Num Brasil ideal não existiria a Globo
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O jornalista Paulo Henrique Amorim, uma das línguas mais afiadas do jornalismo brasileiro estará em Porto Alegre, nesta quarta-feira, 20 de abril, onde participará do painel Mídia e o Estado Democrático de Direito. No evento, o jornalista também apresentará seu livro, O Quarto poder – Uma outra história, publicado pela editora Hedra, no ano passado, que trata do papel na mídia nos golpes e conspirações da política brasileira nos últimos 50 anos. Aliás, abordagem oportuna em um momento em que o próprio objeto de análise está envolvido na conspiração que levou o mandato da presidente Dilma Rousseff ao julgamento do Congresso Nacional.
Amorim completou, no ano passado, meio século de carreira jornalística e reuniu em livro tudo aquilo que as notícias nunca deram: o lado de dentro do jornalismo e do poder. Ele definiu a obra como “um livro de memórias e um livro de história”. História que, segundo ele, poucos conhecem: desde os primórdios, no período Vargas, passando pela criação e pelo apogeu da Rede Globo, a partir do governo militar, incluindo os bastidores de grandes momentos da história contemporânea (ditadura, período de transição, governos Sarney, Collor, FHC e PT) – além de encontros reveladores com os principais nomes da mídia e do poder, que fizeram e desfizeram a história recente do país, e os bastidores dos episódios mais marcantes (Plano Cruzado, Plano Collor, negociação da dívida externa, Plano Real, debate eleitoral Collor x Lula…), até os dias de hoje.
Amorim é responsável pelo site/blog Conversa Afiada, portal político e de referência no jornalismo digital brasileiro, e apresentador da Rede Record.
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Extra Classe – De que forma a mídia exerce o quarto poder no Brasil?Paulo Henrique Amorim – Como faz agora: dá um golpe de estado, pelas mãos limpas do Eduardo Cunha e do Michel Temer.
EC – Em seu livro, o senhor diz que o monopólio da Petrobras foi do Roberto Marinho. Como isso se deu?
Amorim – Através das manchetes do Globo, suspeito, ele manipulava as ações da Petrobras na Bolsa. E, no Governo Sarney, ele influía sobre quem deveria presidir a Petrobras. E nos telejornais, não se podia dar notícia sobre a Petrobras que não passasse pelo crivo dele.
EC – A atual crise política brasileira ainda tem a Petrobras como mote, mas quem está ganhando?
Amorim – O José Serra, que está a um passo de realizar o sonho de entregar o pré-sal à Chevron.
EC – Em seu livro O quarto Poder, o senhor também afirma que a Rede Globo elegeu e reelegeu FHC. Quem é o candidato da Rede Globo para 2018?
Amorim – O candidato da Globo para 2018 é ela mesma. E quem representar seus interesses. Ou seja, quem tiver mais chance de derrotar o que o FHC, aquele que é pai do filho que não é dele, chama de “lulo-petismo”.
EC – O senhor concorda com a tese de que impeachment é golpe? Por quê?
Amorim – É golpe, porque a presidenta não roubou.
EC – Qual o interesse eu os grupos Folha, Estadão e Rede TV na investigação e divulgação dos Panama Papers?
Amorim – Nenhum. Porque a Globo está atolada neles.
EC – Num Brasil ideal, como deveria ser o papel da imprensa diante dos vazamentos seletivos de informação por parte da Justiça, Ministério Público e Polícia Federal?
Amorim – Num Brasil ideal não existiria a Globo.
EC – De que forma se dá a relação das empresas de comunicação e os políticos que hoje exercem influência no legislativo?
Amorim – A Globo é a oposição. O resto é coadjuvante.