EDUCAÇÃO

Brigadiana é denunciada por intimidação em outra escola de Porto Alegre

Caso da Escola Brasília: vice-diretor que assinou manifesto em solidariedade à professora vítima de suposto abuso de autoridade recebe visita policial intimidatória
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 15 de outubro de 2024
Brigadiana é denunciada por intimidação em outra escola de Porto Alegre

Foto: Reprodução/Redes sociais

De acordo com o vice-diretor da escola, trata-se de uma retaliação ao documento assinado por 106 escolas em solidariedade à professora que foi conduzida contra sua vontade até a Deca

Foto: Reprodução/Redes sociais

No último dia 10 de outubro, o vice-diretor do turno da noite do Colégio Estadual Cândido José de Godoy, o professor Mário Antônio da Silva, encaminhou um Pedido de Averiguação de Conduta a diversas autoridades do estado do Rio Grande do Sul após aquilo que define como sendo “uma coisa completamente inusitada”. Trata-se da visita de uma brigadiana fardada à escola em que atua no bairro Navegantes, em Porto Alegre. Na frente de colegas do vice-diretor, a militar (conhecida como soldado Lima) teria registrado uma ocorrência, afirmando que Mário a havia acusado de um crime que ela não teria cometido.

No início de setembro Mário assinou com outros 106 diretores um manifesto denunciando para as secretarias de estado da Educação (Seduc) e Segurança Pública (SSP) episódio que resultou na retirada de sala de aula e condução de forma coercitiva de uma professora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Brasília, também do bairro Navegantes, à Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) no final de agosto. Leia matéria

A ação foi protagonizadas por agentes da Ronda Escolar do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM) da capital no final de agosto. Na ocasião. os PMs, entre eles a soldado Lima, atendiam um pai – colega da PM  – que alegava (sem provas nem flagrante de delito) maus tratos à filha que estudava na escola Brasília.

“Assunto meio chato”

Mario explica que Lima e seu colega de farda, o soldado Spencer, teriam estacionado a viatura da Ronda Escolar na frente do colégio. A policial, ao encontrar o diretor do Cândido José de Godoy, falou em voz baixa que precisava conversar com ele sobre “um assunto meio chato” e informou que a escola estava citada num Inquérito Policial Militar.

Após alguns minutos com a militar na sala, o diretor convocou Mário e outro vice-diretor para entrar com o Livro de Atas do colégio para registro dos fatos.

“Estando todos nós na sala do diretor e agora também o soldado Spencer, a soldado Lima começou a falar sobre do que realmente se tratava sua vinda até a escola. Logo que começou a falar, o soldado Spencer retirou-se da sala e não retornou mais, não tendo acompanhado a conversa. A soldado Lima passou questionar-me ao mesmo tempo que fazia em seu celular uma ocorrência, enquanto eu registrava a ata”, narra Silva no documento que encaminhou à secretária de Educação do estado, Raquel Teixeira, ao Ministério Público (MP), à Corregedoria da Brigada Militar e ao Comandante-Geral da Brigada Militar.

 Se ficar quieto, tomam conta

Na denúncia, o vice-diretor diz ainda que está emocionalmente abalado e sem entender do porquê da abordagem. “Se fui o único entre 107 a ser abordado quero esclarecimentos, pois no caso me sentirei perseguido por esta autoridade policial”, descreve.

Mário faz questão de evidenciar que tem 24 anos de serviço público e que nunca em sua vida passou por situação semelhante. Ele ainda ficou surpreendido em ser inquirido por uma pessoa que, a princípio, parece estar sob investigação e com uma série de informações de um inquérito que acredita transitar em sigilo.

Ele ainda registra que a brigadiana afirmou que a atitude tomada por quem assinou o manifesto em defesa da escola Brasília seria incoerente porque repele a presença de policiais na escola. Assim, continua o professor, todos seriam passíveis de ter suas solicitações junto à Ronda Escolar recusadas pelos comandantes.

Ao Extra Classe, Silva declarou que se sentiu obrigado a buscar o que é seu direito e o correto para a educação. “Não vou deixar quieto. Se a gente não faz nada, tomam conta. Polícia não é poder, polícia é serviço e não pode ser usada para intimidar, constranger, criar embaraços em benefício próprio”, conclui.

O Extra Classe acompanha o caso. Acesse os links nos títulos para ler as matérias anteriores:

Abuso de autoridade de policiais em escola de Porto Alegre gera crise

Condução de professora à delegacia por brigadianos pode ter sido ilegal

Testemunhas de coação da BM contra professora começam a ser ouvidas

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