar a oferta da educação profissional”, conclui Lucchesi.

Questionados sobre os fatores que contribuem para melhorar a qualidade do ensino, os brasileiros listam como prioridade: aumentar salário dos professores (23%), melhorar a capacitação dos professores (20%) e melhorar as condições das escolas (17%).

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