GERAL

O ovo da serpente

Publicado em 5 de agosto de 2005

Fundador do PT e coordenador da campanha de Lula a presidente em 1989, o cientista político César Benjamin diz que Lula é refém da oposição: “Eu acho que o Lula é refém de um pouco de tudo. Eu acho que ele é um presidente fraco. Vai terminar o mandato de maneira melancólica. A grande elite brasileira teme a possibilidade de que o vice-presidente José de Alencar assuma o governo, altere a política econômica e se credencie como forte candidato para 2006”. Segundo ele, o que está aparecendo agora é o desdobramento de uma série de práticas que começaram na gestão do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) no fim dos anos 90, quando o senhor Delúbio Soares foi nomeado representante da CUT na gestão do FAT.

Frei Betto e o “tsulama”

Para Frei Betto, o mais grave da crise é o desencanto que todo o “tsulama” (alusão a uma espécie de maremoto em mar de lama) provoca na opinião pública, sobretudo na dos mais jovens. Escreveu no blog do jornalista Ricardo Noblat: “Quando admitimos que todos os partidos são farinha do mesmo saco, fazemos o jogo dos corruptos, pois quem tem nojo de política é governado por quem não tem. Se todos se enojarem, será o fim da democracia e da esperança de que, no futuro, venha a predominar a política regida por fortes parâmetros éticos. Portanto, o desafio, hoje, não é só promover reformas estruturais no país. É reformar a própria política, de modo a vedar os buracos pelos quais a corrupção e o nepotismo se infiltram”.

Médicos demais

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul, a Associação Médica do Rio Grande do Sul e o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul decidiram criar uma Comissão contra a Proliferação de Escolas Médicas. Faz parte da ofensiva do setor alertar para o prejuízo que a abertura de escolas desnecessárias tem trazido à qualidade do ensino e da assistência médica. As entidades também estão recomendando aos médicos que não participem de projetos de abertura de novas escolas médicas e aguardem a posição oficial das entidades. No Estado, existem hoje dez faculdades de Medicina. A Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) tenta abrir a 11ª. De acordo com as entidades, no Estado já haveria o dobro de profissionais que precisa e a oferta de mais mão-de-obra facilitaria a precarização do trabalho e geraria competição danosa, diminuindo a remuneração e a qualidade do serviço prestado.
“Albergues” do SUS

Se o Projeto de Lei 5374/05 vingar no Congresso, a hospedagem de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que necessitarem de atendimento fora do município onde moram será de responsabilidade do Estado. O autor é o deputado Carlos Nader (PL-RJ). A Constituição prevê a regionalização dos serviços públicos de saúde, porém, muitos casos devem ser tratados em cidades que oferecem atendimentos especializados.

Os locais de hospedagem deverão atender à demanda de cada região e serão localizados preferencialmente em municípios que prestem atendimentos de alta complexidade. A implantação e o funcionamento das instalações, segundo o projeto, serão definidos pelo Ministério da Saúde, em conjunto com os gestores do SUS e conselhos de saúde. A proposta está na Comissão de Seguridade Social e Família. Em seguida, o texto, que tramita em caráter conclusivo, será analisado também pelas comissões de Finanças e Tributação, de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Ajuda para a África

O economista queniano James Shikwati, 35 anos, diz: “Pelo amor de Deus, parem de ajudar a África!”. Ele argumenta que a ajuda internacional alimenta a corrupção e impede que a economia se desenvolva. Isso destrói a produção agrícola e causa desemprego, mais miséria e mais dependência. Segundo o economista, a ajuda é mais prejudicial do que benéfica. Mas isso se explica, Shikwati é um entusiasmado defensor da globalização. As declarações foram dadas para a publicação alemã Der Spiegel. Falou também sobre os efeitos desastrosos da política de desenvolvimento ocidental na África, sobre governantes corruptos e a tendência a exagerar o problema da Aids. Será?

BOM E VELHO FUTURO – Especialistas dizem que população do planeta deverá estabilizar-se em torno de 9 bilhões de indivíduos em 2050, longe dos 15 bilhões que haviam sido anunciados há cinqüenta anos. A Índia vai ter uma população maior que a da China, cujos habitantes vão envelhecer rapidamente. A Aids não impedirá a África de duplicar seu número de habitantes. Além disso, apontam que população é menos fecunda e vive mais. Conseqüência: a humanidade vive um processo de envelhecimento. Os dados foram divulgados no 25º Congresso Internacional da População, realizado na França, onde dois mil pesquisadores lançaram um alerta contra o envelhecimento generalizado da população.

Teoria do escândalo

Enquanto assistimos diariamente à cobertura dos escândalos, na prática, um pouco de teoria sobre escândalos também pode ser uma boa pedida. Uma entrevista realizada pelo jornalista Paulo César Teixiera com o sociólogo John B. Thompson, publicada na edição do Extra Classe, de número 66, de outubro de 2002, aborda o quanto a arte política utiliza habilmente a mídia para criar e derrubar mitos. Para Thompson, o que importa, no final das contas, é o poder simbólico que as personalidades políticas defendem ou atacam, e comenta casos ocorridos no Brasil e nos EUA. Para ele, o debate ideológico foi substituído por esse mecanismo de disputa. Nascido em Mi-niapolis (Estados Unidos), o professor John B. Thompson, atualmente radicado na Inglaterra desde 1970, leciona Sociologia na Universidade de Cam-bridge. Na entrevista ele desvenda os meandros das relações da mídia com o poder e as instituições. Ganhou o prêmio Amalfi, um dos mais importantes na área de Ciências Sociais, na Europa. No Brasil, tem três livros publicados – Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa; A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia; e O escândalo político: poder e visibilidade na era da mídia, pela editora Vozes. Este último ele lançou na PUCRS durante o Seminário Internacional de Comunicação Cultura, poder e tolerância em um mundo complexo, em setembro. Em entrevista ao Extra Classe, Thompson esmiuça sua teoria do escândalo político e se mostra curioso diante da “especificidade” da política brasileira. Nossa reportagem pediu sua opinião atualizada sobre os escândalos de corrupção que envolvem o Partido dos Trabalhadores, o Congresso Nacional, o governo federal e empresas, mas ele disse não estar habilitado a opinar sobre assunto tão complexo, mas reafirmou que, do ponto de vista genérico, o que afirma em seus livros está valendo. Leia entrevista: www.sinprors.org.br/extra/out02/entrevista.asp.

Comentários

Siga-nos