GERAL

“O professor do mel”

Dóris Fialcoff / Publicado em 2 de julho de 1998

Ideraldo Cândido Velho nasceu e foi criado no interior do Rio Grande do Sul, em um sítio próximo a Bom Jesus, a 250 quilômetros da capital gaúcha. Ele não só se criou no meio rural, como os seus primeiros anos de escolaridade foram em escola rural. Ele acredita que vem daí o fato de gostar de animais. Mas, o fascínio mesmo era pelas abelhas. Sempre que podia, acompanhava os adultos que iam tirar mel. Quando sua família foi morar na cidade de Bom Jesus, nas férias da escola, ele corria para o sítio para continuar aprendendo sobre as abelhas.

Em 1980, Ideraldo mudou-se para Porto Alegre, e fez sua formação acadêmica em Sociologia e também um curso de apicultura. Optou profissionalmente pelo magistério — ensina geo-grafia e história —, casou-se, nasceu o filho Ramiro, hoje com 11 anos, e formou um apiário.

Para cuidar das suas 15 caixas de abelhas no sítio que mantém, o professor viaja para lá, no mínimo, uma vez por mês: “eu gosto, para recarregar as baterias”. E ele não tem dúvidas: nas férias é apenas uma semana na praia e o resto no sítio, pois quer dar um melhor atendimento às abelhas.

Ideraldo avalia que, por enquanto, a produção do seu apiário é pequena, cerca de 400 quilos por ano. Então, não a coloca em estabelecimentos comerciais, a não ser no minimercado de um amigo. Ele comercializa informalmente: “os colegas e amigos já são clientes regulares”, comemora, brincando que na escola é conhecido como o professor do mel. Mas, existem planos: está aumentando sua propriedade e também quer fazer o mesmo com o apiário, embora “não muito, porque não teria condições de cuidar”, admite zeloso.

Quando Ideraldo fez o curso de apicultura, desejava poder realizar o que chama de uma apicultura mais racional: “para ter um entendimento da anatomia da abelha, como ela reage e para ter uma aproveitamento maior”, explica. O professor divide esse conhecimento com os vizinhos que também produzem mel, dando-lhes uma assistência na parte técnica. “Nós trocamos idéias e eu levo material da Associação de Apicultores, que lá eles não têm”, detalha Ideraldo.

Não é novidade que são atribuídas muitas qualidades ao mel, inclusive a de que é medicinal. Mas Ideraldo entende que é “um alimento natural e auxilia bastante na saúde”. O que tem muita lógica, afinal, um organismo bem alimentado possibilita melhores condições de defesa contra os males.

Em meio a uma verdadeira aula sobre apicultura, o professor revela algumas receitas simples e preciosas: “tomar uma colher de mel em um copo de água antes de dormir, é bom para relaxar um pouco”, exemplifica Ideraldo.

Tanto a esposa Márcia, como o filho Ramiro, dizem não ter medo das abelhas, mas isso é porque Ideraldo sempre tomou todos os cuidados necessários. Ele fala com tranqüilidade em relação a isso, mas adverte que essa segurança é imprescindível para evitar acidentes.

O professor e apicultor confidencia que se sente feliz por proporcionar um alimento puro para as pessoas e para si mesmo. Sobre as abelhas, fala com tanta admiração que considera sua sociedade inspiradora. “Eu acho que é um bichinho sagrado, pelo que produzem”, se emociona.

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