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Envolvido em escândalos, general tenta golpe na Bolívia e é preso

Um dia antes, Juan José Zúñiga foi demitido após ameaçar ex-presidente de prisão. Repúdio ao golpe une adversários políticos
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 27 de junho de 2024

Foto: Reprodução/TV local

Presidente Luiz Alberto Arce (ao centro) ordenou que tropas voltassem para os quartéis

Foto: Reprodução/TV local

A democracia na Bolívia esteve mais uma vez em risco. Após o presidente Luiz Alberto Arce denunciar movimentos irregulares de unidades do exército, soldados cercaram o Palácio Quemado nessa quarta-feira, 26. Eles estavam sob o comando do general Juan José Zúñiga, chefe da força exonerado no dia anterior.

Confrontado, Zúñiga foi repudiado por situação e oposição e acabou preso após o anúncio da substituição dos três chefes das forças armadas bolivianas.

Zúñiga já foi acusado de fazer parte de um grupo de militares que atuava com contrabando nas fronteiras bolivianas, os “Pachajchos”. Ele também respondeu processo por escândalos de corrupção, como o desvio de até 2,7 milhões de bolivianos destinados a programas sociais.

A população de La Paz tentou se manifestar contra a ideia de derrubada de Arce, mas foi impedida de se aproximar da Praça Murillo, em frente à sede do governo pelo exército com gás lacrimogêneo. Os manifestantes carregavam placas pedindo respeito à democracia.

Os militares começaram a deixar a região por volta das 19 horas após ordens do novo comandante, o general José Wilson Sánchez.

Preso, Zúñiga disse à polícia sem apresentar provas que tinha atuado por ordens do próprio presidente Arce que não comentou a declaração.

Antes, o general tinha dito que o objetivo do golpe era estruturar a democracia. Ele acusou a elite política da Bolívia de “destruir a pátria”. Na terça-feira, 25, ele fez críticas e chegou a ameaçar de prisão o ex-presidente Evo Morales por uma possível candidatura à presidência do país nas próximas eleições.

Instabilidade e união na Bolívia

Foto: Divulgação/Exército da Bolívia

Juan José Zúñiga foi demitido após ameaçar ex-presidente de prisão

Foto: Divulgação/Exército da Bolívia

A democracia na Bolívia frequentemente vem sendo posta à prova. Evo Morales renunciou em 2019 depois de 21 dias de protestos nas ruas que questionavam a legalidade de sua quarta reeleição.

Ao apresentar a renúncia, Morales afirmou ter concordado em deixar o poder para evitar uma escalada da violência no país.

Um dos países mais instáveis da América Latina, em 199 anos de história a Bolívia contabiliza 194 tentativas golpes. Em quase 80 anos, foram oito golpes bem-sucedidos e nove fracassados.

Nesse período, o país trocou de presidente mais de 40 vezes. O atual, Arce, passa por uma crise de popularidade diante de um país que enfrenta dificuldades econômicas.

A tentativa frustrada de Zúñiga, no entanto, promoveu uma união até então não imaginada no país.

Após Arce e seu vice-presidente, David Choquehuanca, conclamarem resistência interna e internacional, o líder da oposição, Luiz Fernando Camacho e a ex-presidente de direita, Jeanine Añez, saíram em defesa da democracia e de Arce.

Camacho é um inimigo declarado de Arce, para quem perdeu as últimas eleições. Jeanine, então senadora, se autoproclamou presidente interina da Bolívia na crise que culminou com a renúncia de Morales em 2019.

Ela foi recentemente condenada a 10 anos de prisão por ter patrocinado um golpe para derrubar Morales.

Morales, por sua vez, também denunciou com força a tentativa de golpe de Zúñiga. Ele, apesar do mesmo partido de Arce, está com relações políticas rompidas com o atual presidente da Bolívia.

Repercussão da tentativa de golpe

A Suprema Corte da Bolívia e líderes internacionais também condenaram a tentativa de golpe na Bolívia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao tomar conhecimento do ocorrido na Bolívia, se reuniu com ministros para discutir a situação, reiterou nas redes sociais o compromisso do Brasil com a democracia e condenou qualquer forma de golpe de Estado.

Nota do Ministério das Relações Exteriores condenou a tentativa de golpe, manifestou apoio ao presidente Arce, ao povo boliviano e reafirmou a cooperação do Brasil com autoridades legítimas bolivianas e de outros países sul-americanos.

Presidentes de toda a América Latina e da Europa também se posicionaram contra a tentativa de golpe. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e Luiz Almagro, chefe da Organização dos Estados Americanos (OEA), também condenaram a tentativa de derrubar o governo democraticamente estabelecido na Bolívia.

Luiz Arce foi eleito em 2020, com 55% dos votos, muito mais do que o segundo e o terceiro colocados.

Apesar do presidente argentino Javier Milei não ter se manifestado, a chanceler Diana Mondino condenou a tentativa de golpe.

O departamento de estado dos Estados Unidos disse monitorar a situação, pediu calma e moderação, mas não se manifestou oficialmente.

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