PT X PSDB: uma guerra nacional e regional
O clima relativamente morno da campanha eleitoral deste ano, que só foi esquentar nos últimos dias da disputa, teve resultados surpreendentes e repletos de significados. O favoritismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para vencer a eleição no primeiro turno acabou atingido seriamente por dois episódios polêmicos: o caso do dossiê Vedoin-Serra com a divulgação das fotos do dinheiro que seria usado para a compra do mesmo e a ausência do presidente no debate da Rede Globo. A gigantesca exploração midiática destes dois episódios tirou o primeiro turno de Lula. O resultado final (Lula 48,6% x Alckmin 41,6% dos votos válidos) e o contexto no qual ele nasceu indicam um clima de guerra para o segundo turno. Esse clima deverá marcar também as disputas regionais de segundo turno. O Rio Grande do Sul é um caso paradigmático. Yeda Crusius (PSDB) e Olívio Dutra (PT) travarão um combate fortemente marcado pelo cenário nacional.
O governador Germano Rigotto (PMDB), que liderou todas as pesquisas eleitorais desde o início da campanha, acabou sendo vitimado por uma combinação de quatro fatores: a baixa aprovação de seu governo, uma auto-suficiência na campanha que beirou a arrogância, a fragilidade política de seu discurso que não tomou posição na disputa Lula-Alckmin no momento em que esta envolvia fortemente a opinião pública e, por fim, uma operação desastrada, denunciada pelo próprio Rigotto em uma entrevista coletiva após a derrota, que visava tirar Olívio Dutra do segundo turno. O governador não entrou em detalhes sobre essa operação. Disse apenas que se manifestou contrário a ela 48 horas antes de ser executada, advertindo que poderia ser vítima de um efeito bumerangue, o que acabou acontecendo. Que estratégia seria essa? O que ocorreu de novo nos dois últimos dias de campanha foi a divulgação de duas pesquisas que apontavam um crescimento vertiginoso de Yeda.
A política odeia o vácuo
As pesquisas do Instituto Methodus-Revista Voto e do jornal Correio do Povo, divulgadas na quinta e sexta-feira, respectivamente, apontaram a disparada da candidata tucana que estaria empatada com Rigotto, deixando Olívio fora do segundo turno. Desde a sexta, lideranças peemedebistas no Estado, Rigotto entre elas, manifestavam preocupação com a possibilidade de uma migração de votos do governador para Yeda. Os aliados da candidata do PSDB falavam em varrer o PT do mapa político do Rio Grande do Sul. No final da tarde de sexta, o jornalista Políbio Braga, um dos mais enraivecidos antipetistas do Estado, publicou uma nota em seu site em que dizia: “a ordem é humilhar o PT”. Esse era o espírito no final de semana entre os adversários do PT no Estado, muitos deles oriundos do governo de Antônio Britto. Não se tratava apenas de derrotar eleitoralmente o PT, mas sim de humilhar sua militância e seus dirigentes. Essa estratégia foi um desastre para Rigotto.
O que é curioso é que o governador deu a entender que tinha conhecimento dessa estratégia antes que ela fosse executada. Algo a ver com as pesquisas? Há uma suspeita no ar. Uma não. Várias. Outra delas é que a campanha de Yeda Crusius operou com uma dupla alternativa: se Olívio ficasse fora do segundo turno, ótimo; se o deslocamento de votos incentivado pelas pesquisas acabasse atingindo Rigotto, melhor ainda. No domingo à noite, no comitê de Rigotto, alguns peemedebistas falavam de traição. Clima de indignação geral e de perplexidade. O governador que liderou as pesquisas até o fim teria sido alvo de uma operação desencadeada nos últimos dias de campanha? Talvez tenha sido mesmo, mas sua derrota não se explica fundamentalmente por aí. Rigotto sofreu uma derrota política: uma desaprovação de seu governo e uma desaprovação à sua recorrente postura de ficar em cima do muro. A política, como a natureza, odeia o vácuo.