Israel completa um ano de massacre de civis e jornalistas em Gaza
Foto: Sindicato de Jornalistas Palestinos
O massacre de 1.200 israelenses e o sequestro de 200 civis – 100 ainda estão em cativeiro – que ocorreu no ataque promovido pela organização palestina Hamas completa um ano neste 7 de outubro. O episódio deu início a uma ofensiva sem precedentes de Israel não apenas sobre a faixa de Gaza, mas agora também sobre outros territórios palestinos e mais recentemente contra o Líbano.
Nos últimos 365 dias, desde o início da reação de Israel contra os atos terroristas do Hamas, mais de 41.909 palestinos, incluindo 17 mil crianças foram mortos. Os números podem ser maiores. Mortes diretas e indiretas em Gaza, por falta de acesso à saúde e condições de sobreviência podem somar 186 mil óbitos, conforme a revista médica The Lancet. Além disso, há milhares de corpos não resgatados debaixo dos escombros criados pelos bombardeios que ainda não foram contabilizados.
Mais de 97.303 palestinos foram feridos em Gaza. Pelo menos 25% dos feridos provavelmente sofrerão lesões que mudarão suas vidas, incluindo mais de 15 mil casos de lesões nas extremidades e cerca de 3,5 mil amputações, de acordo com a OMS.
Nas últimas 24 horas, médicos afirmam que 52 palestinos foram mortos. O Hamas, por sua vez, atingiu Tel Aviv com mísseis. No ataque, duas pessoas ficaram levemente feridas, segundo o serviço de ambulâncias de Israel. Haifa também foi atingida por foguetes do Hezbollah pela manhã. Nesta ocorrência, 10 cidadãos teriam sido feridos, segundo a mídia local.
Foto: Unrwa /ONU
Israel bate recorde de assassinatos de jornalistas
Alarmante também são os dados revelados por organizações de liberdade de imprensa, os últimos 12 meses entraram para a história como o período mais mortal para jornalistas já registrado em toda a história.
O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CFJ)informa que 128 profissionais de imprensa morreram desde então. O mais grave é que com exceção de dois repórteres abatidos no ataque de 7 de outubro pelo Hamas, os demais foram de autoria de forças israelenses.
Para a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) o último ano “o mais sangrento da história do jornalismo”. Já o Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denuncia também um “apagão do jornalismo” que ocorreu em Gaza desde o início da guerra. A causa seria o grande número de de jornalistas mortos, presos, desalojados e de redações destruídas, além de cortes de eletricidade e sinal de internet.
Conforme o Repórteres Sem Fronteiras, jornalistas são alvejados e mortos, redações são destruídas, sinal de internet e fornecimento de eletricidade são “metodicamente” cortados e a imprensa estrangeira impedida de entrar.
“As forças israelenses têm destruído a infraestrutura da imprensa no território palestino e sufocado o jornalismo”, relata a RSF em seu balanço de um ano na tentativa de cobertura do conflito por profissionais de imprensa.
“Desde que as primeiras bombas caíram em Gaza na manhã de 7 de outubro de 2023, após o ataque sangrento do Hamas a Israel, o direito à informação sobre o que está acontecendo no território palestino continua diminuindo a cada dia, à medida que o ‘apagão do jornalismo’ pelo exército israelense continua”, diz a organização.
A contagem de mortos tem pequenas discrepâncias de entidade para entidade, pois são usados diferentes critérios. Porém, o número gira em torno de 130, incluindo os que morreram a serviço ou como vítimas colaterais de bombardeios. O que dá uma média de um a cada três dias.
Além do número alto de mortes, as organizações de liberdade de imprensa e também de direitos humanos denunciam ataques deliberados de Israel contra jornalistas em vários casos.
Em alguns deles, o governo de Israel admitiu que disparou contra carros ou locais onde jornalistas estavam, mesmo com identificação, alegando que estariam colocando as forças do país em risco ou atuando como combatentes.
Da acordo com o CPJ, pelo menos 69 jornalistas palestinos foram presos desde o início da guerra, 66 por Israel e três por autoridades palestinas. Quarenta e três ainda estavam atrás das grades em 4 de outubro.
Em uma base per capita, as autoridades israelenses agora detêm o maior número de jornalistas detidos no mundo em um determinado ano nas últimas duas décadas, diz a organização.
Liberdade de imprensa está seriamente comprometida
Os assassinatos, juntamente com a censura, as prisões, a proibição contínua do acesso da mídia independente a Gaza, os bloqueios persistentes da internet, a destruição de veículos de comunicação e o deslocamento da comunidade de mídia de Gaza restringiram severamente as reportagens sobre a guerra e dificultaram a documentação dos fatos, aponta o CPJ.
A liberdade de Imprensa foi ainda mais restringida a partir de uma nova lei que autoriza o governo israelense a proibir veículos de comunicação, restringir um número crescente de artigos, incentivar retórica anti-imprensa de funcionários do governo, supostas tentativas de controlar veículos de notícias e ataques a repórteres internacionais e locais na Cisjordânia e em Israel, entre outras ameaças, destacou o Comitê.
A Al Jazeera, rede internacional controlada pelo governo do Catar, tornou-se o principal alvo do governo israelense. Ela foi proibida de operar em Israel e teve sua redação na Cisjordânia fechada.
As dificuldades de continuar informando o público não se restringem às grandes redes. A infraestrutura de mídia da Palestina foi destruída por ataques aéreos israelenses e “nenhuma redação ficou de pé em Gaza”, afirma a Federação Internacional de Jornalistas.
Conforme dados do sindicato local de jornalistas, a IFJ informou que as instalações de 21 estações de rádio, 15 agências de notícias locais e internacionais, 15 estações de TV, 6 jornais locais, 3 torres de transmissão, oito impressos e 13 instituições de mídia foram destruídas.
“Neste ano, apenas jornalistas locais puderam relatar a devastação de Gaza, por causa das políticas do governo israelense de aterrorizar e matar jornalistas e sua proibição de entrada da mídia estrangeira”, protestou a Federação em nota.
Desde o início da guerra jornalistas estrangeiros estão proibidos de documentar a situação em Gaza, exceto em poucas incursões a locais controlados e acompanhados por soldados de Israel.
Protesto mundial
Na última quinta-feira, 26 de setembro, a RSF lançou uma série de ações em todo o mundo para prestar homenagem aos jornalistas mortos em Gaza. Essa campanha global de comunicação e sensibilização da RSF visa alertar a opinião pública para a gravidade da situação: ao ritmo em que jornalistas estão sendo assassinados, o direito à informação livre e independente está em perigo.
Foto: Talita Nascimento/RSF
Ações simbólicas ocorrerão o dia todo em dez países ao redor do mundo: Alemanha, Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, Reino Unido, Senegal, Suíça, Taiwan e Tunísia. As ações acontecerão em lugares emblemáticos de cada um desses países, como a Praça da Liberdade em Taipei, em frente ao Big Ben em Londres, em frente ao Monumento do Renascimento Africano em Dakar, ou em frente à Torre Eiffel em Paris. No Brasil, a organização fez uma instalação representando os corpos dos jornalistas assassinados na Praia de Botafogo (RJ), com o Pão de Açúcar ao fundo. Uma mesma mensagem estará escrita em grandes banners que acompanharão as ações: “No ritmo em que os jornalistas estão sendo mortos em Gaza, logo não haverá mais ninguém para te manter informado”.