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YouTube é multado em US$ 170 milhões por direcionar publicidade a crianças

Plataforma de vídeos do Google foi denunciada por rastrear, para fins publicitários, as atividades de usuários infantis na web
Por Gilson Camargo / Publicado em 5 de setembro de 2019
Comentários em vídeos infantis serão desativados pela pataforma após multa de US$ 170 milhões

Foto: Youtube/ Divulgação

Comentários em vídeos infantis serão desativados pela pataforma após multa de US$ 170 milhões

Foto: Youtube/ Divulgação

A Comissão Federal do Comércio, órgão regulador das atividades comerciais dos Estados Unidos, anunciou um acordo com a plataforma de vídeos do Google, o YouTube, após a conclusão de uma investigação sobre a privacidade de crianças on-line. Além de uma multa de 170 milhões de dólares, o acordo exige que o YouTube deixe de usar dados para segmentar anúncios em vídeos direcionados a crianças, mesmo que o público-alvo sejam espectadores adultos. As atividades de “influenciadores” do YouTube serão acompanhadas para assegurar o cumprimento das regras de privacidade internacionais. O conteúdo infantil não deverá ser removido do YouTube, mas o canal terá que dificultar o acesso ou torna-lo menos atraente quando os comentários e a assinatura de canais forem desativados para as crianças de menos de 13 anos. As mudanças exigem que os próprios criadores classifiquem seus vídeos como dirigidos a crianças. O YouTube informou que irá desenvolver novos softwares automáticos para identificar conteúdo infantil não reportado como tal por seus criadores.

Chopra, da FTC: “Youtube fisgava crianças usando versos infantis, desenhos animados e outras formas de conteúdo dirigido, a fim de alimentar seu negócio de publicidade comportamental”

Foto: FTC/ Divulgação

Chopra, da FTC: “Youtube fisgava crianças usando versos infantis, desenhos animados e outras formas de conteúdo dirigido, a fim de alimentar seu negócio de publicidade comportamental”

Foto: FTC/ Divulgação

O acordo dividiu as autoridades federais sobre o controle das atividades de grandes empresas de tecnologia. A Comissão Federal do Comércio ou Federal Trade Comission (FTC) e a Secretaria da Justiça do estado de Nova York anunciaram a penalidade do YouTube depois de um ano de investigações abertas por denúncias de organizações de defesa do consumidor. A plataforma, de acordo com as queixas, recolhia ilegalmente dados sobre crianças com o objetivo de vender publicidade de produtos como bonecas Barbie e massinha de modelar. A FTC afirmou que o YouTube rastreava as atividades dos usuários infantis de internet com menos de 13 anos, com o objetivo de manter elevado o seu número de usuários. O acordo admitiu que o YouTube não se manifestasse sobre as acusações e que nenhum dos seus executivos ou de seu controlador, o Google, fosse punido.

Os comissários democratas da FTC, entre os quais Rohit Chopra, votaram contra o acordo, mas foram derrotados por três a dois. A presidente do YouTube, Susan Wojcicki, afirmou que a empresa promoveria mudanças em sua plataforma, entre as quais a desativação de comentários em vídeos de crianças e a eliminação da coleta de dados em vídeos dirigidos ao público infantil. “A companhia tentava fisgar as crianças usando versos infantis, desenhos animados e outras formas de conteúdo dirigido a crianças, em canais com curadoria do YouTube, a fim de alimentar seu negócio de publicidade comportamental, imensamente lucrativo”, afirmou Chopra.

Em 2012, o FTC multou o Google em US$ 22,5 milhões por violar um acordo de privacidade anterior com a agência. Nesse mesmo ano, o Google superou US$ 50 bilhões em receita anual pela primeira vez.

Susan Wojcicki, CEO do Youtube, anunciou a desativação de comentários em vídeos de crianças e a eliminação da coleta de dados em vídeos dirigidos ao público infantil

Foto: Youtube/ Divulgação

Susan Wojcicki, CEO do Youtube, anunciou a desativação de comentários em vídeos de crianças e a eliminação da coleta de dados em vídeos dirigidos ao público infantil

Foto: Youtube/ Divulgação

Controlado pela Alphabet, o Google é alvo de outra ação regulatória em Washington, onde o Departamento da Justiça abriu uma investigação antitruste sobre a plataforma de buscas da companhia, que domina o mercado. A multa aplicada pela FTC e pelo estado equivale a menos de 2% do lucro do Google no último trimestre. Em 2012, a empresa recebeu uma multa de 22,5 milhões de dólares por descumprir um acordo de privacidade anterior com a agência. A receita da companhia naquele ano superou os 50 bilhões de dólares. Em julho, a FTC votou pela imposição de uma penalidade de US$ 5 bilhões a outra gigante de tecnologia, o Facebook, por atividades mais graves, entre as quais convencer usuários a compartilhar informações pessoais sob falsos pretextos. A rede social de Zuckerberg registrou um lucro de quase 7 bilhões de dólares no último trimestre de 2018 e mais de 22 bilhões em lucro em todo o ano.

O acordo firmado nesta semana determina que o YouTube respeite a Regra de Proteção a Crianças Online, uma das mais rigorosas leis federais. Integrantes do Partido Democrata e grupos de consumidores acharam que o valor não era o suficiente, uma vez que o Google gerou mais de 136 bilhões de dólares em receita em 2018. Ainda assim, a multa é 30 vezes maior que a penalidade mais alta da FTC por violações da privacidade on-line de crianças, de acordo com Andrew Smith, diretor da unidade de proteção ao consumidor da FTC.

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