O Brasil é responsável por mais de 500 mil toneladas de fumo para exportação tornando-se, desde 1993, o maior exportador mundial de fumos (em volume) e terceiro maior produtor. Na região Sul, maior concentração da atividade, são mais de 660 municípios espalhados nos três estados, ocupando 135 mil famílias de pequenos agricultores com propriedades inferiores a 20 hectares (apenas dois são usados em média). O método de produção é chamado de Sistema Integrado em que as empresas fornecem assistência técnica (são cerca de 1.500 técnicos, entre agrônomos e técnicos agrícolas), 40 mil empregos temporários nas épocas de colheita.
Quem mais ganha com tudo isso não é a indústria do cigarro, mas o governo federal. Fica com 65,6% em tributos; 23,8% é a parte da indústria; 8,5% do varejo e apenas 2,2% com o produtor rural. Em 1999, o governo ficou com US$ 3,2 bilhões, graças ao comércio de cigarros, sem contar com o cálculo do IR, Previdência Social e as taxas estaduais e municipais. Ou seja, para o governo também é um negócio altamente lucrativo o que o torna co-responsável pelo quadro em que se encontram os pequenos agricultores. Isso sem contar que um dos motivos pelos quais os pequenos optam pelo fumo é justamente a falta de linhas de crédito para outras culturas.
Para ser fornecedor de matéria prima para a empresa, o agricultor é obrigado a fazer um contrato de exclusividade de venda da safra, em que a empresa vende tecnologia aos plantadores e compra a folha de fumo. É uma compra casada tanto de sementes, como de um kit tecnológico composto de defensivos e roupas protetoras. Essas informações estão anexadas ao processo e são confirmadas pela gerência de assuntos corporativos da Souza Cruz .
Embora a empresa alegue não obter lucro com essa venda, para se ter uma idéia, o preço desse kit (R$ 800,00 por hectare) somado ao receituário de um agrônomo e a orientação técnica podem custar ao agricultor até 50%, em alguns casos, do faturamento obtido em uma colheita de fumo. Isso sem contar a facilitação para o financiamento de estufas e compra de equipamentos, em que a empresa se torna fiadora e credora. Os contratos duram até cinco anos. Mas, segundo um funcionário que trabalha da captação de agricultores para o sistema, e que não quer ser identificado, existe uma preocupação em não comprometer mais do que 55% da receita obtida em cada colheita. “Se um agricultor colocar em risco mais da metade do que colhe, não podemos aceitá-lo no sistema”, explica.