Orgânicos, diversão e arte
Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação
As prateleiras lotadas evidenciam a diversidade da produção de alimentos nos assentamentos e das empresas parceiras, que oferecem legumes, frutas e verduras frescas, mel, leite, arroz, feijão, achocolatados, pães, cereais, embutidos. As paredes dos armazéns são espaço para a exibição de pinturas de artistas populares que assinalam, para além da comercialização dos produtos da reforma agrária, esse é um espaço para a promoção de atividades culturais como lançamento de livros, debates, oficinas. E comida saudável. “A esquerda precisa recuperar formas mais alegres e culturais de fazer política. O povo quer música, teatro, trabalho, comida, renda”, explica João Pedro Stédile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
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Armazém do Campo do Rio de Janeiro foi inaugurado em setembro, na Lapa, com arroz de carreteiro e ato à memória da vereadora Marielle Franco (PSol). A estratégia consiste em atrair a parcela da sociedade que prefere produtos orgânicos, produzidos a partir de princípios de sustentabilidade e associa a alimentação saudável ao contexto de resistência social. Além de Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, outras quatro cidades terão lojas do Armazém do Campo, com inauguração prevista até março de 2019: Recife (PE), São Luís (MA), Teixeira de Freitas (BA) e Bauru (SP). “São espaços para a comercialização dos produtos da reforma agrária, promoção da alimentação saudável, da cultura, do debate e do diálogo com a sociedade”, define Carla Guindani, coordenadora de produção e gerente de comercialização do MST.Os espaços fixos para comercialização dos produtos da reforma agrária fora das feiras agroecológicas surgiram a partir da Loja da Reforma Agrária no Mercado Público de Porto Alegre, inaugurada em janeiro de 2002. Já com a marca Armazém do Campo, o primeiro espaço foi aberto em julho de 2016, na região central de São Paulo.
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Outras duas lojas foram inauguradas em 2018, em Belo Horizonte, no começo de abril, e na Lapa, Rio de Janeiro, em setembro. Na programação de abertura da unidade do Rio, o almoço foi um arroz carreteiro preparado por Stédile, que recordou as carreteadas do avô entre Antônio Prado, no Rio Grande do Sul e Sorocaba, em São Paulo, transportando carnes e mercadorias. “Essa loja é fruto da luta pela terra que norteia o MST. A partir dela, os trabalhadores urbanos têm contato com a produção que resulta da luta no campo. O Armazém cumpre o objetivo de proporcionar o acesso à produção dos assentamentos da reforma agrária, também de fazer o diálogo em torno da alimentação saudável, além de ser espaço das manifestações culturais. Com as diversas atrações que teremos, as pessoas podem se encontrar aqui e ocupar esse ambiente. É uma loja de todos nós, trabalhadores. Queremos que seja construída no dia a dia”, explicou Ademar Suptitz, coordenador do Armazém do Campo.
PRODUÇÃO – Os agricultores familiares e assentados da reforma agrária são os dois principais grupos responsáveis pelo aumento da produção de alimentos orgânicos no país, modo de produção que aumentou a área plantada duas vezes e meia nos últimos oito anos e vem agregando cerca de duas mil propriedades por ano. A Coordenação de Agroecologia (Coagre) da Secretaria de
Foto: MST/ Divulgação
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Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) registrou 17.420 unidades voltadas para a produção agroecológica em 2018, ante 15,7 mil unidades em 2017 e 6,7 mil em 2013.
Do total de produtores registrados no Cadastro Nacional de Agricultores Orgânicos (CNPO) em 2018, 80% são classificados como produtores familiares, a maioria agricultores dos assentamentos da reforma agrária. “Os assentados da reforma agrária são os maiores incentivadores da produção orgânica, que se caracteriza pelo cultivo de alimentos com qualidade e preços acessíveis”, avalia a especialista em políticas públicas e gestão governamental da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) Suiá Rocha.
Identificado com a agricultura familiar, o MST já é o maior produtor de orgânicos do país em culturas como a do arroz sem agrotóxicos nos assentamentos do RS. Na safra de 2017/2018, a colheita atingiu 27 mil toneladas.
Para a safra 2018/2019, a meta das famílias é colher pelo menos 320 mil sacas de grãos de arroz orgânico, numa área de cerca de 3,3 mil hectares e em 16 assentamentos situados em 13 municípios das regiões Metropolitana de Porto Alegre, Carbonífera, Campanha e Fronteira Oeste. Já a estimativa para sementes é colher 12 mil sacas em 110 hectares.