GERAL

Sindicato pra quê?

Publicado em 8 de março de 2005

Em março de 1996, o jornal Extra Classe surgia para o mundo, trazendo na capa de sua primeira edição a reportagem Sindicato pra quê?, assinada pelos jornalistas Carlos Oliveira Leite e Renato Dalto. Uma matéria emblemática e atual até os dias de hoje, principalmente porque o Governo encaminhará ao Congresso, no dia 2 de março, um anteprojeto de lei que pretende modernizar as relações sindicais no País. Reler sobre a trajetória dos sindicatos no Brasil ajuda a entender a dinâmica e a complexidade política que envolve a questão. Essa reportagem que completa nove anos este mês estará disponível pela primeira vez para download em seu formato original na internet, em nosso site www.sinprors.org.br/extraclasse/10anos.
MBA é… vilão

Gurus do mundo corporativo como Henry Mintzberg e Sumantra Ghoshal culpam os MBAs por escândalos do mundo empresarial, a exemplo do caso Enron, nos EUA. De acordo com eles, essas coisas só acontecem porque as escolas de administração criaram modelos de gestão fora da realidade e pregam valores discutíveis. Nos últimos quatro anos, os MBAs estiveram em baixa nos EUA, mas voltaram a despertar interesse, conforme matéria publicada na Revista Exame. Mas as críticas aos MBAs estariam crescendo na mesma proporção em que as empresas americanas voltaram a se interessar por eles. Segundo a mesma matéria, os principais responsáveis pelos ataques são os próprios acadêmicos, que acusam os cursos de adotarem modelos de gestão e valores que distorcem os fundamentos da administração.

… pivô de polêmica

A mais recente polêmica é a publicação de um artigo póstumo de Sumantra Ghoshal – morto em 2004 –, um dos maiores gurus da administração mundial e professor da London Business School. Ghoshal deixou uma análise ácida das idéias ensinadas pelas escolas de administração. Segundo ele, “os piores excessos praticados recentemente pelos administradores devem-se a um conjunto de idéias que surgiram na academia nos últimos 30 anos”. Segundo a revista inglesa The Economist, o artigo de Ghoshal será publicado no jornal especializado Academy of Management Learning & Education. O texto ataca o desejo dos professores de transformar o mundo dos negócios numa ciência exata, destacando modelos de análise equivocados como o individualismo metodológico, o qual assume que todas as ações humanas, visando à maximização de resultados, e a crença de que os homens de negócios precisam se desvincular de alguns valores (como a transparência e a credibilidade). Esse conjunto de coisas desembocaria num ambiente muito mais sujeito a escândalos financeiros, pensou em vida Goshal.

… objeto de críticas

O falecido professor não está só nesse coro de críticas à forma como os cursos de MBA estão organizados. Jeffrey Pfeffer, professor da Universidade de Stanford, usa como argumento um estudo realizado em 2000 que demosmostra que o número de irregularidades cometidas por uma empresa é proporcional ao número de altos executivos com MBA. No ano passado, outro grande guru da administração, Henry Mintzberg, lançou o livro Managers not MBAs, em que afirma que esses cursos “treinam as pessoas erradas do modo errado, gerando as conseqüências erradas”. Será que os MBAs brasileiros estão atentos a esse debate?
Vida Severina I
Só para lembrar, Severino Cavalcanti – alguém já tinha ouvido falar dele antes? –, o novo presidente da Câmara Federal e mais novo parlamentar midiático, assume uma opulenta verba de nada mais nada menos do que 2,5 bilhões de reais. Some-se a isso 15 mil funcionários para administrar uma casa oficial às margens do Lago de Brasília com mil metros quadrados, belos jardins, piscina, 20 empregados. Além disso, dois automóveis com motorista à disposição, gabinete imenso e cheinho de assessores. Ou seja… muuuuito poder. Isso, sem falar na possibilidade de substituir o presidente eventualmente.

Vida Severina II
E qual foi o primeiro assunto na primeira reunião de Severino com a cúpula da mesa diretora da Câmara Federal? O reajuste dos salários dos parlamentares. Ninguém pode chamá-lo de incoerente com sua plataforma. Mas, ao que parece, pelo menos aos olhos dele, reajustar os salá rios dos deputados de R$12,8 mil para R$21,5 mil é uma questão prioritária para a nação. Justo ele, que engasgou quando o diretor de jornalismo da TV Bandeirantes, Fernando Mitre, questionou-lhe sobre sua baixa assiduidade nas plenárias. Sua resposta foi pífia. Alegou que o setor em que trabalhava lhe exigia muito, pois cada vez que um deputado, por exemplo, precisava embarcar a si ou a um filho para o exterior, era ele e seus assessores quem se responsabilizavam pelos trâmites no Itamarati, vistos, etc., e por isso nem sempre era possível estar presente nas sessões. Ora, ora… esse é o nível de argumentação de uma das principais figuras do Legislativo Federal, que juntamente com o presidente do Senado conduzem no Legislativo os rumos do País.

Vida Severina III
Sejamos didáticos: pertencer ao chamado “baixo clero” da Câmara não é elogio, pois a expressão representa aquela massa de deputados classificados como obscuros, para não dizer menos atuantes, que não participam das decisões importantes, não aparecem na imprensa e votam muitas vezes movidos a estímulos suspeitos (salvo exceções). Chega a parecer piada quando Severino fala em reforma política e fisiologismo quando ele próprio peregrinou por várias siglas ao longo das últimas décadas.

Outra barbaridade foi sua declaração-bomba, defendendo a prorrogação dos mandatos de Lula (sem permitir reeleição), bem como de deputados (é claro!) e senadores. Prorrogação de mandato lembra as ditaduras, o que novamente demonstra a coerência como uma das poucas qualidades aparentes de Severino Cavalcanti, afinal ele foi da UDN e posteriormente da ARENA, aquele partido que dava suporte aos militares durante todo o período da Ditadura Militar (20 anos). É lamentável saber que o principal ícone da Câmara tem pouco prezo pela legalidade e pela democracia. Ah, faltou o argumento: tudo isso para economizar. Ah, tá…

Vida Severina IV
Um pouco de história recente. Os militares que seqüestraram o Brasil entre 1964 e 1985 recorreram a esse expediente inúmeras vezes. Primeiro forçaram deputados e senadores a aumentar em um ano o mandato do marechal Castello Branco (1964-1967), que havia sido eleito pelo Congresso para completar o mandato de João Goulart (1961-1964), devendo deixar o governo no começo de 1966. Mais tarde sob os mesmos argumentos do deputado Severino – fazer coincidir mandatos para evitar “eleições demais” e “economizar recursos públicos” (os mesmos recursos que Severino quer queimar concedendo 70% de aumento e comprando veículos oficiais para os 513 deputados) –, prefeitos municipais também tiveram seus mandatos prorrogados, governando por seis anos para que as eleições municipais se realizassem simultaneamente às estaduais e federais. No final do Regime Militar, no governo do general João Figueiredo (1979-1985), acreditando que se poderia calçar a estrada rumo à democracia, o então governador do Rio Leonel Brizola (PDT) chegou a manchar sua biografia e defender a prorrogação do já extenso mandato de seis anos de Figueiredo. Se algum deputado, de qualquer clero, levasse o Presidente da Câmara para a Comissão de Ética por falta de decoro parlamentar, não estaria cometendo nenhum absurdo. Resta saber se as trapalhadas de Severino são mal-intencionadas ou se ele realmente não está à altura do cargo que ocupa.

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