Críticas à ação militar de Israel em Gaza gera hostilidades no meio acadêmico
Foto: reprodução TV Brasil/Acervo pessoal
O tensionamento social com o conflito no Oriente Médio entre Israel e o grupo Hamas também está repercutindo no ambiente acadêmico brasileiro. Independente da origem, judaica ou árabe, posicionamentos contra a ação militar do governo de direita liderado por Benjamin Netanyahu, que está cercando e bombardeando a população da Faixa de Gaza são hostilizados no meio acadêmico, em eventos universitários e rendem até petições públicas ao estilo caça-às-bruxas.
No caso do professor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Salem Nasser, até a conclusão dessa matéria 7.889 pessoas subscreveram uma petição eletrônica de repúdio à instituição de ensino superior pelo posicionamento do Doutor em Direito Internacional em artigo publicado na Folha de São Paulo.
Nasser, dois dias após a eclosão do conflito, afirmou que a decisão do jornal paulista de se referir ao Hamas como grupo terrorista deveria também ser estendida à Israel e seu governo.
Para ele, Israel pratica terrorismo de Estado ao desrespeitar “todas as normas possíveis do direito humanitário” e promover o que entende “a limpeza étnica” do povo palestino.
Bastou para que na plataforma Change.org surgisse apocrifamente uma moção que exige da FGV “uma posição firme contra qualquer professor ou colaborador que se utiliza do nome da instituição para disseminar um discurso de ódio contra qualquer indivíduo ou minoria e para apoiar atos terroristas”.
Solidariedade emociona professor da FGV
Em solidariedade à Nasser, um dia depois na mesma plataforma foi disponibilizada a petição Pela liberdade acadêmica e em defesa do professor Salem Nasser.
Ultrapassando 10 mil assinaturas até o momento, o texto afirma ser inaceitável dizer que o artigo de Nasser “promove o ódio, apoia e justifica atos terroristas” e que muito menos o professor daria a entender que sua opinião seria um posicionamento da FGV. “Trata-se de uma leitura crítica e pessoal de um intelectual e livre pensador”.
Para os apoiadores do professor da FGV a mensagem do artigo era clara. Uma crítica à cobertura dada pela Folha de São Paulo ao conflito.
A ação emocionou o professor. “Ao longo dos últimos dias, milhares de pessoas, muitas das quais não me conhecem pessoalmente, saíram em minha defesa, me deram apoio nas redes sociais, se solidarizam comigo; subscreveram um abaixo assinado que fazia a minha defesa e, também, a defesa da liberdade acadêmica, e da liberdade de expressão. Eu queria hoje poder conhecer cada um daqueles que eu não conheço, abraçar todos, dizer o meu muito obrigado e dizer o quanto eu sou devedor por toda essa solidariedade”, disse.
Professor judeu foi acusado de antissemita e saiu escoltado de palestra na PUC
Michel Gherman, doutor em História Social e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é judeu, se declara um sionista de esquerda e já perdeu as contas de quantas vezes já foi hostilizado por seu posicionamento crítico à ocupação de terras palestinas.
“Cada vez que recebo um abaixo assinado contra mim, tiro mais um nome de convidados da próxima festa. Além de me livrar de hipócritas essas listas estão me dando lucro”, fala.
Ele não esperava no entanto que em um debate acadêmico sobre as causas do conflito entre Israel e o grupos Hamas, realizado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, tivesse que se retirar sob ofensas e ameaças de alunos presentes.
Mesmo classificando o Hamas como um grupo terrorista, Gherman precisou ser escoltado porque falou sobre a importância de uma negociação com a Autoridade Nacional Palestina para buscar uma solução conjunta para o conflito.
Para o professor, a discussão, saiu do âmbito acadêmico. “Eles (os alunos) foram para o evento preparados para impossibilitar qualquer diálogo”.
Gherman credita o seu silenciamento a um movimento organizado. “Pelo que tudo indica, por grupos ligados à extrema-direita. No meio da discussão, começaram a me acusar de ser simpático ao Hamas; eu dizia que não era. Impediram qualquer tipo de argumentação, me acusaram o tempo todo de ser antissemita e eu repetia, todo o tempo, de que não apenas não sou antissemita, como sou judeu e a favor do Estado de Israel e absolutamente contrário ao Hamas”, registra.