GERAL

Poeta e agitador

Luiz Carlos Barbosa / Publicado em 2 de maio de 1998

Quem ouve a fala pausada e didática de Landro Oviedo presume que ele é professor. Mais educa.jpg (8895 bytes)algumas palavras e percebe-se que o especialista em Língua Portuguesa e História Rio-grandense, formado em Letras pela Faculdade Porto-alegrense (FAPA), em 1988, também leciona Literatura Brasileira. Surpresa é que este tipo calmo e organizado, aos 35 anos, tem uma longa trajetória de agitador cultural, contemporâneo e protagonista de episódios significativos no meio artístico e político do Rio Grande do Sul.

“Orgulho-me de ter participado da fundação da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre”, reconhece Oviedo, que, junto com o falecido professor e historiador Joaquim José Felizardo e o livreiro e escritor Arnaldo Campos, no início dos anos 80, inauguraram o que hoje é uma das referências da prefeitura de Porto Alegre. Assessor na primeira gestão da SMC, lançou cursos livres e debates literários que agora integram a rotina da secretaria. Contribuiu também para estabelecer os critérios de ocupação dos teatros municipais e no projeto do vereador Lauro Haggemann para a instalação de salas de teatro e cinema nos shopping centers do município.

O poeta – autor de “Cantos e acalantos”, de 1983 – nascido em Itaqui e formado em Redação no 2? grau, em Passo Fundo, ainda incursionou pelo jornalismo como articulista de O Nacional, de Passo Fundo, e colaborador da imprensa sindical nas entidades dos Bancários e Comerciários de Porto Alegre. Periodicamente escreve sobre cultura e política numa coluna do jornal “Nossa Época”, de sua Itaqui.

Na imprensa, Landro Oviedo tem o espaço de reflexão do militante do movimento estudantil e das Diretas Já, que trabalhou pela organização do Partido dos Trabalhadores em 1981 e 1982. “Gosto das causas desafiadoras e da gestação de processos”, revela o professor das escolas Santa Rosa de Lima e Saint Exupery. Nos últimos oito anos tem trabalhado de maneira intermitente na Revisão do Correio do Povo. No início dos anos 90, envolveu-se na organização do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), tornando-se assessor do vereador José Alvarenga e participando de projetos que culmiram em leis. Caso da adoção de portas de segurança na rede bancária e da homenagem póstuma ao professor e sociólogo Élbio Francisco Gonçalves Rodrigues – ex-dirigente do Sinpro/RS e fundador do PT – atribuindo seu nome a uma rua no bairro Jardim Itú-Sabará.

Oviedo compatibiliza profissão e a militância na política e na cultura. O integrante da Casa do Poeta Rio-grandense é, a um só tempo, delegado sindical na Escola Santa Rosa de Lima e conselheiro da Associação Cultural José Martí, que promove a integração cultural entre Brasil e Cuba. Enquanto dedica-se a cursos preparatórios ao vestibular e a concursos, ainda dispôs de energia para produzir e apresentar o Programa Cultural da Casa do Poeta na Rádio Educadora, em 96 e 97. E não abre mão da poesia. Este ano o autor de “Para apreender a te amar”, de 1988, pretende lançar uma antologia poética, que será o quinto livro publicado por ele mesmo. Este ano ele editou um didático, “Curso Básico de Português”, e no ano passado “Momentos Literários do Brasil”. Para ele, a auto-edição significa maior autonomia e uma relação profissional mais interessante.

O poeta de temas urbanos, existenciais, amorosos, revela uma faceta mais telúrica na relação com a música. É parceiro de inspiração nativista e latino-americana com Jorge Guedes, Luiz Bastos, Martin Coplas, César Pirelli, Beto Caetano, Márcio Ferreira. E sempre emerge o agitador cultural. Afinal, foi ele o produtor de shows como “Amor nos tempos do Cólera”, de Martin Coplas, e “Sempre, sempre MPB”, de Ita Arnold.

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