EDUCAÇÃO

Os desafios do uso das mídias em sala de aula

Congresso Internacional de Comunicação e Educação constata que é hora de reforçar códigos de ética e uso responsável das mídias, proteger dados pessoais e combater a desinformação
Por Clarinha Glock / Publicado em 11 de dezembro de 2018

Foto: Clara Glock

As jovens Nataly Mendes, 13 anos; Bianca Barcellos, 14, Marina Raniere, 14, e Naira Rivelli, 14, estudantes de SP, estão envolvidas com a elaboração de programas de rádio e vídeo na escola, sabem a importância da Educomunicação. “Creio que seja a fonte maior de aprendizado para mudar o mundo, olhar para as coisas de forma diferente e entender o que vemos a nossa volta”, resumiu Naira.

Foto: Clara Glock

Vinte anos se passaram entre o 1º Congresso Internacional de Comunicação e Educação e o 2º Congresso, realizados pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (USP), sedimentando o enlace entre estas duas áreas do saber. O mais recente, em novembro de 2018, foi marcado por constatações: a educomunicação deve estar inserida nas políticas públicas e currículos; e, com a chegada de computadores e outras tecnologias às escolas, é hora de reforçar códigos de ética e uso responsável das mídias, proteger dados pessoais e combater a desinformação.

Em São Paulo, o colégio particular Dante Alighieri e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Casa Blanca reuniram neste ano seus estudantes para discutir como se envolveriam nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Os jovens assinaram um documento dizendo: “Eu me comprometo a, em 2030, ter desenvolvido tais ações…” A ideia, diz o professor Ismar de Oliveira Soares, é que a criança planeje sua relação de comunicação com o mundo na busca de soluções para os grandes problemas mundiais, saindo da individual para o coletivo. “Essa perspectiva é educativa e comunicativa. Daí o conceito e a prática da educomunicação”, observa Soares, professor da ECA/USP e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em educomunicação (APBEducom).

A educomunicação pode assumir outros nomes, como Educação para Mídia ou Alfabetização Midiática e Informacional (Media and Information Literacy), mas o princípio é: não basta ter acesso à tecnologia. Professores e estudantes devem se envolver no processo de construção do conhecimento, discutir as implicações ética e responsabilidade das mídias no espaço escolar e na relação com o entorno. “A interface Comunicação e Educação tem raízes na América Latina na metade do século XX, quando a sociedade marginalizada e os movimentos sociais lutavam por meios de expressão, a Comunicação Alternativa. Ao mesmo tempo se difundia pelo continente, a partir do pensamento de Paulo Freire, a Educação Popular”, conta Soares. O objetivo era colocar para a sociedade temas que a grande mídia desconsiderava e a educação não levava em conta, como meio ambiente, democracia, questões étnicas, raciais, de gênero.

Foto: Clara Glock

Soares: “As pessoas se apoderaram da mídia por um aprendizado intuitivo, com a perspectiva imediata de se sentirem autoras. As fake news são produto da abundância de canais, sem o necessário compromisso social para o seu uso”.

Foto: Clara Glock

Em 2001, o Núcleo de Comunicação e Educação da USP recebeu o convite da rede pública municipal de São Paulo para ajudar a resolver o problema da violência nas escolas. “O sucesso da experiência se deve ao fato de que não foi dado um curso para professores, porém desenvolvidas experiências de práxis educomunicativas, com diálogo envolvendo professores, alunos e membros das comunidades escolares de 455 escolas”, recorda Soares. Sete administrações públicas depois, a educomunicação segue inserida na rede de São Paulo desde o Ensino Infantil até o Fundamental.

A experiência da prática

Em outras escolas públicas e privadas, multiplicam-se projetos de educomunicação. A rede das Irmãs Salesianas – Inspetoria das Filhas de Maria Auxiliadora, por exemplo, inseriu o conceito como referência de prática pedagógica em cinco continentes. “O que nos levou à educomunicação foi a proximidade com a proposta do ensino preventivo”, disse a Irmã Márcia Koffermann, durante o Congresso. Nos últimos 20 anos, 350 teses de Mestrado e Doutorado retratando experiências educomunicativas foram defendidas em 92 centros de pós-graduação. A Universidade Federal de Campina Grande (PB) lançou o Bacharelado em educomunicação e a Escola de Comunicações e de Artes da USP criou a Licenciatura em ducomunicação. No Rio grande do Sul, há experiências em universidades e escolas.

Se antigamente a educomunicação lutava pela expansão das oportunidades de comunicação, hoje discute como inserir a responsabilidade no uso de tecnologias na formação desde a infância. “As pessoas se apoderaram da mídia por um aprendizado intuitivo, com a perspectiva imediata de se sentirem autoras. As fake news são produto da abundância de canais, sem o necessário compromisso social para o seu uso”, explica Soares.

As jovens Nataly Mendes, 13 anos; Bianca Barcellos, 14, Marina Raniere, 14, e Naira Rivelli, 14, estudantes de SP, deram palestra e participaram da cobertura midiática do Congresso. Envolvidas com a elaboração de programas de rádio e vídeo na escola, sabem a importância da Educomunicação. “Creio que seja a fonte maior de aprendizado para mudar o mundo, olhar para as coisas de forma diferente e entender o que vemos a nossa volta”, resumiu Naira.

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