GERAL

Quanta sensibilidade!

Publicado em 24 de dezembro de 2001

É, parece que o presidente Fernando Henrique Cardoso realmente tem lá uma vocaçãozinha para ditador. Isso pode ser avaliado pela dificuldade que ele tem em conviver com o estado de direito e com a legislação vigente. Uma prova? O decreto 4010/01, com o único objetivo de acabar com o direito de greve, punir professores e dar uma rasteira no Superior Tribunal de Justiça, que havia mandado pagar o salários de outubro aos professores universitários grevistas.

Depois, percebendo a crise com o Judiciário, resolveu pagar os salários “num ato de boa vontade”, de acordo com o ministro Paulo Renato de Sousa. Mas, ao que parece, o conceito de boa vontade do presidente é análogo ao seu discurso presidencial, que, na última semana de novembro, afrontou a inteligência dos professores. Com a sensibilidade de uma retroescavadeira FHC disse, com todas as palavras, que professor é aquele que repete o que os outros dizem, em sala de aula, por não ter competência para produzir.
Puxa vida, que tato!

fhc

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FHC: “Se a pessoa não consegue produzir, coitada, vai ser professor”

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Ele só esqueceu de um detalhe: o professor não produz (mais) no Brasil porque, entre outras coisas, o governo criou uma aberração chamada “gratificação de estímulo docência”, que tem por objetivo privilegiar a sala de aula em detrimento da pesquisa. Isso sem falar nas cifras minguadas destinadas a essa mesma pesquisa, principal responsável pela produção de conhecimento das Universidades.

Bem, a greve dos professores das universidades públicas acabou. FHC voltou atrás depois de muito espernear, e teve de negociar com os professores. O bom disso tudo é que haverá reajuste depois de sete anos de salários congelados. Para os professores uma vitória, para a presidência, um desgaste evitável.

A mágica dos quinze

O difícil mesmo é acreditar que os R$ 15,00 do programa Bolsa-Escola consiga comprar todas as frutas, verduras, bermudas e material escolar (diga-se de passagem o material escolar já era obrigação da escola pública, não deveria entrar na cesta básica). O governo federal e o Ministério da Educação insistem em propagandear números que demonstram apenas resultados de superfície. Nem mesmo a Paloma Duarte (atriz do comercial) consegue conter o sorriso amarelo e forçado no filme, na hora em que tem de dizer como esses R$ 15,00 fazem diferença. Ninguém discorda que seja positivo que 97% das crianças entre 6 e 15 anos estejam matriculadas e que os pais sejam estimulados financeiramente para colocar seus filhos na escolas. Mas, e aí? Em que condições estas crianças estão matriculadas? Que ajuda substancial representam estes R$ 15,00/mês? Não nos iludamos, 2002 é ano de eleições majoritárias e muitas cifras ainda serão jogadas em comerciais de TV para tentar provar que os últimos oito anos foram bons para a educação.

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