Ministros do STF devem receber grevistas
Foto: Adilvane Spezzia/ MPA Divulgação
Nesta quarta-feira, 22, em que completa 23 dias a greve de fome que está sendo realizada em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de sensibilizar os ministros da corte a votarem a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 54, contra a prisão de condenados em Segunda Instância, os grevistas deverão ser recebidos nesta tarde pela ministra Rosa Weber e pelo ministro Luís Barroso. A audiência com os ministros terá uma comitiva formada pelo Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves, ambos do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Luiz Gonzaga, o Gegê, da Central dos Movimentos Populares (CMP); e Jaime Amorim, Zonália Santos e Vilmar Pacífico, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); além de Leonardo Soares, do Levante Popular da Juventude.
Durante ato público realizado na terça-feira, 21, em solidariedade aos grevistas Zonália Santos, 48 anos, assentada da reforma agrária em Rondônia, sofreu um desmaio. Além dos médicos que dão suporte ao movimento, o incidente acabou mobilizando paramédicos do Samu, que levaram a ativista para um hospital da rede pública de Brasília, de onde só foi liberada à noite. É a segunda vez que Zonália passa mal e é conduzida a um pronto-socorro.
Os médicos alertaram para os riscos da privação de alimentos por mais de 20 dias em média. Apesar disso Zonália e os seis demais integrantes do movimento em frente ao STF seguem irredutíveis e prometem ir até às últimas consequências. Dirigentes ligados às organizações dos militantes mostraram-se revoltados com a insensibilidade dos ministros do Supremo, que até o momento em sua maior parte resistem inclusive em receber os grevistas para que comuniquem suas pautas. Até o momento, só os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski receberam os manifestantes. A presidente da corte, Carmen Lúcia, em audiência ao prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e ao ator Osmar Prado firmou o compromisso de receber os militantes, mas até o momento não abriu espaço na agenda.
Foto: Adilvane Spezzia/ MPA/ Divulgação
Segundo o médico Ronald Wolff, Zonália apresentou uma hipotensão postural bastante acentuada, foi acometida por uma síncope e perdeu os sentidos. “Colocamos ela ao chão, elevamos as pernas e passamos a fazer manobras para que recuperasse os sentidos”, acrescentou. De acordo com Wolff que integra a Rede de Médicos e Médicas Populares a grevista estava com o pulso filiforme (fraco), pouco propulsivo, mas com o atendimento da equipe de apoio foi retomando os sentidos até que chegasse a ambulância. “Quando chegaram ela já havia acordado, conseguimos pegar um acesso venoso, colocar soro e ela reagiu relativamente bem, então foi conduzida de ambulância para o hospital”.
INSENSIBILIDADE – “A culpa dessa situação é do Supremo Tribunal Federal, que não demonstrou até agora um mínimo sinal de sensibilidade para com estes companheiros e companheiras que estão há 22 dias esperando dolorosamente para serem recebidos por um ministro, por uma ministra” desabafou ontem Maria Kazé, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Para Maria, os ministros que simbolicamente representam o terceiro poder do país tem renegado constantemente a sua obrigação de guardar, respeitar e defender a Constituição Federal.
“Isso além e ser um desrespeito político com estes trabalhadores, que representam o povo brasileiro é um ato desumano”, acrescentou a líder do MPA. “A Ministra Cármen Lúcia presenciar na frente do STF um fato como esse que aconteceu aqui é de indignar qualquer cidadão, qualquer brasileiro”, concluiu. Os demais dirigentes que se manifestaram no ato fizeram coro a Kazé, apelando ao Supremo que tenha sensibilidade, acolha os grevistas, ouça suas reivindicações e deem uma resposta ao povo brasileiro, que é quem os observa neste momento.
Após receber atendimento médico no Hospital Regional Asa Norte, Zonália retornou ao Centro Cultural de Brasília, onde permanece em repouso e segue sob observação da Equipe de Saúde da Greve de Fome.