Jeffrey M. Smith lançou em seu país, os Estados Unidos, e planeja lançar também no Brasil livro sobre transgênicos que denuncia o que chama de “mentiras dos governos e da indústria”. Segundo ele, a população consome alimentos transgênicos que não passaram por testes adequados em função da pressão da indústria de biotecnologia. Também defende a tese de que existe uma campanha deliberada de desinformação em torno da questão a partir da lógica do lucro que subordinaria a pesquisa científica a interesses comerciais imediatos, escondendo da opinião pública mundial informações importantes sobre a falta de segurança nos alimentos que utilizam transgênicos. Seu livro chama-se Seeds of Deception – Exposing Industry and Government Lies About the Safety of the Genetically Engineered Fodds You’re Eating que poderia ser traduzido em bom português para “Sementes do Engodo – As mentiras da indústria e do governo sobre a segurança dos alimentos transgênicos que você está comendo”. Smith sustenta em seus escritos que os efeitos colaterais produzidos pelos transgênicos são imprevisíveis e cita várias pesquisas que indicam o surgimento de alergias, alterações no sistema imunológico e outras doenças conseqüentes da ingestão desses produtos. Smith esteve recentemente no Brasil a convite de organizações não-governamentais que lutam contra a liberação do plantio e da comercialização de produtos transgênicos e visitou o Rio Grande do Sul a convite da Secretaria Agrária do PT gaúcho. Ele faz parte do Comitê de Engenharia Genética de Sierra Club, do comitê regulador da Rede de Ação de Engenharia Genética, do conselho consultor da Campanha para Rotulação de Alimentos Geneticamente Modificados e é o diretor fundador do Instituto para Tecnologia Responsável e mestre em administração de negócios. Trabalhou durante dois anos como vice-presidente de marketing na empresa Genetic ID, um laboratório que detecta presença de transgênicos nos alimentos. Durante seis anos, Smith pesquisou as relações das grandes empresas de biotecnologia com o governo norte-americano e a Food & Drug Administration (FDA, agência governamental dos EUA responsável pela liberação de produtos alimentícios e farmacêuticos para consumo). Jeffrey Smith concedeu, dos Estados Unidos, entrevista exclusiva ao Extra Classe via e-mail.
Extra Classe – O senhor é o autor de um livro sobre transgênicos no qual escreve sobre o que chama de mentiras contadas pela indústria e pelos governos. Quais são essas mentiras e seus objetivos?
Jeffrey M. Smith – A maioria das alegações feitas pela indústria de biotecnologia são, na verdade, mitos, conceitos não sustentados que fazem a tecnologia parecer segura e benéfica. Eis alguns deles: alimentos geneticamente modificados são seguros e inofensivos ao meio ambiente; são baseados em ciência precisa; foram testados apropriadamente; reduzem o uso de herbicidas, ampliam a área plantada; poupam dinheiro aos agricultores; podem alimentar um mundo faminto; e são necessários e inevitáveis. Tudo isso é contrário a fatos documentados. O objetivo primário de colheitas transgênicas é gerar lucro e controle do mercado por companhias de biotecnologia.
EC – É verdade que os alimentos transgênicos consumidos pelas pessoas não foram suficientemente testados? E o que o senhor pode nos dizer a respeito da pressão da indústria na tentativa de acelerar processos para favorecer os negócios?
Smith – Enquanto a indústria biotecnológica alega que a FDA (Food and Drug Administration, órgão do governo dos EUA que regulamenta a produção de produtos alimentares e medicamentos) avaliou a fundo os alimentos geneticamente modificados e declarou-os seguros, documentos internos da FDA tornados públicos em uma ação judicial revelam que cientistas da agência alertaram que alimentos geneticamente modificados poderiam criar toxinas, alergias, problemas nutricionais e novas doenças que poderiam ser difíceis de identificar. Apesar desses alertas e das crescentes provas de perigos potenciais, a FDA alega que os alimentos transgênicos não têm nenhuma diferença e não requerem testes mais seguros. Um fabricante pode introduzir um alimento transgênico nos Estados Unidos sem sequer informar ao governo ou aos consumidores. Como pôde a agência colocar em prática uma perigosa política favorável à indústria quando seus próprios cientistas insistiam em que cada variedade de alimento transgênico deveria se sujeitar a testes de segurança de longa duração antes de serem admitidos no mercado? Uma indicação seria que um ex-advogado da Monsanto se tornou encarregado da política da FDA. Outra indicação vem de um memorando de um ex-comissário da FDA, David Kessler, que descreveu a política da agência como “compatível com a política geral de biotecnologia estabelecida pelo Gabinete Presidencial”. Ele disse que “a política também responde ao interesse da Casa Branca em garantir o desenvolvimento rápido e seguro da indústria de biotecnologia dos EUA”.
EC – Então as políticas de estado e das companhias se confundem?
Smith – A política nos Estados Unidos é de que as próprias companhias de biotecnologia determinem se seus próprios alimentos são seguros. Enquanto eles voluntariamente os submetem a estudos, de acordo com o Centro para Ciência de Interesse Público, estes contêm “insuficiências técnicas nos dados de segurança…, bem como alguns erros óbvios que a FDA falhou em detectar.” Alimentos geneticamente modificados são aqueles que têm genes alheios inseridos em seu DNA. Enquanto os cientistas originalmente garantiram que os genes enxertados apenas acrescentariam uma alteração particular desejada ao produto, novas provas sugerem que os genes normais naturais do hospedeiro pode ser modificado, alterado permanentemente, avariado ou alterado no processo. E estas são apenas algumas das maneiras que alimentos transgênicos podem criar efeitos colaterais imprevisíveis e potencialmente perigosos.
EC – O que dizem os cientistas?
Smith – Um relatório de janeiro de 2001 de uma equipe de experts da Royal Society do Canadá afirmou que era “cientificamente injustificável” presumir que alimentos transgênicos são seguros e que a “aceitação a priori” de qualquer alimento transgênico é a criação de efeitos colaterais não projetados. Eles exigiram testes seguros, buscando toxicidade humana a curto e longo prazo, alergicidade e outros efeitos sobre a saúde. Infelizmente, só foram feitos uma dúzia de estudos devidamente revisados sobre a segurança de alimentação de animais. O mais profundo deles mostrou evidências de sistemas imunológicos danificados, problemas digestivos e crescimento celular excessivo em ratos alimentados com uma batata experimental transgênica. Os ratos também registram cérebros, fígados e testículos menores. Os cientistas identificaram o “processo” de modificação genética como a causa provável – o mesmo processo usado na criação da maioria dos alimentos transgênicos do mercado. Quando o cientista foi a público com suas descobertas, foi demitido de seu emprego depois de 35 anos e silenciado com ameaças de ser processado. Infelizmente, nenhum estudo publicado ainda testou alimentos transgênicos no mercado para ver se eles criam estes mesmos efeitos danosos em cobaias ou humanos. Ratos alimentados com o tomate transgênico FlavrSavr desenvolveram lesões estomacais. Sete dos 40 ratos morreram no prazo de duas semanas. A safra foi aprovada, mas desde então foi retirada do mercado. Leitoas em Iowa alimentadas com milho transgênico desenvolveram falsas gravidezes. Quando um artigo sobre o assunto foi publicado, o criador foi procurado por uma dúzia de outros fazendeiros que também disseram que a mesma coisa tinha acontecido com seus animais. Nenhuma investigação posterior foi feita. Da mesma forma, fazendeiros protestaram por nenhuma investigação ter sido feita depois de 12 vacas, alimentadas exclusivamente com milho transgênico, terem morrido na Alemanha.
EC – O senhor considera correto afirmar que existe uma espécie de campanha de desinformação quanto aos organismos transgênicos? A que lógica ou interesses atende essa campanha?
Smith – Sim. A indústria da biotecnologia usa alegações não sustentadas para promover sua tecnologia. Freqüentemente a indústria se refere a estudos publicados patrocinados pela indústria, os quais muitos cientistas descrevem como “projetados para evitar que se encontre qualquer problema”. Com pesquisa de soja, por exemplo, sérias diferenças nutricionais entre soja transgênica e natural foram omitidas de uma publicação. Estudos alimentares mascararam quaisquer problemas ao usar animais adultos em vez de animais jovens e ao diluir sua soja transgênica a 10 por 1 com proteína não-transgênica. Um laboratório foi instruído a usar um método obsoleto e menos preciso para detectar fitoestrógenos. Milho transgênico não passaria nos testes recomendados pela FAO (Organização das Nações unidas para Agricultura e Alimentação) e pela WHO (World Health Organization) para prevenir que colheitas transgênicas-alergênicas cheguem ao mercado. O leite foi pasteurizado 120 vezes mais num esforço para destruir um hormônio. Vacas que adoeceram foram supostamente removidas dos estudos, enquanto aquelas que estavam prenhas antes do tratamento foram adicionadas aos estudos tentando provar que os tratamentos não interferiram com a fertilidade. Estes são numerosos exemplos de como a indústria biotecnológica controla as mensagens na imprensa. Por exemplo, ameaças de processo pela Monsanto resultaram no cancelamento de programas de TV, um contrato de publicação e distribuição de revistas. Muitos dos principais argumentos usados como base pela indústria e pelo governo em suas alegações de segurança tem se comprovado errôneos ou permanecem não testados. Embora eles continuem a promover o mito de que os transgênicos são necessários para alimentar o mundo, conforme estatísticas de produção de alimentos da ONU, isso não é verdade. Além disso, plantações transgênicas aumentam o uso de produtos químicos agrícolas e, na verdade, reduzem as áreas médias plantadas. Um exame mais profundo dos dados nos leva a concluir que esses alimentos nunca deveriam ter sido aprovados e que comê-los é jogar com sua saúde.
EC – Que tipo de efeitos colaterais as pessoas podem sofrer ao consumir produtos à base de transgênicos? Há pesquisas que sustentem suas afirmações?
Smith – O único teste de alimentação humana já conduzido confirmou que os genes transgênicos da soja transferidos para a bactéria no interior do trato digestivo tornaram a bactéria resistente a herbicidas. (A indústria biotecnológica dissera anteriormente que tal transferência era impossível.) A WHO , as Associações Médicas Britânica e Americana e diversos outros grupos tem expressado a preocupação de que se “genes resistentes a antibióticos” usados em alimentos transgênicos conseguiram se transferir para uma bactéria, isso poderia criar superdoenças que não poderiam ser tratadas com antibióticos. O que poderia ser ainda mais perigoso é se o promotor, inserido no DNA para manter o gen alheio permanentemente ativo, se transferisse para a bactéria intestinal humana ou órgãos internos. Os promotores podem, não intencionalmente, se transmutarem em outros genes que existam naturalmente no DNA, fazendo com que se tornem proteínas potencialmente tóxicas ou alergênicas. Estes podem também criar um “ponto de fusão”, um ponto de instabilidade genética que pode causar danos à estrutura e função do DNA. Alguns cientistas acreditam que os promotores podem se transmutar em vírus dormentes que se alojariam dentro do DNA ou poderiam mesmo gerar um crescimento celular descontrolado que teoricamente poderia levar ao câncer. (Evidências de crescimento celular foram descobertas em três dos estudos publicados sobre alimentação de animais com transgênicos.) Em 22 de fevereiro, o Instituto Norueguês para a Ecologia do Gen divulgou a notícia de que promotores intactos foram encontrados em tecidos de rato duas horas, seis horas e três dias depois de os ratos ingerirem apenas uma ração com material transgênico. Eles também verificaram, in vitro, que o promotor trabalha dentro do DNA humano. O instituto também denunciou que pólen do milho Bt geneticamente modificado tinha deflagrado reações cutâneas, intestinais e respiratórias em pessoas que viviam próximas à plantação de milho nas Filipinas. Se for assim, esta não seria a primeira doença relacionada à modificação genética.
EC – E sobre a relação entre sementes transgênicas e alergias?
Smith – No Reino Unido – um dos poucos lugares que faz avaliações anuais de estatísticas sobre alergia –, casos de alergia à soja tiveram um aumento estupendo de 50% logo depois que soja transgênica foi importada pela primeira vez dos Estados Unidos. Isso pode ter resultado da quantidade aumentada do mais comum alergênico da soja, o inibidor trypsin, na soja geneticamente modificada Roundup Ready ou talvez da proteína naquela soja que nunca antes tinha sido parte da alimentação humana. Leite e produtos derivados de vacas tratadas com o leite à base de hormônio bovino geneticamente alterado (bGH) contêm uma quantidade maior de hormônio IGF-1, que é um dos mais altos fatores de risco associado com câncer de mama e de próstata. Conforme um relatório de março de 2001, o Centro de Controle de Doenças afirma que os alimentos são responsáveis por um número duas vezes maior de casos nos Estados Unidos em comparação com dados de apenas sete anos antes. Este aumento corresponde ao período em que os americanos estavam consumindo grandes quantidades dos recém-introduzidos alimentos transgênicos. Poderia isso ter contribuído para as 5 mil mortes, 325 mil hospitalizações e 76 milhões de doenças relacionadas com alimentação a cada ano? É difícil dizer já que não existe monitoração no país.
Extra Classe – O senhor esteve no Brasil e tomou conhecimento das políticas do governo sobre transgênicos. Como o senhor avalia a situação do Brasil sobre transgênicos em um contexto mundial?
Smith – O Brasil está em uma posição crucial no mundo. Com a Europa e Ásia rejeitando organismos geneticamente modificados mais e mais, o Brasil tem a fantástica oportunidade de tirar vantagem da crescente demanda de mercado por alimentos não-transgênicos. Esta é a grande ameaça aos Estados Unidos, que têm perdido uma considerável fatia de mercado no mundo. O interesse dos Estados Unidos em que o Brasil adote colheitas transgênicas não é altruísta. Se o Brasil adotar a tecnologia, isso pode forçar Europa e Ásia a aceitar mais soja transgênica. Isso, então, permitira aos Estados Unidos vender sua soja transgênica. Assim, a esperança dos Estados Unidos é de que o Brasil aceite a soja transgênica; então, a fatia brasileira no mercado mundial se reduzirá e a dos Estados Unidos irá aumentar. Eu vejo um padrão de controle da indústria pelo governo no Brasil que é similar ao dos Estados Unidos e aos de outros países. Muitos políticos não estão querendo sequer ouvir os fatos objetivos mostrando que estes alimentos são perigosos. Isto é comum para aqueles que foram influenciados por lobistas da biotecnologia. Felizmente há muitos políticos e ONGs (organizações não-governamentais) que têm compreendido os perigos dos transgênicos à saúde, à economia e ao meio ambiente e estão trabalhando arduamente para proteger a nação. Eu tive a honra de conhecer muitas dessas pessoas no Brasil durante minhas visitas e ofereci a elas o meu apoio.
Extra Classe – A questão do monopólio não acaba encoberta pela questão dos riscos saúde?
Smith – Há um plano das corporações de controlar o estoque mundial de alimentos. Isto foi deixado claro em uma conferência da indústria biotecnológica em janeiro de 1999, no qual um representante do Grupo de Consultoria Arthur Anderson explicou como sua companhia ajudou a Monsanto a criar este plano. Primeiro eles perguntaram à Monsanto qual seria seu futuro ideal em 15 ou 20 anos. Executivos da Monsanto descreveram um mundo com 100% de todas as sementes comerciais geneticamente modificadas e patenteadas. A Consultoria Anderson trabalhou, então, em retrospectiva a partir daquela meta e desenvolveu a estratégia e as táticas para atingi-la. Eles presentearam a Monsanto com os passos e procedimentos necessários para obter um lugar de dominação da indústria em um mundo no qual sementes naturais seriam virtualmente extintas. Parte do plano era a influência da Monsanto sobre o governo, cujo papel seria o de promover a tecnologia em nível mundial e ajudar a colocar os alimentos no mercado rapidamente, antes que qualquer resistência se colocasse no caminho. Um consultor de biotecnologia afirmou depois que “a esperança da indústria é de que, com o tempo, o mercado esteja tão abarrotado que não vai haver nada que se possa fazer a respeito. Apenas render-se.” A pressão sobre o Brasil é parte do plano, que foi adotado também pelo governo dos Estados Unidos. Enquanto esse plano for uma grande parte do quadro dos transgênicos, não podemos perder de vista os perigos extensivos à saúde e ao meio-ambiente. Penso que todos estes aspectos são igualmente fundamentais quando se considera o tema dos transgênicos.
EC – O senhor poderia nos falar sobre sua experiência pessoal no universo da indústria?
Smith – Eu estudei os transgênicos por cerca de 10 anos. Trabalhei para uma organização não-lucrativa tentando fazer com que os produtos fossem rotulados e concorri ao congresso dos Estados Unidos para criar uma consciência pública sobre os perigos dos transgênicos à saúde e ao meio ambiente. Trabalhei como vice-presidente de marketing de um laboratório de detecção de transgênicos, o qual também certificava alimentos e colheitas não-transgênicas. Desde setembro passado viajei por cerca de cem cidades nos cinco continentes, instruindo líderes políticos e informando o público sobre os perigos dos transgênicos e seu acobertamento.
EC – Qual o papel do governo dos Estados Unidos na expansão dos transgênicos pelo mundo?
Smith – Em 1992, o Conselho de Competitividade da primeira administração de Bush determinou que os Estados Unidos deveriam aumentar suas exportações pela imposição de alimentos transgênicos. Nesta base, eles impingiram os alimentos ao mercado e têm tentado forçar o mundo a aceitá-los. Um dos mais perigosos aspectos da engenharia genética é o pensamento obtuso do governo dos Estados Unidos e da indústria biotecnológica e seus esforços consistentes para silenciar aqueles com provas ou preocupações contrárias. Pouco antes de deixar o cargo, o ex-Secretário da Agricultura de Clinton, Dan Glickman, admitiu o seguinte: “O que eu vi genericamente sobre o lado pró-biotecnologia foi a postura de que a tecnologia era boa e que era quase imoral dizer que não era, pois ela iria resolver os problemas da raça humana, alimentar os famintos e vestir os despidos… E havia sido investido muito dinheiro naquilo, e se você fosse contra, era um idiota. Aquele, francamente, era o lado em que nosso governo estava… Você se sentia como se fosse um alienígena, desleal ao tentar apresentar uma visão mais ampla.” Essa atitude é o resultado de 50 milhões de dólares por ano sendo gastos para convencer consumidores dos Estados Unidos dos benefícios dos alimentos transgênicos. Só em 2001, foram gastos 142 milhões de dólares pela companhia biotecnológica com lobistas em Washington e na colocação de ex-executivos da indústria biotecnológica em posições-chave dentro do governo.
EC – É possível uma coexistência de lavoura transgênicas com as não-transgênicas?
Smith – Um relatório de fevereiro do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos confirmou o que observadores sabiam há anos. Não há nenhuma maneira adequada de proteger contra a contaminação. Um relatório de março da União de Cientistas também verificou que sementes não-transgênicas são amplamente contaminadas por sementes transgênicas. Coexistência a longo prazo é um mito.
EC – O senhor já menciona casos que resultaram em morte no seu livro. Como foi isso?
Smith – Nos anos 1980, uma epidemia mortal foi relacionada ao suplemento alimentar L-triptófano criado a partir de uma bactéria geneticamente modificada. Cerca de cem americanos morreram e entre 5 mil e 10 mil caíram doentes – alguns ficaram incapacitados permanentemente. Defensores da biotecnologia, com sucesso, desviaram a culpa da engenharia genética ao atribuir a doença a mudanças no sistema de filtração na fábrica. É sabido, entretanto, que centenas de pessoas contraíram a doença a partir de versões geneticamente modificadas de L-triptófano criadas durante os quatro anos anteriores à mudança no filtro. A FDA tinha a informação que teria desacreditado a teoria do filtro, mas escondeu os fatos do público e do Congresso. A doença criada pelo L-triptófano contaminado era aguda, rara e evoluiu rapidamente. Se todas essas três características não estivessem presentes, é pouco provável que os médicos tivessem identificado o suplemento como causa; ele ainda poderia estar no mercado. Isso nos leva à pergunta: existem outros produtos geneticamente modificados no mercado criando sérios problemas de saúde e que não são identificados?