GERAL

Cartas

Publicado em 25 de agosto de 1999

Prezado editor :

A matéria “Música para rebolar”, da jornalista Stela Máris Valenzuela (Extra Classe número 33), estabeleceu uma visão dicotômica da música do Rio Grande do Sul. No conjunto de sua matéria, há uma subjacente indução à visão de que as posições apresentadas, as dos tradicionalistas metegeanos e as dos tchês isto-e-aquilo, polarizam o contexto musical do estado. Quem conhece a isenção da jornalista, e eu conheço, sabe que ela tentou fazer um texto de registro. Não conseguiu.

Salta aos olhos que os “Tchês” são apresentados como modernos, progressistas, e os tradicionalistas, tal qual o próprio nome indica, como conservadores. Como ilustração, aí vai um parágrafo do texto: “Inconformado com a criatividade (grifo nosso) da moçada, o MTG decidiu no 44º Congresso Tradicionalista Gaúcho de Passo Fundo recomendar aos CTGs para contratarem somente os conjuntos com efetivo comprometimento com os parâmetros do movimento, ou seja, que toquem ritmos e temas autênticos. A proposição veio a público em 15 de janeiro deste ano.”

Essa criatividade é totalmente discutível. São músicas e letras primárias o que eles têm a apresentar. Suas composições apresentam imprecisões sobre as coisas do mundo pastoril a que eles se propõem representar, além de erros crassos de linguagem, seja de português, seja do dialeto gaúcho.

Para algum desavisado, como o MTG os tomou por desafeto, pode parecer que, por serem questionados por interlocutores historicamente comprometidos com as elites e com a manutenção do status quo, estes “Tchês” sejam dignos de credibilidade. Nada mais falso. Eles representam o atraso travestido de interesse comercial. (…) Considerando-se que esta carta rechaça uma visão de que essas variantes sejam o conjunto da expressão musical da Província, cabe perguntar, então, no universo da música regional, o que mais existe.

A isso respondemos indicando a música missioneira, estigmatizada, combatida, discriminada, mas de uma profunda resposta ao universo dos deserdados. (…) Por ser um canto de protesto, por refletir o universo do peão e do indígena historicamente explorado, é verdadeira música que pode se opor ao conservadorismo musical das elites. (…)

A temática do gaúcho é muito ampla e, paradoxalmente, mesmo num tempo de globalização e de urbanidade sem precedentes, continua ostentando sua atualidade. (…) O que não é natural é não dar nomes aos bois. O que é bom é bom, o que é ruim é ruim. E no andar da carroça se ajeitam as melancias.

Landro Oviedo, professor

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