JUSTIÇA

Polícia do Rio investiga execução de escritor que relacionou milícia com morte de Marielle Franco

Autor de livros e pesquisador dominicano Leuvis Olivero, que também evocou o grafite contra o avanço do bolsonarismo no Rio, foi assassinado a tiros na Tijuca
Por Gilson Camargo / Publicado em 20 de outubro de 2021

Foto: Twitter/ Reprodução

Com 11 livros publicados sobre arte de rua e capoeira, o ativista Leuvis Olivero foi executado em 10 de outubro

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Passados 10 dias do assassinato do pesquisador, escritor e capoeirista dominicano Leuvis Manuel Olivero, o Lu, 38 anos, a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) da polícia civil do Rio de Janeiro, ainda não divulgou informações sobre a autoria ou a motivação do atentado.

De acordo com o relato de testemunhas, os tiros partiram de dentro de um carro – a placa ou outra descrição não foram divulgados. Os ocupantes fugiram do local logo após atingirem o ativista. A polícia silenciou sobre o caso, o que fez o atentado ganhar o noticiário internacional.

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Livro de Olivero mostra o grafite como resistência ao bolsonarismo

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O ativismo de Leuvis contra o bolsonarismo e a milícia e a forma como ele foi assassinado levantaram suspeitas sobre uma execução encomendada, semelhante ao atentado que vitimou a vereadora Marielle Franco (PSol) e o motorista, Anderson Gomes, em março de 2018.

Em seus livros, Lu apontou a relação da milícia com o assassinato da vereadora e ativista e o grafite contra o avanço do bolsonarismo no Rio de Janeiro. Ele foi morto a tiros quando caminhava em uma rua da Barra da Tijuca, na Zina Norte do Rio, no domingo, 10 de outubro.

Olivero, que nasceu na República Dominicana, tinha cidadania norte-americana e vivia no Brasil há quase 10 anos com a filha e a namorada brasileiras.

Formado em Estudos Internacionais pelo Trinity College, em Connecticut (EUA), conheceu o Rio de Janeiro em 2011 e resolveu ficar no Brasil onde, segundo anotou, referindo a si mesmo na terceira pessoa, “mergulhou nas emergentes cenas de vandalismo da cidade” em um “processo de pesquisa de uma das culturas de arte de rua mais vibrantes da América Latina”.Em 2014, publicou seu primeiro livro, Graffiti City, que descreveu como “um mergulho no coração da cultura carioca através de seu prisma mais polêmico: as ruas”.O livro examina as “inúmeras formas de expressão visual que também lutam por espaço nas paredes” do Rio e “como as ruas se tornaram um verdadeiro espaço de diálogo”, descreveu. “Graffiti City é o primeiro livro a apresentar uma linha do tempo histórica detalhada das artes urbanas do Rio e das culturas de vandalismo, e analisa as pressões sociais e políticas que ajudaram a moldar a arte e o vandalismo nas ruas do Rio”.

Quem mandou matar Marielle?

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Em Memória Viva, o escritor relaciona o atentado que vitimou Marielle Franco e Anderson Gomes com o crime organizado do Rio

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Em 2020, publicou oito dos seus 11 livros independentes, entre os quais Black spaces white faces: um ensaio sobre o branqueamento da capoeira no Rio de Janeiro; e Memória Viva, de 2020, no qual explora o legado da vereadora Marielle Franco. “As investigações continuam e mais um aniversário de sua morte se aproxima, as perguntas permanecem, mas as ruas não esquecem, e essa demonstração de amor e apoio reflete o impacto de Marielle nesta cidade”, escreve.

Quem matou Lu?

“Não sou paranóica mas há algo de podre “no reino do Brasil”. Nove dias após o crime, a polícia do Rio ainda não sabe quem matou Leuvis Manuel Olivero, escritor dominicano que escreveu um livro breve sobre a vereadora assassinada Marielle Franco”, protestou na última terça-feira em uma rede social a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz. No domingo (17), um protesto realizado por parentes e amigos cobrou celeridade na investigação do caso. “Por enquanto nada! Existem coincidências que não têm nada de coincidente. Ainda queremos saber quem matou Leuvis e Marielle”, afirmou.

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