O ano era 1983. O local, o Salão de Atos da UFRGS. Na hora “H”, a boca secou, o corpo tremeu e as gotas de suor foram brotando da testa. “E agora, o que faço?”, perguntou o estudante, apavorado, entre poções para gargarejo e pastilhas para a garganta. Era nervosismo típico de estréia. Tanto que bastaram alguns acordes e o apoio do público para que a rouquidão desse lugar à voz grave e potente do cantor Paulo Gaiger.
Esta lembrança, do início da carreira, está registrada no encarte que acompanha o CD Armazém, lançado no ano passado. O disco, uma produção independente, é o primeiro do artista em 15 anos de estrada. Num repertório marcado pela diversidade, Gaiger vai do romântico ao panfletário, em composições próprias, de autores gaúchos e de estrelas da MPB.
Músico autodidata, aprendeu a tocar violão nos anos 70, quando freqüentava as reuniões do Centro de Treinamento para a Ação (Cepa), uma facção de esquerda da Igreja Católica. As letras de Geraldo Vandré, Chico Buarque e Milton Nascimento, recheadas de mensagens políticas, eram as mais pedidas pelos companheiros. Por causa dessa atividade, Gaiger foi convidado para dar aulas de Educação Religiosa no Colégio Champagnat.
Formado em Artes Cênicas pela UFRGS, desde o início dos anos 90 vêm reunindo música e teatro nos espetáculos que dirige. Em “A Paixão dos Mendigos”, colocou 30 atores-cantores no palco. Porém, o sonho de viver exclusivamente da arte ainda está distante. Em 1995, Gaiger espalhou seu currículo por todas as escolas particulares de Porto Alegre, mas nenhuma se interessou.
Num golpe de sorte, acabou sendo contratado para trabalhar no curso de Arte Dramática da Universidade Regional de Blumenau (Furb), em Santa Catarina. A chance apareceu através de uma amiga do Colégio Americano, irmã de uma professora da Furb. “Ela me ligou, pedindo autorização para mandar meu currículo pra eles, e deu certo”, recorda. Deu tão certo, que além das aulas na graduação, assumiu outros projetos da universidade.
Um deles foi a direção do grupo Phoenix de Teatro, considerado o melhor do estado de Santa Catarina. Nos últimos dois anos e meio, os compromissos simultâneos em Blumenau e Porto Alegre obrigaram Gaiger a uma maratona. Duas vezes por semana, ele percorria de ônibus os 600 quilômetros, ou nove horas, que separam as duas cidades.
O jeito foi relaxar e cuidar da forma física. Aos 38 anos, sempre que dá tempo, o pai de Carolina, 16, calça um par de tênis e corre alguns quilômetros. Para quem conquistou o quinto lugar no Campeonato Estadual de Triatlo (rústica, natação e ciclismo), em 1994, é apenas um “aquecimento”.
Tanta correria, afinal, valeu a pena. De volta a cidade, este ano Gaiger vai unir esporte, música e teatro em vários projetos. Em março, inicia o Mestrado em Ciências do Movimento, na ESEF-UFRGS, e vai lecionar no Departamento de Arte Dramática (DAD) do Instituto de Artes. Enquanto isso, começa a preparar o segundo CD.
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