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Dos 47 milhões de jovens brasileiros, 31 milhões estão sem ocupação ou na informalidade

E 10,9 milhões dos jovens entre 15 e 29 anos estão sem estudar e trabalhar. Um cenário estarrecedor, dizem especialistas
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 12 de dezembro de 2023
Dos 47 milhões de jovens brasileiros, 31 milhões estão sem ocupação ou na informalidade

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A questão posta é o que está sendo feito diante de todo um futuro jogado fora, questiona o sociólogo e doutor em Demografia José Eustáquio Diniz Alves

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A quantidade de jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos que não estudam e não trabalham, os chamados nem-nem, é maior que toda a população de Portugal, que tem 10,3 milhões de habitantes.

Além desse dado extraído do último Censo Nacional do ano passado, pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apresentada nesta semana, acrescenta outra dose de preocupação: 43% dos jovens brasileiros nessa faixa etária – quase o dobro da nação ibérica – estão trabalhando como informais no país.

Com uma população entre 15 e 29 anos que corresponde a 23% dos habitantes do Brasil, a questão posta é o que está sendo feito diante de todo um futuro jogado fora, questiona o sociólogo e doutor em Demografia José Eustáquio Diniz Alves, autor da analogia entre Brasil e Portugal.

Se em um primeiro momento o Ministério da Educação (MEC) aposta fichas na criação de um fundo privado de financiamento de bolsas para incentivar estudantes pobres a permanecerem no ensino médio, o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara integra grupo de educadores que vê a iniciativa com ceticismo.

Para ele, o problema maior é a descrença em relação à escola. Isso tanto em relação a não permanência dos jovens quanto a condição de trabalho informal.

Sem políticas que valorizem de fato o estudo

“Eu não sou contrário. Mas do jeito que está feito, como está tramitando no Congresso Nacional, a escola vai continuar muito ruim e a bolsa vai ser simplesmente um chamariz para o consumo”, diz Cara.

Ao todo, a iniciativa que surge através da Medida Provisória 1198/23, assinada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva no dia 28 de novembro, prevê recursos que podem chegar até R$ 20 bilhões da União.

São valores para o Bolsa Permanência no Ensino Médio para Estudantes de Baixa Renda que sairão do orçamento público, de empresas estatais federais ou de companhias nas quais o governo tem participação minoritária e que no futuro ainda pode agregar aportes adicionais via leilões do pré-sal como contrapartida social.

Cara diz que, sem políticas que valorizem de fato o estudo como a Nova Reforma do Ensino Médio, o Bolsa Permanência “só vai aquecer o mercado de celulares”, ironiza.

A permanência, no entendimento do educador, pode ser falsa. “Inclusive, o relato que existe dos estados que aplicam esse tipo de política é uma ameaça aos professores para marcar a presença dos estudantes”, considera.

O professor da USP registra a necessidade do Brasil voltar a ter a ambição de ser um país de fato desenvolvido.

“A gente fica administrando um país sem projeto, que não apresenta nada para os jovens como alternativa real. Então, o caminho mais fácil que está sendo discutido é apresentar a bolsa; mas, logo depois que os alunos tiverem acesso ao recurso, acabou o sentido dela, salvo raríssimas exceções. E não é uma crítica aos jovens. É que eles não veem outro sentido”, lamenta.

Ensino deixou de fazer sentido para os jovens

Quanto aos jovens identificados pela Fiocruz, Cara, destaca o problema de ordem econômica.

Refletindo um cenário que chama estarrecedor, ele diz que o ensino até o ingresso na universidade está deixando de fazer sentido.

“Existe uma questão para os jovens que se pautam no efeito demonstração. Qual o efeito demonstração de quem está entrando na universidade hoje? Quem cursa um curso universitário, salvo raras exceções, não vai conseguir ingressar na profissão pela qual foi formado. Então, você está cheio de engenheiros fazendo Uber. Aí, eles pensam o seguinte: se é para fazer Uber, para que eu vou fazer universidade?”.

No entendimento de Cara, a falta de perspectiva econômica leva ao desalento.

“É o que o Brasil está vivendo. E para tranquilizar os brasileiros, não é diferente do que na Europa está ocorrendo. Não é diferente do que nos Estados Unidos está ocorrendo. A diferença é que nos países do Norte a estrutura econômica é tão boa, é tão avançada, que, por exemplo, eu tenho o caso de um casal conhecido que o marido está fazendo Uber e consegue tirar, trabalhando pouco, 3.500 dólares por mês. Se ele trabalhasse muito, ele faria 10.000 dólares por mês. É um baita salário”, conclui.

Extra Classe enviou solicitações de entrevistas aos secretários de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino, Maurício Holanda Maia, e de Educação Profissional e Tecnológica, Getúlio Marques Ferreira, do MEC e a Assessoria de Imprensa da pasta. Até a conclusão da matéria não houve retorno.

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