Rebeca Andrade, Bia Souza e as coincidências de 20 anos do Bolsa Atleta
Foto: Alexandre Loureiro/COB
A medalha de Ouro que consagrou a ginasta Rebeca Andrade nesta segunda-feira, 5, como a maior medalhista olímpica do Brasil traz ainda algumas significativas coincidências.
Rebeca e a judoca Beatriz Souza, a Bia Souza, foram duas mulheres negras a fazer hino nacional tocar em Paris e, além disso, jogam luzes sobre um programa instituído no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em julho de 2004, o Bolsa Atleta.
Rebeca e Bia Souza integram os 87,3% dos atletas nacionais que recebem o benefício. Nada menos que 241 dos 276 que compõem a delegação brasileira.
Mas a importância do programa que completará 20 anos de implantação em 2025 cresce ao considerar o histórico da delegação que entrou para a história por mulheres terem ultrapassado a representação masculina.
Do total dos competidores na Olimpíada deste ano, 98% já foram beneficiados pelo Bolsa Atleta alguma vez em sua trajetória no esporte.
Além de ter auxiliado Rebeca (Ginástica Artística feminina) e Bia (Judô feminino + 78 KG) a conquistar para o Brasil duas medalhas de Ouro, duas de Prata e duas de Bronze nos jogos de Paris, o programa que é gerido pelo Ministério do Esporte esteve presente também nos pódios do Judô masculino e de Equipes Mistas, no Atletismo masculino, no Skate Street e Boxe femininos até o momento (Veja Quadro no final da matéria).
Programa é prioridade de Ministério
Foto: Redes Sociais/ Reprodução
São bolsistas o medalha de Prata Caio Bomfim, o primeira medalhista da história do país na Marcha Atlética, esporte do Atletismo disputado desde a Olimpíada de 1900; Willian Lima, Judô – 66 Kg; Rayssa Leal, Bronze no Skate Street feminino; Larissa Pimenta, Judô feminino – 52 Kg; Bia Ferreira, no Boxe feminino 60 Kg e todos que integram as equipes de Ginástica Artística feminina e Judô Equipes Mistas, medalhas de Bronze.
Em entrevista ao Extra Classe, a secretária nacional de Esportes de Alto Rendimento do Ministério dos Esportes, Iziane Marques, comemorou o fato de em 2024 o Brasil ter superado o recorde de atletas contemplados pelo programa que utiliza 50% das verbas da pasta.
“Isso mostra a relevância do programa não só para o Ministério, como para o governo”, destaca Iziane, que conquistou em 2011 a medalha de Bronze no Basquete feminino nos jogos Panamericanos de Guadalajara.
Hoje são no total 9.075 atletas que recebem o benefício. Destes, 359 estão na classificação Pódio, que recebe os maiores valores, e 8.716 nas demais categorias (Veja Quadro).
Foco no esporte
Foto: Ronaldo Caldas/MEsp
O programa é destinado a atletas de modalidades Olímpicas e Paralímpicas reconhecidas pelo (Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
A prioridade é dada para esportes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, seguidos por esportes dos Jogos Pan-Americanos. Os critérios de remuneração variam por categoria, como idade e participação em competições anteriores.
A ideia é permitir que os bolsistas se foquem em seus treinamentos e competições. Neste ano, eles estão em 27 das 39 modalidades que estão sendo disputadas pelo Brasil nas Olimpíadas.
Desde 2012, é permitido que o bolsista tenha outros patrocínios para a sua atividade. Bia Souza integra o Programa de Atletas de Alto Rendimento do Ministério da Defesa e tem o posto de sargento do Exército. Já Rebeca é contratada do Flamengo, onde treina.
Após 14 anos, o Bolsa Atleta foi reajustado pela primeira vez no governo Lula. Foram, 10,86% em 2023.
Mesmo assim, o programa ainda está longe do seu ápice que foi durante o governo Dilma Rousseff (PT) que registrou R$ 247 milhões de desembolso.
Acontece que após a derrubada de Dilma, o governo Michel Temer promoveu cortes que chegaram a 90%.
Apesar de ter havido um reajuste em 2019, uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto Federal de Goiás (IFG) revelou que Temer (2016-2019) e Jair Bolsonaro (2019-2022) foram os que mais diminuíram o investimento público federal no esporte.
Os cortes foram realizados de forma significativa no Bolsa Atleta e em recursos para os jogos Olímpicos.
As medalhas do Brasil até agora nos Jogos Olímpicos Paris 2024
Ouro
Beatriz Souza | Judô | +78kg
Rebeca Andrade | Ginástica Artística | Solo feminino
Prata
Caio Bonfim | Atletismo | Marcha Atlética 20 km
Willian Lima | Judô | -66kg
Rebeca Andrade | Ginástica artística | Individual geral
Rebeca Andrade | Ginástica artística | Salto
Bronze
Larissa Pimenta | Judô | -52kg
Rayssa Leal | Skate Street
Brasil | Ginástica Artística | Disputa por equipes – Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira
Brasil | Judô | Equipes mistas – Beatriz Souza, Rafaela Silva, Larissa Pimenta, Ketleyn Quadros, Daniel Cargnin, Rafael Macedo, Léo Gonçalves, Guilherme Schimidt, Rafael Silva e Willian Lima
Bia Ferreira | Boxe | 60kg
Bolsa Atleta – Valores conforme a categoria:
Atleta Estudantil: R$ 410,00/mês
Atleta de Base: R$ 410,00/mês
Atleta Nacional: R$ 1.025,00/mês
Atleta Internacional: R$ 2.051,00/mês
Atleta Olímpico e Paralímpico: R$ 3.437,00/mês
Atleta Pódio: até R$ 16.629,00/mês
O dinheiro é depositado em uma conta na Caixa Econômica Federal, e os atletas recebem 12 parcelas anuais.