GERAL

O jardim de Ione

Dóris Fialcoff / Publicado em 23 de novembro de 1999

Puxa vida! É isso que dá vontade de dizer quando a gente ouve Ione Terezinha Nichele. Ela é esposa, mãe de três filhos, professora e daquele tipo de pessoa que agarra os ideais com unhas e dentes.

Cresceu tendo como exemplo a avó, que não parava quieta enquanto podia ajudar alguém.

Aos 14 anos, ela própria começou a fazer o mesmo participando de atividades na comunidade, sempre no intuito de orientar, esclarecer e ajudar organizar um modo de vida mais humano, em todos os sentidos. Não é a toa que escolheu como profissão o magistério.

Há 25 anos, Ione mora com a família no bairro Jardim Itu, em Porto Alegre.

Quando chegou lá, encontrou uma vizinhança que, com olhar crítico e postura participativa, como ela mesma diz, já havia começado a se articular. Logo procurou o pessoal da Associação dos Moradores do Bairro Jardim Itu, que, na época, ainda nem tinha uma sede.

Hoje, já são várias as conquistas, entre elas um posto de saúde, instalado em 1993; a retirada de dois depósitos de lixo; a aprovação de uma emenda no plano diretor da cidade determinando que projetos de mudança que venham a atingir a partir de dez casas devem passar por avaliação da Câmara de Vereadores; uma sede para a Associação de Moradores; interromper o processo de um projeto de construção de uma avenida no bairro que exigiria a retirada de muitas casas e o prazo de um ano para que a prefeitura apresente para a comunidade um novo projeto, sujeito a aprovação; e mais uma série de coisas.

Nesse percurso, Ione foi presidente da Associação por duas gestões, foi eleita para coordenar um dos onze distritos de saúde do município, depois para ser conselheira municipal de saúde. E ainda, apesar de estar aposentada no magistério estadual, continua com 20 horas em uma escola municipal.

Além da relevância de toda essa dedicação, o referencial de Ione é que faz mesmo a diferença. Para ela “é o vínculo, a integração que faz a coisa acontecer”.

Tanto isso é verdade que, apesar de já realizando um trabalho pela cidadania em outras instâncias, garante que nunca vai deixar o trabalho de base, ou seja, a sua comunidade, a Associação de Moradores do Jardim Itu.

Basta ouvi-la para entender. Ela vibra, se emociona quando conta que durante esses anos vem assistindo as pessoas começarem a enxergar as próprias possibilidades, a saber os direitos como cidadãos, sendo que “algumas, mal sabiam assinar o nome”, reforça.

Isso sem falar nos frutos que os esforços somados da prefeitura, da Associação e do posto de saúde estão permitindo colher, entre eles, pessoas com mais de 60 anos que começaram a estudar. “Eu ouvi de algumas pessoas que depois que começaram a participar das atividades da Associação, não precisaram mais tomar remédio para dormir”.

Para quem não conhece o bairro, vale um passeio pelo Jardim Itu. Sem exageros, parece uma outra cidade, daquelas que só se vê no interior. É um lugar tranquilo.

Texto publicado na coluna Coisa de Mestre da edição impressa, de novembro de 1999, do jornal Extra Classe

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