Estrategista de Bolsonaro e Trump ataca o Papa
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Em meio a mais um ataque de setores da ultradireita católica ao Papa Francisco, o professor emérito de teologia da Universidade de Catania, Itália, padre Giuseppe Ruggieri, afirma que as atitudes deflagradas pelos setores tradicionalistas da Igreja Católica contra o pontífice são ações orquestradas e aponta o ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon, como um dos principais “encorajadores” da campanha. A Bannon também é atribuído o sistema de guerra híbrida que espalhou fake news na campanha eleitoral que elegeu Bolsonaro, no Brasil e ascensão da direita em outros países. Para Ruggieri “a carta é muito superficial e ignora os resultados do sínodo das famílias”.
No final de abril, 81 acadêmicos ultratradicionalistas católicos divulgaram uma carta denunciando Francisco como responsável pelo delito de heresia, um dos mais graves desvios dentro da igreja, conforme aponta o Direito Canônico da instituição. O documento é o terceiro de uma série que iniciou em 2016 e que tem como sua principal base a discordância dos conservadores com as resoluções do Sínodo das Famílias chamado por Francisco em 2014 para instaurar, entre outros assuntos, um novo entendimento da igreja em sua ação pastoral com casais divorciados e a comunidade LGBT.
Método Bannon
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Em artigo publicado no ano passado, Ruggieri faz críticas ao método Bannon que, através da plataforma Breitbart em apenas 90 dias forneceu uma contribuição decisiva para a eleição de Donald Trump.
No artigo o padre compara as diferenças do trabalho de Bannon com a plataforma VoteBuilder que arrecadou US $ 72 milhões através de micro doações para eleger Barack Obama duas vezes. “A plataforma de Barack Obama era inovadora e democrática, a de Steve Bannon, fascistóide”, afirma Ruggieri ao denunciar que o subproduto de Bannon é a coleta e a deturpação de informações sensíveis que se utiliza do apoio decisivo de trolls do Vale do Silício e de Wall Street. “Essa marca de infâmia permaneceu e é transferida para todos que ele contata”, disse o teólogo.
Bannon recentemente adquiriu um antigo mosteiro beneditino nas proximidades de Roma. O objetivo é criar uma universidade e emanar as ideias do The Movement, articulação populista de direita que pretende ampliar sua influência no mundo pós-eleição de Donald Trump. Vaticanólogos acreditam que, entre as estratégias de Bannon, estão ações para difamar e enfraquecer Francisco e preparar sua sucessão por um quadro alinhado ao pensamento ultraconservador.
A defesa e o silêncio de Francisco
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Até o momento, a contestação à Francisco não foi endossada publicamente por nenhum bispo ou cardeal. Nem mesmo o cardeal Raymond Leo Burke, um dos mais estridentes opositores de Francisco, que foi um dos quatro signatários de um pedido de esclarecimento sobre a exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia (A Alegria do Amor) que tinha o objetivo de constranger o Papa tem falado sobre o assunto.
O contrário, na realidade, é o que se tem verificado dentro dos muros do Vaticano. Em dura repreensão aos signatários que acusam Francisco de heresia, o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, a assembleia que reúne representantes do episcopado católico ao redor do mundo, declarou: “O Papa Francisco é o Papa e quando fala é Magistério”. No jargão eclesiástico, Magistério da Igreja Católica refere-se à função de ensinar que é própria da autoridade, no caso Francisco, e que, por isso, deve ser obedecido e seguido pelos demais católicos.
Atual presidente da Conferência dos Bispos Italianos, o cardeal Gualtiero Bassetti, também saiu em defesa do Papa, que segundo um de seus auxiliares, não tem respondido aos seus detratores porque prefere falar pelo silêncio. Para o cardeal Bassetti, o pensamento de Francisco não é improvisado, mas, sim, “fruto de uma reflexão teológica profunda e viva decorrente de sua experiência como pastor e teólogo”, destacou.