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Anistia Internacional pede Justiça para João Pedro morto pela polícia

Comoção nas redes sociais e mobilização de entidades dos direitos humanos marcaram esta terça, 19, após a família encontrar o menino morto no IML. Ele foi baleado na segunda-feira, em casa, pela polícia
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 19 de maio de 2020

“Até quando vamos continuar perdendo os João Pedros deste país?”, escreveu a atriz Thaís Araújo em Twitter no início desta tarde, 19. O desabafo da global se somou a uma infinidade de manifestações de indignação e cobranças às polícias Militar e Civil do estado do Rio de Janeiro e do governador, Wilson Witzel, pela morte do menino João Pedro Mattos, de 14 anos.

Em mais uma operação policial desastrada em uma comunidade fluminense, o adolescente foi alvejado dentro de sua casa em uma perseguição a supostos traficantes. Ele brincava com os primos.

A comoção nas redes sociais iniciou na noite desta segunda-feira, 18, quando João Pedro foi levado de sua residência no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, por um helicóptero da Polícia Civil e a família só o localizou na manhã desta terça-feira, 19, morto no Instituto Médico Legal (IML).

Vítima negra e pobre

Uma mobilização vigorosa nas redes sociais pede  para que o caso seja tratado como mais um assassinato de uma vítima negra e pobre. “Meu coração sangra pela família do menino João Pedro! Todo dia a favela chora de alguma forma! Todo dia o povo preto sofre de alguma forma! Todo dia nos matam um pouco de alguma forma! Chega de genocídio! Chega!”, postou Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, assassinada em 2018.

Neilton Pinto, pai de João Pedro, lamentou revoltado, em uma entrevista à TV Globo,  a interrupção do “sonho de um jovem de 14 anos” pela polícia. Ele contou que os agentes chegaram em sua casa de uma “maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era”.

Uma tia de João Pedro disse ainda que não houve prestação de socorro pelos policiais que vitimaram o rapaz. Segundo ela, foram os primos que realizaram o primeiro socorro levaram João Pedro até um helicóptero da Polícia Civil.

Um dos primos de João foi quem denunciou o caso ainda na noite de segunda-feira. No Twitter, ele acusou a polícia de plantar provas contra a vítima. “Gente, pelo amor de Deus, me ajudem […] Os traficantes entraram na casa e os policiais saíram atirando e atingiram ele na barriga”, afirmou.

Anistia Internacional

Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, disse que as operações policiais como as que vitimaram João Pedro são um absurdo e “aquém de qualquer padrão de responsabilidade com a vida”. Ela destaca que, um dia antes do ocorrido com jovem do Complexo do Salgueiro, 13 pessoas no Complexo do Alemão também acabaram sendo vitimadas.

Para a ativista, qualquer operação policial deve seguir padrões de respeito à vida e à segurança das pessoas. Indignada, ressaltou que “em meio a uma pandemia, quando todos os esforços deveriam estar voltados para garantir saúde e vida da população, o Estado do Rio de Janeiro se faz presente nas favelas do Estado levando violência e morte”. Jurema conclui: “Exigimos responsabilidade e compromisso com os direitos humanos de todos e todas. Nenhuma vida vale menos que a outra”.

Após o contato do Extra Classe, a Anistia Internacional também enviou um vídeo recentemente gravado com sua dirigente. Nele, Jurema manifesta que, ao lado de outras entidades, quer justiça e reparação das autoridades.

Outras manifestações na rede

Nas redes sociais ainda se destacaram os post do Youtuber Felipe Neto que disse: “O caso João Pedro não é menino morre. João Pedro foi ASSASSINADO pelo Estado, executado dentro de casa e em seguida teve seu corpo sequestrado, deixando a família em prantos.
Um jovem negro assassinado por uma política de segurança pública ineficaz, brutal e sem preparo”.

Para o deputado federal Marcelo Freixo (PSol-RJ), “No meio de uma pandemia, João Pedro foi baleado em casa durante uma operação em São Gonçalo. O estudante foi levado por policiais e sua família ficou 12h sem nenhuma notícia. Eles descobriram de manhã que seu corpo estava no IML. Mais uma criança. Até quando? #procurasejoaopedro”.

Joanna Maranhão, ex-nadadora, afirmou: “Notícia de João Pedro que estraçalha nosso coração, escancara o racismo e acaba com nossas esperanças em dias melhores. Meus sentimentos a família e meu abraço a todas as mães de crianças negras desse país que temem finais como esse”.

Já o humorista Marcelo Adnet, ressaltou sua tristeza. “Notícia de João Pedro que estraçalha nosso coração, escancara o racismo e acaba com nossas esperanças em dias melhores. Meus sentimentos a família e meu abraço a todas as mães de crianças negras desse país que temem finais como esse”.

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