Provas de crimes podem ter sido destruídas
Sem alarde, a semana do Natal marcou novas buscas de documentos da Operação Kollektor, da Polícia Federal, que investiga o desvio de R$ 63 milhões da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Ao contrário do que aconteceu no dia 9 de dezembro, quando foi deflagrada a operação, dessa vez o delegado Aldronei Rodrigues levou uma equipe pequena a Canoas e não houve cobertura da imprensa.
Apesar da discrição, a procura não teve sucesso. O alvo era um endereço no qual, segundo as informações da inteligência da PF, estariam guardados os documentos retirados da sede da Reitoria da Ulbra, em abril de 2009. Na noite que antecedeu o lacre do prédio da Reitoria por agentes da PF, por ordem judicial, dois caminhões saíram carregados de contratos, balancetes e outros papéis, que teriam sido levados ao depósito agora descoberto pela PF. Apesar das portas do prédio serem blindadas, no local a polícia não encontrou documentos relativos à universidade, uma indicação de que o material pode ter sido destruído.
Acontece que, entre a renúncia de Ruben Becker, em abril, e o início da Operação Kollektor, em dezembro, a “quadrilha” (como a PF chama o grupo de empresários e ex-gestores da Ulbra que desviaram dinheiro dos cofres da instituição) teve tempo suficiente para destruir documentos que poderiam ser utilizados como provas no processo.
No entanto, as interceptações telefônicas começaram seis meses antes e reuniram informações suficientes para que a equipe do delegado Aldronei Rodrigues montasse organogramas que são mantidos em sigilo.
As escutas revelaram uma quadrilha bem articulada, com forte disputa de poder e tentativas de subir na hierarquia da universidade. Houve inclusive ameaças de morte entre os integrantes. “Tem gente que começou lá embaixo e se tornou assessor direto dos chefes”, revela o delegado.
Os sete analistas da PF que trabalham exclusivamente para a Operação Kollektor – “os melhores do Rio Grande do Sul”, segundo Aldronei Rodrigues – se debruçam agora sobre os 23 malotes apreendidos nas sedes das empresas e casas dos envolvidos. A dificuldade nesse momento é recuperar os discos rígidos dos computadores apreendidos, já que a tecnologia usada pela quadrilha para deletar provas era avançada. “Estamos no início da análise de material e não há previsão para o término dessa fase”, adverte Rodrigues.
Ainda que preliminar, o estudo das provas já aumentou o número de pessoas e empresas envolvidas. Por isso, a lista de indiciados deverá ser bem maior do que aqueles que foram alvo dos mandatos iniciais (ver lista abaixo). Na ocasião, seis pessoas tiveram sua prisão negada pela Justiça Federal, entre elas o ex-reitor, Ruben Becker, e o filho dele, o ex-vice Reitor, Leandro Becker. “Por enquanto, a lista é curta porque é do que temos provas”, explica o delegado.
ALVOS DA PF NOS MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO
Aérnio Dilkin Penteado (Canoas)
Aérnio Dilkin Penteado Jr. (Canoas)
Ana Lúcia Becker Giacomazzi (Canoas)
Graziela G. de Lima Maria (Canoas)
Juliano Rubens Ribeiro dos Santos (Canoas)
Leandro Eugênio Becker (Canoas)
Marcelo Gonçalves dos Santos (Porto Alegre)
Marcos Viana Azevedo Bastian (Porto Alegre)
Paulo Reis (Ivoti)
Paulo Zanchi A. dos Santos (Porto Alegre)
Pedro Emílio Konrath (Canoas)
Ruben Eugen Becker (Canoas)
Yan Rodrigo Klein Penteado (Canoas)
“A operação se corporificou muito tarde”
A Polícia Federal admite a dificuldade de chegar à gênese dos crimes. Como o ex-reitor, Ruben Becker, comandou a Ulbra durante 40 anos, é possível que os desvios acontecessem há muito tempo. Mas o material apreendido em dezembro documenta ações dos anos 2009 e 2008 e até agora não há provas das ações mais antigas da quadrilha. “Não sabemos exatamente quando essa pessoas chegaram na Ulbra, mas estavam lá até há bem pouco tempo”, observa o delegado Aldronei Rodrigues.
Desde outubro de 2008, a equipe de Rodrigues estava atenta ao tema. “Chegavam informações a todo o momento”, revela. No entanto, a esfera de atuação da Polícia Federal é restrita a temas de interesse nacional. “Como era uma universidade privada, não havia competência da PF para investigar”, relata.
Foram as informações recolhidas nos autos dos processos fiscais contra a Ulbra e seus antigos dirigentes que permitiram a PF iniciar as investigações, sob a alegação de lavagem de dinheiro e crime contra a Fazenda Nacional.
Mas a antiga reitoria – o superintendente da Polícia Federal, Ildo Gasparetto, é enfático ao apontar o ex-reitor, Ruben Becker, como “chefe da quadrilha” – já estava deposta e muitos dos documentos haviam sido destruídos. “A operação se corporificou muito tarde”, admite Rodrigues.