Diretores querem mediar acordo entre chapas que brigam na Justiça pela Reitoria da Uergs
Foto: Igor Sperotto
Conciliação. Esta é a palavra de ordem que está na boca dos sete diretores regionais da Universidade do Estado do Rio Grande do Sul (Uergs) devido à judicialização das eleições na instituição, realizada há mais de 11 meses.
Os dirigentes das unidades da instituição no estado se mobilizaram para tentar resolver o impasse, já que desde o final do mandato do último reitor, em 2022, a universidade permanece sem a nomeação da nova reitoria devido à contestação do resultado das urnas.
A apuração inicial, logo após o pleito, deu a vitória à oposição, chapa 1, mas a contagem foi contestada na Justiça pela chapa 2, de situação, representada pelo ex-reitor.
Uma proposta de mediação em busca de solução para o impasse foi apresentada no dia 24 de agosto.
O objetivo seria uma conversa entre as diretorias regionais da Uergs e os integrantes das chapas 1 e 2 à reitoria da instituição, sugerida para o dia 31 de agosto.
Somente a chapa de oposição aceitou a data. Às vésperas de ser homologada, a chapa 2 solicitou outra oportunidade a ser definida.
Agora, após nova decisão judicial que suspendeu a homologação agendada no dia 1º de setembro e que obriga a universidade a analisar recursos antes de proclamar o resultado do processo eleitoral, o convite continua aberto, declaram os diretores regionais da Uergs.
Unidade
Em uma longa conversa por videoconferência com o Extra Classe, no dia 8 de setembro, os responsáveis pela administração das 24 Unidades Universitárias da Uergs em Porto Alegre e no interior do estado solicitaram que as falas não fossem atribuídas a um ou outro gestor, mas ao grupo. Somente um diretor não pode participar, por razões pessoais, da reunião virtual.
A proposta da entrevista on-line, feita pelos próprios diretores, foi evitar personalizações e dar o caráter de unidade que todos declaram necessitar neste momento após o processo ter sido judicializado e passar por três decisões que brigam entre si.
Segundo os diretores regionais, nessa situação que eles chamam de “crítica”, a única questão que não se descarta é a “pacificação da instituição”.
Referindo-se aos últimos acontecimentos que renderam inclusive a invasão da reunião do Conselho Universitário (Consun), no dia 28 de agosto, por apoiadores da situação, os dirigentes afirmam que não querem incentivar acirramentos entre colegas de chapas opostas, mas avançar em uma saída para o impasse.
Edital ambivalente
Na conversa com o Extra Classe, os diretores afirmam que em todo o processo “há dois vencedores e dois derrotados” e que não existem vilões em nenhum dos lados da disputa.
A gênese, para os diretores regionais, foi um Edital para as eleições da reitoria mal-escrito, que gera ambivalência e que fez as duas chapas se sentirem com legitimidade para acionar os meios judiciais.
Na realidade, segundo exposto na entrevista, os diretores regionais da Uergs entendem que o fato gerador de toda a confusão que toma conta da instituição vem sendo “empurrado com a barriga desde a primeira eleição direta”.
São documentos internos que “não conversam entre si” e que teriam sido até o momento contornados por acordos cordiais entre os concorrentes.
Um fato temido é que a disputa judicial entre as chapas se prolongue por um longo período, “vá desgastando e corrompendo o tecido que une a Uergs e, no final, se encerre com uma possível anulação do Edital.
Vias de fato
Outro grande temor manifestado pelos dirigentes regionais da Uergs é que o clima de acirramento que culminou, para eles, na invasão da reunião do Consun chegue ao interior onde, registram, até há posicionamentos diferentes, mas não um clima que ameaça ir “às vias de fato”.
No interior do estado é que a chapa de oposição apresentou ligeira vantagem. Uma declaração extraída na conversa é reveladora do clima que se instalou na instituição. “Se o movimento do interior resolve ir para a capital, se manifestar como foi feito na capital, a gente não sabe o que pode acontecer. Porque os ânimos estão acirrados. As pessoas não estão sabendo se postar”, manifestou um diretor.
Os dirigentes de unidades da universidade estadual entendem que a manifestação teve sua legitimidade e foi democrática, mas ressalvam que foram cometidos “excessos”.
Eles defendem, por exemplo, a atuação do Consun, instância da qual inclusive fazem parte, e a gestão do reitor interino, Fernando Guaragna, duramente questionada por um manifesto lido pela estudante Vitória Leonora Bolla Viegas.
Sobre a frente discente que Vitória diz representar, o consenso é que foi constituída durante a eleição do ano passado, que sempre teve um lado e que poucos alunos do interior a integram.
Para os diretores, o clima hoje na Uergs, muito mais do que a declaração de uma ou outra chapa como vencedora, é favorável à busca de uma solução para o impasse. E que alguém assuma a instituição. Eles finalizam a conversa reiterando que o impasse criado pela judicialização da eleição não paralisou a instituição, como muitos afirmam. “A Uergs continua com alunos apresentando seus trabalhos de conclusão e se formando”, sublinham.