Ataque a tiros em escola em SP deixa uma estudante morta e três feridos
Foto: Reprodução vídeo/YouTube
Foto: Reprodução vídeo/YouTube
Na manhã desta segunda-feira, um adolescente de 15 anos protagonizou um ataque a tiros na Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo. É o 11º ataque registrado só este ano. Pelo menos três estudantes foram atingidos e uma estudante foi morta, conforme a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
A Polícia Militar foi acionada e apreendeu o autor dos tiros e a arma utilizada.
A vítima que não resistiu, teria sido baleada na cabeça. Outras duas foram feridas no tórax e na clavícula. Um quarto aluno se machucou tentando fugir dos ataque. Os feridos estão sendo atendidos no Hospital Geral de Sapopemba.
O Governo de SP emitiu nota à 9h30min da manhã, logo depois ao episódio, em que se solidariza com as famílias das vítimas. “Nesse momento, a prioridade é o atendimento às vítimas e apoio psicológico aos alunos, profissionais da educação e familiares”, diz a nota.
A Secretaria de Segurança enfatizou também um alerta um alerta para evitar imitadores: “Neste momento de consternação pelo atentado na Escola Estadual Sapopemba, pedimos a atenção dos jornalistas para que não reproduzam vídeos do ataque, caso estes venham a circular na Internet. É de conhecimento geral que estes vídeos causam o chamado efeito contágio, estimulando novos episódios”.
Em seu perfil da rede social X (antigo Twitter), o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também expressou solidariedade às vítimas, famílias e à comunidade escolar. Segundo o ministro, “o Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça foi acionado para auxiliar a polícia de São Paulo a aprofundar as investigações”.
Bullying e homofobia
O jovem agressor de 16 anos informou à polícia que cometeu o ato para revidar o bullying e a homofobia que sofria. A informação foi confirmada por seu advogado.
De acordo com o advogado Antonio Edio, o rapaz não aguentava mais essa situação de homofobia que sofria na escola eresolveu pegar uma arma de fogo que estava na casa do pai dele. “A arma ele pegou escondido e sem a ciência do pai. Ele veio para a casa da mãe, sem que a mãe tivesse conhecimento. Cedo foi para escola e fez isso”, relatou.
As agressões teriam aumentado após ele usar roupas femininas. Inclusive, no mês de abril, a mãe dele chegou a registrar um Boletim de Ocorrência por conta dos ataques sofridos na escola.
O estudante também informou que não tinha como objetivo atingir a estudante morta, pois ela “não praticava bullying contra ele”.
Segundo colegas e pais de estudantes, ocorreram várias situações de confronto, inclusive físico e o rapaz já havia feito reiteradas ameaças de levar a cabo o atentado que por fim perpetrou.
Estudo da Unicamp será lançado em novembro
De acordo com dados da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), desde o início de 2023, somando o de hoje, foram registrados 11 ataques a escolas cometidos por estudantes e ex-estudantes em diferentes estados: RJ , AM, GO, CE, MS, PR, MG e quatro em SP.
O dado é de estudo em atualização realizado pela pesquisadora Telma Vinha (Unicamp) e equipe para o D3e e B3 Social. A nova versão do estudo deverá ser divulgada no início de novembro. O estudo com dados preliminares podem ser consultados neste link.
Ainda segundo a pesquisa, em 22 anos, foram computados 36 ataques a escolas, que resultaram em quatro mortes (o dado não inclui o ataque de hoje. Ao todo, 36 escolas foram atacadas no período.
Outro ponto de atenção: a soma não inclui o ataque à creche em Blumenau, em abril de 2023, pois ele não foi praticado por estudante ou ex-estudante.
Os dados foram apresentados na semana passada ao Jeduca pela professora da Unicamp Ana Maria Lopes, com base no estudo “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil: causas e caminhos, pesquisa derivada de relatório que será lançado sob o nome Dados para um Debate Democrático na Educação.
Conforme a pesquisadora, o Brasil tem assistido a um forte crescimento de ataques de violência extrema em escolas e de ameaças de novos eventos do gênero. “O relatório tem como objetivo trazer informações que contribuam para a compreensão desse fenômeno e traçar recomendações para políticas públicas”.
De acordo com a pesquisa, “define-se como violência extrema os ataques intencionalmente ocorridos no espaço escolar, caracterizados como crimes de ódio e/ou movidos por vingança (atos infracionais quando autores menores de 18 anos)”.
Caracterizam-se também pelo planejamento e emprego de algum(s) tipo(s) de arma(s) com a intenção de causar morte de uma ou mais pessoas. O relatório analisa o nível socioeconômico das 34 escolas atacadas entre 2001 e 2023; 44,1% delas são estaduais; 38,2% municipais e 17,6% particulares.
Ataques aumentaram a partir de 2022
Os ataques a escolas têm se tornado mais frequentes. Do total de ataques registrados desde que o primeiro aconteceu na Bahia em 2001, 57% ocorreram entre 2022 e 2023, segundo o levantamento. Nesses dois anos, foram registrados 20 ataques.
Um relatório sobre o tema, produzido por um grupo multidisciplinar de pesquisadores e entregue ao governo de transição no final do ano passado, computou 16 ataques a escolas efetivados entre 2002 e 2022. O documento também mostra que 34 ataques foram evitados entre 2012 e 2022 – desse total, 22 foram no ano passado. Catarina de Almeida Santos integrou a equipe de pesquisadores que elaboraram o documento.
Os dados sinalizam a intensificação desse tipo de ataque a escolas, o que é um ponto de atenção para a cobertura. Porém, é importante ir além dos números em si e buscar compreender mais a fundo o fenômeno.
Métodos aprendidos na internet
Conforme os estudos divulgados até agora, os agressores são jovens (10 a 25 anos) do sexo masculino. São vítimas de bullying na escola, possuem características de isolamento social e indícios que transtornos mentais não diagnosticados/acompanhados.
Eles se articulam em comunidades on-line onde há incentivo à violência, à misoginia que estão em plataformas de fácil acesso na internet.
Em geral, os ataques são planejados, adotam métodos aprendidos na internet, muitas vezes em comunidades de subcultura extremista. Muitos são aliciados nos chats de plataformas de jogos online, são levados para comunidades onde são apresentados às ideias de extrema direita.
A motivação, muitas vezes, é se vingar e mostrar o próprio valor, fazendo o maior número possível de vítimas. E a intenção é ser visto, ser reconhecido pelo ataque, então a visibilidade alcançada na mídia é um dos efeitos desejados pelos agressores. Geralmente, esta não é uma decisão aleatória, e sim planejada.
Perfil detalhado dos autores dos atentados:
- Jovens, sexo masculino e brancos, em isolamento social, gosto pela violência e culto às armas de fogo;
- Concepções e valores opressores (racismo, misoginia, ideais nazistas);
- Ausência de sentido de vida e perspectiva de futuro;
- Indícios de transtornos mentais;
- Busca por notoriedade – nos últimos anos, matando o máximo de pessoas;
- Percepção da escola como lugar de sofrimento;
- Usuários da subcultura extremista, consumindo conteúdos de ódio;
- Inspiração e admiração por autores de outros ataques
O relatório também lista algumas recomendações para prevenir ataques
- Controle rigoroso de armas de fogo e munições.
- Maior regulação e responsabilização das plataformas digitais.
- Políticas públicas direcionadas às escolas com foco na convivência democrática e cidadã.
- Investimentos na expansão e fortalecimento à rede de atendimento psicossocial.
- Ampliação dos espaços na comunidade para lazer, socialização, esportes e cultura.
- Responsabilização de quem compartilha vídeos dos ataques e informações dos autores.
- Adoção de programas que auxiliem jovens na desradicalização e reintegração à sociedade.
- Integração dos ataques de violência extrema à legislação de Situações de Emergência.
- Construção de protocolos adequados à realidade brasileira para atuar após os ataques.
- Criação de um sistema integrado de dados sobre esse tipo de violência