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Na volta para casa, os cuidados na limpeza e o que pode ser recuperado

Os principais cuidados ao voltar para casa e o que pode ser recuperado com ajuda de universidades, cooperativas e cursos politécnicos
Por Sílvia Marcuzzo (colaborou César Fraga) / Publicado em 22 de maio de 2024

Na volta para casa, os cuidados na limpeza e o q pode ser recuperado

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

 

Voltar para uma casa que foi invadida pela enchente requer não só uma dose de resiliência emocional, mas alguns cuidados importantes. Por isso, é preciso adotar medidas de prevenção para evitar futuros problemas. É possível, até mesmo recuperar algumas coisas, como eletrodomésticos. Em primeiro lugar, torna-se necessário evitar riscos. Antes de qualquer coisa, deve-se observar se não há postes ou fios elétricos caídos no entorno da sua residência. Todos os disjuntores precisam ser desligados.

É preciso evitar ao máximo colocar a mão ou os pés em contato direto com a lama ou a água residual. Recomenda-se o uso de rodos e vassouras com água abundante.

Conforme as orientações do Núcleo de Estudos em Saneamento Ambiental da Ufrgs (Nesa), as águas de inundação representam um risco à saúde humana por poder conter diversos tipos de patógenos. Entre as doenças infecciosas ou parasitárias que podem ser adquiridas estão diarreia e gastrointerites, febre tifoide, hepatite A, leptospirose e giardíase.

A orientação é proteger-se com o uso de luvas de borracha ou látex, óculos de proteção e um sapato ou bota antiderrapante. E, de preferência use máscara, caso exista a possibilidade de respingos de água no rosto.

Para desinfecção, deve-se preparar uma solução de duas xícaras de chá (400ml) de água sanitária para um balde com 20 litros de água. Deixe agir a mistura por 15 minutos. Esse preparo pode ser usado para piso, paredes, móveis. Tudo que não tiver relação com eletricidade.

Os aparelhos devem ser desconectados das tomadas. E nada de tentar ligá-los. O recomendado é lavá-los com água corrente, retirar o máximo possível a lama, pelo menos superficialmente. Se tiver lava-jato, use apenas nas partes lisas. Jamais jogar água com pressão na traseira de geladeiras ou motores. Depois disso, os eletrodomésticos devem secar. Podem inclusive ficar expostos ao sol ou à sombra. Só depois de bem secos é que deve se começar a desmontá-los.

Procedimento com lama e entulhos

O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) também elaborou um guia detalhado  para orientar a população sobre cuidados importantes para evitar contaminações nesse momento.

Para limpeza da lama que invadiu residências e comércios, por exemplo, a orientação é que o lodo seja removido e que sejam colocados em frente às casas entulhos e o lixo dos quintais, para serem recolhidos pelos serviços de coleta. Os panos e vassouras utilizados na higienização e desinfecção dos locais e dos objetos devem ser descartados após o uso, devido ao risco de contaminação. 

Caixas d’água 

Importante verificar a presença de rachaduras, que podem comprometer a estrutura. Antes de iniciar a limpeza é necessário fechar o registro e esvaziar a água da caixa. As paredes e o fundo do recipiente devem ser esfregados com escova macia ou esponja e água limpa, não devendo ser utilizado sabão ou detergente. Após, recomenda-se encher a caixa e acrescentar 1 litro de água sanitária para cada 1.000 litros de água, e deixar a solução agir por duas horas e esvaziar novamente, para garantir a desinfecção. 

Mobílias e estofados 

Móveis e estofados que estiverem com a estrutura comprometida devem ser descartados. Para remover a sujeira das superfícies deve ser utilizado sabão neutro com água morna e para desinfetar as mobílias devem ser utilizados produtos desinfetantes que sejam recomendados de acordo com o tipo de material. Após a limpeza os móveis devem secar em ambiente ventilado, preferencialmente com exposição ao sol. 

Nos estofados é possível utilizar aspirador de pó para remover a sujeira seca e água morna com sabão neutro para limpar. Para desinfecção, é preferível o uso de desinfetantes específicos para tecidos e estofados em vez de água sanitária (que pode manchar). Assim como as mobílias, devem secar completamente em local arejado. Em caso de odor persistente após a limpeza o descarte deverá ser considerado. 

Elétricos 

A instalação elétrica deve ser analisada por um eletricista antes de religar os disjuntores. Rompimento de fios elétricos são perigosos e devem ser informados para a concessionária de energia, e a recomendação é para ficar distante dos cabos. Em locais que ficaram alagados não devem ser plugados na tomada carregadores de celular se ainda houver umidade no local. Aparelhos elétricos nunca devem ser manuseados se a pessoa estiver com as mãos ou os pés úmidos.  

Toalhas e roupas 

Itens de vestuário e roupas de cama, assim como toalhas, devem ser separados dos demais. O ideal é que fiquem de molho na água quente com sabão por pelo menos 30 minutos e que, na sequência, sejam lavados na máquina de lavar também com água quente. Após, as roupas e toalhas devem ser estendidas para secar à luz do sol. Se houver manchas de mofo persistentes, deve-se considerar o descarte para evitar o crescimento de fungos e bactérias que possam causar problemas de saúde. Peças que não possam ser higienizadas devem ser descartadas. 

O guia traz ainda outras orientações sobre prevenção de doenças, consumo de alimentos e de água, consumo e destino de remédios. Baixe o guia completo em PDF

Reaproveitamento de eletrodomésticos

Na volta para casa, os cuidados na limpeza e o q pode ser recuperado

Foto: Divulgação

No NucMat, os técnicos consegue fazer reparos para que elétricos e eletrônicos voltem a funcionar

Foto: Divulgação

Com relação aos eletrodomésticos e lâmpadas Led, existe uma grande probabilidade de serem recuperados de forma gratuita. Na Região Metropolitana, universidades estão se mobilizando para transmitir informações e prestar serviços às comunidades atingidas pelas águas para salvar equipamentos.

Desde o dia 13 deste mês o Núcleo de Caracterização de Materiais (NucMat), da Escola Politécnica da Unisinos está recebendo eletrodomésticos de porte pequeno de moradores da região de São Leopoldo.

O professor Carlos Moraes, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, um dos coordenadores do NucMat, explica que o ideal é, ao manusear os aparelhos elétricos, se esteja de luvas de látex ou nitrílicas. Moraes observa que para lidar com os aparelhos, a pessoa deve ter experiência no assunto. Nesse caso, ele indica a lavagem com água corrente, sabão neutro e uma escova de dente velha. Depois disso, secar com secador de cabelo. Usar pano, só na parte externa.

Sem experiência, o melhor é levar em alguma oficina que tenha as ferramentas adequadas. O professor salienta que as lâmpadas também não podem ser ligadas úmidas. O NucMat consegue fazer reparos para que voltem a acender.

Na Unisinos, uma força-tarefa integrada por membros do Instituto de Inovação em Metalmetanica de São Leopoldo, da graduação e da pós graduação e do Senai estão empenhados em colocar em funcionamento aparelhos de pequeno porte, como sanduicheira, liquidificador, air frier, micro-ondas etc.

São alunos do ensino médio, de iniciação científica, das engenharias da computação, ambiental, elétrica, mecânica, e também do mestrado em engenharia civil e além de professores dos cursos da Escola Politécnica e funcionários do Laboratório de Materiais, Meio Ambiente e Eletrônica.

Até o momento, o NucMat recebeu 100 equipamentos. É a primeira vez que a universidade presta esse tipo de serviço. Antes, o laboratório já trabalhava no reparo de lâmpadas de Led, oriundas de Unidades de Triagem de Resíduos. Só no ano passado, eles fizeram a conferência de quatro mil lâmpadas, que haviam sido descartadas em domicílios. Dessas, mais da metade, 2.200 eram de Led e entre 15 a 25% estavam em boas condições, informa o professor Moraes.

O professor, que também é membro da Aliança Resíduo Zero Brasil, salienta ainda a necessidade de dar uma destinação adequada aos resíduos. Pilhas e baterias não podem ser dispostas no lixo comum. Devem ser entregues em locais de recebimento adequado ou na coleta seletiva. Um dos pontos de recebimento desse tipo de resíduo, eletroeletrônicos é a Cooperativa Paulo Freire (Rua Waldemar Gonçalves Pires, 125, Cristal, Porto Alegre, fone (51) 98485-6773). Outro local que presta este serviço é a Coopertec (Rua Alegrete, 625, Niterói, Canoas, fone (51) 98416-9301.

O que o NucMat, da Unisinos conserta:

  • Chuveiros
  • Lâmpadas Led
  • Torradeiras
  • Liquidificadores
  • Cafeteiras
  • Entre outros eletrodomésticos

O atendimento ao público é na sede da universidade em São Leopoldo (Av. Unisinos, 950, acesso três, Escola Politécnica), das 9h às 17h, de segunda à sexta.

Quem tiver dúvidas sobre o que fazer com seus equipamentos, pode responder o questionário on-line e enviá-lo.

A Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, também abriu um serviço similar, só que voltado a eletrônicos. Desde o dia 7 de maio, oferece limpeza e secagem de equipamentos molhados pela enchente. Os reparos são feitos por alunos dos cursos de Engenharia Elétrica, Eletrônica e de Computação.

Até o momento, 42 equipamentos já foram consertados e entregues. Mas ainda estão no laboratório outros 138. Por isso, devido a alta procura, eles não estão recebendo mais serviços. A Feevale informa que será divulgado nas redes sociais quando que setor estará pegando mais equipamentos. Os serviços são gratuitos nos laboratórios de Eletrônica, no terceiro andar do prédio Verde, localizado no Campus II da Instituição (ERS-239, 2755).

O que a Feevale conserta:

  • Computadores
  • Notebooks
  • Televisores
  • Aparelhos de som
    (desde que não estejam danificados ou quebrados e tenham condições de avaliação).

Saiba mais

Cartilha Mofo após enchente – Saiba os riscos para saúde, cuidados e como manejar, elaborada pela Sociedade Gaúcha de Infectologia e Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do RS

Guia Básico de equipamentos de Proteção Individual e Ferramentas, produzido pela Associação dos Profissionais de Design do RS

Guia de Cuidados ao Retornar para Casa, preparado pela Unisinos

Instruções para recuperação de eletrônicos, organizada pela Univates (enviado pelo zap)

Instagram do NESA – Núcleo de Estudos em Saneamento Ambiental do Instituto de Pesquisa Hidráulica da UFRGS (NESA

https://www.instagram.com/nesa_ufrgs?igsh=dWV3dm5ybHJzb2Q5

Orientações gerais do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde (MS), por sua vez,  elencou uma série de cuidados considerados indispensáveis durante a limpeza de casas e na remoção de entulhos.

“Nesse sentido, o Ministério da Saúde reforça as medidas de segurança para evitar doenças e acidentes, que podem ser provocados pela contaminação da água e dos alimentos, pela presença de animais peçonhentos e pelos riscos elétricos. Além disso, a higiene pessoal e do ambiente torna-se uma prioridade para prevenir surtos de doenças”, diz nota do MS.

Cuidados com a água

A água contaminada, de acordo com o ministério, é um dos principais riscos após enchentes. Algumas doenças podem se propagar facilmente em decorrência da contaminação da água e de alimentos, como diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A, giardíase, amebíase, verminoses e leptospirose.

“Não consuma alimentos que tenham tido contato com a água da inundação ou lama, incluindo alimentos embalados, enlatados ou alimentos perecíveis (como frutas, legumes e verduras). Antes de beber, é essencial adotar medidas para tornar a água segura para consumo.”

Para garantir que a água seja segura para consumo, a orientação da pasta é inclui as etapas de filtragem e desinfecção: use filtros domésticos, coadores de papel ou panos limpos para filtrar a água. Em seguida, adicione duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária) por litro de água, misture bem e aguarde 30 minutos antes de consumir. Caso não tenha hipoclorito de sódio, ferva a água por cinco minutos após o início da fervura. Deixe esfriar antes de consumir.

Alimentos

Durante e após uma situação de emergência, é possível que os alimentos não estejam em condições adequadas para serem consumidos. O cuidado na higienização, na preparação e no armazenamento dos alimentos, segundo a pasta, é um procedimento de extrema importância, já que alimentos manipulados e armazenados de forma inadequada podem transmitir doenças.

“É vital descartar qualquer alimento que tenha tido contato com a água da enchente, incluindo embalagens seladas que possam parecer intactas”, alertou o ministério. As demais orientações incluem não consumir alimentos embalados que tenham sido submersos, incluindo latas de metal herméticas que estejam danificadas, amassadas ou enferrujadas; e lavar cuidadosamente todos os utensílios de cozinha e superfícies com água limpa e sabão antes de usar.

Prevenção de doenças

O ministério recomenda evitar qualquer contato da pele com a água, já que transmissão hídrica não precisa de machucado para servir como porta de entrada para eventos de contaminação. Confira as principais doenças transmitidas por água e alimentos contaminados:

– leptospirose: causada por uma bactéria presente na urina de roedores e transmitida pela água contaminada. Se tiver febre, dores no corpo, especialmente na região lombar ou panturrilha, procure atendimento médico imediatamente.

– tétano: pode ocorrer através de ferimentos causados por objetos contaminados. Mantenha as vacinas em dia e, ao manusear destroços, use luvas e botas para evitar lesões.

Animais peçonhentos

Quando as águas das enchentes começam a baixar, animais peçonhentos como escorpiões, cobras e aranhas procuram abrigo em locais secos, incluindo o interior de residências, ou locais de acúmulo de entulhos, aumentando o risco de acidentes.

As recomendações da pasta incluem evitar tocar nesses animais, mesmo que pareçam mortos, e entrar em contato com autoridades competentes para a remoção segura.

Riscos elétricos

“A presença de água condutiva aumenta o risco de choques elétricos. Se houver qualquer sinal de eletricidade em áreas inundadas, mantenha distância e informe as autoridades”, destacou o ministério.

Outra orientação é evitar áreas alagadas com eletricidade exposta, incluindo proximidades de painéis solares, além de desligar a energia elétrica de residências caso seja necessário.

Contatos úteis em emergência

Por fim, o ministério pede que a população afetadas pelas enchentes em municípios gaúchos tenha sempre em mãos os seguintes números de emergência para rápida assistência:

– Bombeiros: 193

– SAMU: 192

– Defesa Civil: 199

* Com informações do Ministério da Saúde e Governo do Estado

 

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