O ovo e a galinha
O professor Wilson Cano lança até o final do ano um volume de ensaios sobre o neoliberalismo na América Latina. Com uma conclusão tão desafiadora quanto surpreendente para uma modalidade econômica que grassou entre nós quase sem oposição: não há mais como sustentar esse modelo de expansão. A conclusão se baseia numa constatação simples. Como o sucesso das políticas expansionistas vinculadas à moeda dependem do fluxo de capital externo, ele teria de ser permanente e crescente ao longo do tempo. Não é o que acontece. Cano mostra que crescimento dos países latino-americanos foi débil e descontínuo nos últimos dez anos. E não foi isso que impediu o fluxo de capitais, mas justamente o contrário. Nos períodos de crescimento, as importações -motivadas pela euforia da expansão – acabaram desequilibrando as transações correntes e inviabilizando qualquer possibilidade de desenvolvimento sustentado. É como a história de quem vem primeiro, ovo ou a galinha. Nesse caso, perdem-se capitais porque desequilibram-as contas públicas ou o contrário?
O ovo e a galinha, parte 2
rLonge de estarmos descolados da fatídica década de 80, aquela dos anos perdidos, estamos é vivendo o acirramento do modelo concentrador implantado pelo Consenso de Washington em 1979. É o professor Wilson Cano quem diz: “Na década de 80 ocorre uma convergência crescente. Observa-se em toda a América Latina um debilitamento fiscal, financeiro e da capacidade de arbitramento da política pelo Estado nacional”. Os anos 90 não passariam, na visão de Cano, de um ajuste de contas na periferia do sistema capitalista (nós) com a implantação das políticas de modernização das estruturas econômicas. “O discurso ideológico utilizado foi que agora chegara a hora da periferia modernizar-se, igualando-se ao Primeiro Mundo”, diz. A peça-chave para isso seria expor o aparelho produtivo nacional à concorrência internacional.
O ovo e a galinha, parte 3
A conclusão não é difícil de estabelecer. O modelo adotado permite o crescimento (em vários casos a taxas altas), mas até o ponto em que suas possibilidades agüentem, sejam as internas (inflação, crise fiscal, crise política) ou as externas: ataques especulativos, dificuldades de financiamento externo, queda da cotação internacional de produtos essenciais, como cobre (Chile) e petróleo (Colômbia, México e Venezuela). A saída é sempre uma recessão, com desemprego, agravamento da questão social e endividamento. A análise é imperdível. O livro de Cano deve sair até dezembro, pela Editora Vozes.
Conselho é barrado no Província
Na segunda quinzena do mês de outubro ocorreu um fato inédito na história do Conselho Estadual de Educação (CEEd). De acordo com a presidente Líbia Aquino, uma comissão foi designada para fazer uma visita no Colégio Província de São Pedro. Objetivo: apurar uma denúncia de que a escola não possuía biblioteca. Sabe-se que esse é um dos requisitos para o funcionamento de uma escola, seja privada ou pública, bem como a existência de laboratórios para que esteja habilitada a atender os níveis fundamental e médio. Mas qual a surpresa da comissão ao chegar à escola? A diretora impediu a entrada dos membros do Conselho para que realizassem a vistoria, sob a alegação de que precisaria ser avisada com antecedência para poder preparar o ambiente. Atitude que pode ser considerada no mínimo suspeita. Principalmente pelo fato de a comissão também ter sido literalmente xingada com expressões ofensivas por parte da diretora do Província. O resultado de tudo isso é que o CEEd encaminhou o assunto à Procuradoria Geral do Estado e sustou as matrículas na escola. Agora o Departamento de Coordenação das Regionais da Secretaria de Educação do Estado tem um prazo de 30 dias para fazer uma avaliação criteriosa da instituição e enviar um relatório detalhado ao CEEd.
História
Dez anos já se passaram desde a queda do muro de Berlim, lembram? Era uma peça de concreto que dividia a Berlim do pós-guerra entre comunistas e capitalistas. Representou a guerra fria por mais de 40 anos. Pois o muro caiu e, junto com ele, a vaga noção de que poderia haver saída na unificação das Alemanhas. A economia do Leste Europeu (os ex-países comunistas) cai a índices assustadores, entre 7% e 10% ao ano. Cai não, despenca. Grassam agora, principalmente entre os velhos, o alcoolismo, a depressão, o suicídio. Em 1988, um ano antes da simbólica queda do muro, 4% da população vivia com menos de US$ 4 por dia nos países da cortina de ferro. Hoje, já são mais de 35%. O Leste Europeu conheceu o fracasso dos dois sistemas que dominaram o século 20: o socialismo e o capitalismo. Não teve o Plano Marshal dos japoneses e da Alemanha ocidental. E pode ter seu futuro reservado para uma outra experiência radical, a se aprofundarem as relações das máfias estabelecidas no mercado com o poder: o fascismo.
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