EDUCAÇÃO

Segregação racial nas escolas brasileiras é similar às dos Estados Unidos

Enquanto nos EUA segregação leva em conta desempenho em condições desiguais, no Brasil ocorre “ao acaso", segundo pesquisador de Stanford
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 17 de julho de 2023

Segregação racial nas escolas brasileiras é similar às dos Estados Unidos

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

A segregação racial nas escolas brasileiras é muito parecida à verificada nos Estados Unidos. Isto é o que aponta o sociólogo da Universidade de Stanford, Josh Leung-Gagné no estudo Classroom Segregation without Tracking: Chance, Legitimacy, and Myth in “Racial Paradise” (Segregação em sala de aula sem rastreamento: acaso, legitimidade e mito no “paraíso racial”) publicado no final de junho no Sage Journal, periódico acadêmica da Associação de Pesquisadores em Educação dos EUA (Aera).

Segundo Leung-Gagné, apesar de no Brasil os mecanismos de separação entre os alunos não serem explícitos como nos EUA que – mesmo após a grande luta por direitos civis na década de 1960 – continua tendo várias ações intencionais na divisão dos estudantes por turmas, o país que chegou a ter o termo democracia racial cunhado pelo médico e antropólogo Arthur Ramos e disseminada pelo sociólogo Gilberto Freyre em sua obra Casa Grande e Senzala termina reproduzindo dentro de suas escolas padrões de alta desigualdade racial.

Segregação ao acaso

Leung-Gagné em seu trabalho fez a comparação da distribuição por raça ou cor de estudantes brasileiros dos 5º e 9º anos do ensino fundamental com a situação verificada em colégios de ensino médio da Carolina do Norte, estado sulista americano que promove níveis de segregação altos.

O curioso nos resultados finais é que apesar de serem parecidos, o sociólogo identificou que os mecanismos que levam a esse quadro são distintos.

Enquanto na Carolina do Norte, assim como em outros estados americanos, a segregação racial acaba acontecendo pela separação das turmas a partir do desempenho acadêmico dos alunos, a prática é rara no Brasil.

Para Leung-Gagné, aqui a segregação racial ocorre “ao acaso”. Ainda assim, o sociólogo verificou em escolas brasileiras salas de aula onde a proporção de negros chegava a 70%, enquanto em outra não passava de 30%.

No entanto, na opinião do acadêmico de Sanford, o que é ocorrido “ao acaso” não significa que deva ser naturalizado.

Já que essa situação é facilmente observada no início do ano letivo, ele advoga que as escolas devam ter ações proativas para evitar que isso aconteça desde cedo.

Não é mérito

Leung-Gagné é crítico ao sistema de monitoramento americano. Para ele, o que poderia ser considerado critério de formação de turmas por mérito acaba sendo veladamente um jeito de perpetuar desigualdades.

Segundo o sociólogo, o principal fator de impacto no desempenho escolar é o nível socioeconômico das famílias.

Como na média os estudantes negros americanos são de famílias mais pobres, eles já entram no sistema em desvantagem que nada tem a ver com seu esforço.

Estudos nos EUA mostram ainda que critérios de professores para formação de turmas não são totalmente neutros.

Isto faz alunos negros, mesmo com igual desempenho em exames padronizados, tenham menos chances de serem classificados como aptos para integrar turmas mais avançadas.

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