Brasil tem 77 mortes e 2.915 casos confirmados de coronavírus
Foto: Pablo Valadares/ Câmara dos Deputados
Arte: Ministério da Saúde
Um mês depois do primeiro caso confirmado de contágio pelo novo coronavírus (covid-19), o país encerrou essa quinta-feira, 26, com um total de 77 mortes e 2.915 casos confirmados pelo Ministério da Saúde. No entanto, desde a coletiva de imprensa das autoridades de saúde até o início da noite, novas notificações já haviam sido comunicadas pelas secretarias estaduais de Saúde. O Rio Grande do Sul, que constava no balanço do ministério com 158 casos confirmados, passou para 190 com os novos registros da SES/RS. Apenas a atualização desse estado já aumentaria o contágio global do país para 2.947. As novas notificações serão divulgadas somente nesta sexta-feira, 27.
A perspectiva da equipe de Saúde do ministério para próximo mês é que a epidemia aumente no Brasil, uma vez que o país está no início da curva de crescimento pela qual outras nações já estão passando, como Estados Unidos, Itália e Espanha. Informou que não serão feitas projeções de casos, mas adiantou que deverá haver mais mortes e mais contágios. “Vamos ter 30 dias muito difíceis. Não vamos conseguir reduzir em 30 dias. Vamos enfrentar isso. É difícil fazer previsão. Essas simulações são muito precoces para fazer. O número de casos depende de variáveis da transmissão e do número de testes. Agora não vamos fazer previsão de quanto teremos em 30 dias. Nossa intenção é fazer que a curva reduza o máximo possível”, disse o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis.
Arte: Ministério da Saúde
Enquanto o Congresso dos Estados Unidos discute a liberação de 2 trilhões de dólares para minimizar o impacto econômico causado pelo coronavírus, com transferências em dinheiro no valor de 1,2 mil dólares por trabalhador, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira o pagamento de um auxílio emergencial por três meses, no valor de R$ 600,00, a pessoas de baixa renda. A medida foi incluída pelo deputado Marcelo Aro (PP-MG) no Projeto de Lei 9236/17, de autoria do deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG). Para as mães que são chefe de família (família monoparental), o projeto permite o recebimento de duas cotas do auxílio, totalizando R$ 1,2 mil. O texto será analisado ainda pelo Senado.
Ao longo da semana e de forma mais agressiva a apoiadores e jornalistas na saída do Palácio do Planalto nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro vem pressionado pelo fim do protocolo de isolamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e seguido por todos os países e governadores de estado no Brasil. Duramente criticado por Bolsonaro e apoiadores, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta saiu de cena das coletivas do ministério desde quarta-feira e fez aparições ao lado do presidente nas quais relativizou a defesa que vinha fazendo das medidas para impedir uma onda de contágio mais grave. Ao contrário do governo federal, os governadores de estados, mesmo apoiadores de Bolsonaro, se rebelaram e afirmam que irão manter o isolamento social. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou nesta noite que o estado não deve sair da quarentena pelo menos nos próximos dez dias.
Foto: Marcos Corrêa/PR
Na quarta-feira, após pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional, as mortes já haviam se expandido para além de São Paulo e do Rio de Janeiro, com notificações de casos fatais em Pernambuco, no Rio Grande do Sul e no Amazonas. Um caso de óbito por covid-19 chegou a ser informado no Distrito Federal, mas foi descartada pelo ministério. Enquanto os dados da pandemia eram divulgados pelo ministério, o presidente da República fez uma aparição no cercadinho do Palácio para pregar o fim do isolamento social. Fez considerações irônicas sobre a gravidade da pandemia e mandou um assessor buscar no carro caixas de medicamentos que disse ser a cura para o coronavírus. “O brasileiro tem que ser estudado. Cai no esgoto e nada acontece”, disse, ao defender o isolamento vertical. “Deixem seus idosos num canto, vão trabalhar e depois passem um álcool em gel”. O presidente voltou a subestimar a gravidade da pandemia que já provocou a morte de mais de 2,3 mil pessoas em todo o mundo e beira a 80 no seu próprio país. Ele atacou governadores e prefeitos que decidiram manter o isolamento social e afirmou que impacto na economia é mais importante que a saúde da população.
“Alguns prefeitos e governadores erraram na dose. Foi uma catástrofe. O turismo passou para zero. Ninguém faz mais turismo. A rede hoteleira está em 10% de sua capacidade. Olha a desgraça que está aí”, lamentou. “Agora não existe mais diarista, não existe mais manicure, Uber não funciona. Não dá para entender que essa onda é muito mais preocupante do que a doença?”. A um repórter que o questionou sobre o resultado dos seus exame para coronavírus, Bolsonaro respondeu transtornado. “Você dorme comigo? Para que você quer saber? Eu estou bem. Não estou infectado, a minha palavra vale mais do que um papel”.
Mais contágios que a Itália nos primeiros 30 dias de pandemia
Arte: Ministério da Saúde
Considerando os primeiros 30 dias de pandemia, a situação do Brasil é menos grave do que a da China, que em um mês de contágio registrou 213 mortes e 9.802 casos. Porém, é pior do que a Itália, que nos primeiros 30 dias tinha 29 mortes e 1.694 casos de contágio confirmados.
O secretário executivo afirmou que a comparação entre Brasil e Itália deve ser ponderada por uma série de aspectos, como pelo fato dos países terem faixas etárias diferentes (a Itália com mais idosos) e pelo Brasil ter mais leitos de Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) do que aquele país. Porém, o Brasil tem 95% dos leitos de UTI ocupadas por pacientes por outras enfermidades, o que não foi comentado na coletiva.
O secretário minimizou o impacto do número de casos até agora. “O fato de termos mais casos não significa nada. Nós começamos de forma mais lenta, mas em compensação a Itália teve crescimento abrupto, que esperamos que nós não tenhamos. Pode ser que daqui a uma semana, nossa situação seja muito melhor que a Itália. Temos uma expectativa que nós não vamos ter número de óbitos proporcional que Itália está tendo. Precisamos esperar mais algumas semanas”, respondeu.
O total de casos confirmados saiu de 2.433 n a quarta-feira para 2.915 casos. O resultado desta quinta marcou um aumento de 54% nos casos em relação ao início da semana, quando foram contabilizadas 1.891 pessoas infectadas. Do total de mortes, 58 foram em São Paulo, nove no Rio de Janeiro, três no Ceará, três em Pernambuco, uma no Amazonas, uma no Rio Grande do Sul, uma em Santa Catarina e uma em Goiás.
Arte: Ministério da Saúde
Como local de maior circulação do novo coronavírus no país, São Paulo também lidera o número de pessoas infectadas, com 1052 casos confirmados. Em seguida vêm Rio de Janeiro (421), Ceará (235), Distrito Federal (200), Rio Grande do Sul (158 atualizados pela SES/RS para 190 casos no início da noite) e Minas Gerais (153).
Também registram casos confirmados Santa Catarina (122), Bahia (104), Paraná (102), Amazonas (67), Pernambuco (48), Espírito Santo (39), Goiás (39), Mato Grosso do Sul (25), Acre (24), Rio Grande do Norte (19), Sergipe (16), Pará (13), Alagoas (11), Mato Groso (11), Maranhão (10), Piauí (nove), Roraima (oito), Tocantins (sete), Rondônia (cinco), Paraíba (cinco) e Amapá (dois).
A avaliação da equipe do Ministério da Saúde é que o avanço do número de casos de coronavírus tem sido “abaixo da expectativa”, com evolução de 33% a cada dia. Desde o 100º caso, a média foi de 31% por dia. Nesta semana, houve dias em que os números subiram até 20%. Contudo, o secretário de vigilância e saúde, Wanderson de Oliveira, lembrou que isso se deve também ao fato dos testes que detectam a doença estarem sendo destinados a casos mais graves. Com o aumento dos exames anunciado ontem, a perspectiva é que o número seja elevado. Dos casos de hospitalização em estado grave, 87,2% são por covid-19, total de 341. Nesta quinta-feira, dos 440 internados em UTIs, 440 casos, ou 17%, deram positivo para o coronavírus. Nas enfermarias, foram 13,9% de 562, ou 78 casos confirmados. Para Oliveira, são pontos positivos do enfrentamento à pandemia no país a força do sistema de saúde, a capacidade de detectar “oportunamente” o surto, a disponibilização de material para assistência e as ações para atenção primária e criticou a falta de investimentos na automatização de laboratórios centrais.
Um problema adicional na avaliação da equipe é o fato desse próximo período de crescimento da curva do novo coronavírus coincidir com o pico de casos de dengue e com a epidemia de influenza. Oliveira afirmou que será como uma “tempestade perfeita” que demandará uma atuação voltada às três doenças. “Teremos coronavírus, influenza e pico de dengue. Estamos com três epidemias simultâneas. Aproveitem que estão em casa e limpem o quintal, eliminem focos de dengue e vacinem-se conforme o calendário. Se faltou vacina, converse com gestor e pergunte que dia que tem que voltar”, recomendou.
*Com informações das agências, EBC e Ministério da Saúde.