JUSTIÇA

Moro autorizou ação contra filha de empresário para pressioná-lo a se entregar

Depois de negar pedido em fevereiro de 2018 alegando falta de comprovação de culpa,  o então juiz voltou atrás e autorizou as buscas mesmo sem qualquer nova evidência
Da redação / Publicado em 11 de setembro de 2019

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Sérgio Moro autorizou uma varredura na casa, nas comunicações e nas contas de Nathalie

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Um novo capítulo da Vaza Jato, série de reportagens publicadas pelo site The Intercept, veio a público nesta quarta-feira, 11 de setembro. Procuradores pediram medidas contra filha de empresário radicado em Portugal, Raul Schmidt, para tentar a extradição dele, apontam mensagens trocadas no aplicativo Telegram pelos integrantes da força tarefa da Lava Jato. A ação foi autorizada pelo então juiz Sérgio Moro.

Nas conversas, o procurador Diogo Castor de Mattos sugere que o fato geraria um “elemento de pressão” no empresário. Deltan Dallagnol se pronuncia, ainda no grupo usado pelos procuradores, colocando em dúvida se Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe estaria “realmente envolvida em crimes”. Convencidos de que era o caminho a ser seguido, o Ministério Público Federal apelou então a Moro, pedindo que o passaporte de Nathalie fosse cassado e que ela fosse proibida de sair do Brasil. O plano era forçá-lo a se entregar para evitar mais pressão sobre a filha.

A justiça portuguesa havia determinado o cumprimento da extradição de Schmidt para o Brasil, em janeiro de 2018, mas ele não foi encontrado onde morava, em Lisboa, pelas autoridades locais. Em 5 de fevereiro, o ex-juiz negou o pedido, afirmando que não havia comprovação suficiente de culpa e que o nome dela era inédito nas investigações até ali.

NOVO PEDIDO – Pouco tempo depois, em maio de 2018, ainda sem encontrarem Schmidt em Portugal, a Lava Jato reapresentou o pedido sobre a filha do procurado a Moro. Sem que houvesse qualquer suspeita adicional contra ela neste novo pedido, o juiz mudou de ideia e deu sinal verde ao desejo da Lava Jato, que incluía uma varredura na casa, nas comunicações e nas contas de Nathalie.

Em 24 de maio, a filha Schmidt teve o passaporte retido e foi alvo de busca e apreensão em sua casa, no Rio de Janeiro. Segundo a defesa de Nathalie, “três agentes da Polícia Federal portando metralhadora ingressaram na residência da paciente de forma truculenta, exigindo aos berros que ela revelasse o atual paradeiro do seu genitor sob ameaça de ‘evitar dor de cabeça para seu filho’” (um menino, à época, com sete anos). Essa informação consta no pedido de habeas corpus ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

O plano dos procuradores falhou. A extradição de Raul foi arquivada pela justiça portuguesa em janeiro de 2019, e o Ministério Público do país recorre da sentença desde então. Nathalie foi denunciada pela Lava Jato por lavagem de dinheiro pela compra de um imóvel em Paris, no final de 2018, mas o caso corre, até hoje, sob sigilo. A Lava Jato tenta até hoje trazer o empresário ao Brasil.

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