JUSTIÇA

Cocaína adulterada mata 20 e deixa mais de 70 hospitalizados em Buenos Aires

Polícia e Ministério Público investigam se substância letal misturada em excesso e de forma deliberada à droga tem relação com acerto de contas entre traficantes
Por Gilson Camargo / Publicado em 3 de fevereiro de 2022

Foto: Secretaria de Segurança de Buenos Aires/ Divulgação

Amostras da droga envenenada foram apreendidas pela polícia de Buenos Aires

Foto: Secretaria de Segurança de Buenos Aires/ Divulgação

Ao menos 20 pessoas morreram na última quarta-feira, 2, e dezenas estão hospitalizadas em centros de saúde dos distritos de Hurlingham, Tres de Febrero e San Martín, em Buenos Aires, Argentina, vítimas de intoxicação aguda causada pelo consumo de cocaína adulterada.

Produtos químicos, veneno e até medicamentos roubados podem ter sido adicionados à droga que é vendida em papelotes na periferia.

A polícia e o Ministério Público relataram que o número de intoxicados não para de crescer e que pode haver óbitos ocorridos em casa ainda não comunicados. O governo da província emitiu um alerta epidemiológico para seis distritos da região.

Várias hipóteses para a intoxicação em massa são investigadas pela polícia e pelo Ministério Público.

A principal delas aponta para erro ou sabotagem no “corte” da droga, ou seja, na usual mistura da cocaína com uma substância que serve para “esticar” a droga, rendendo mais quantidade e peso aos papelotes que são vendidos a 500 pesos no Portão 8, um centro de reciclagem de materiais localizado no acesso a diversos distritos da capital portenha.

Joaquín Aquino, El Paisa, 33 anos, narcotraficante de San Martín, é apontado como distribuidor da cocaína adulterada. Aquino é o sucessor do narcotraficante Miguel “Mameluco” Villalba, preso e condenado a 27 anos de prisão em 2020.

O procurador-geral de San Martín, Marcelo Lapargo, afirmou em uma coletiva que o suposto veneno ou droga com alta toxidade foi incluído “deliberadamente” na cocaína consumida por dezenas de pessoas. Ele não descarta um acerto de contas entre traficantes.

Mortos em casa

Como a maioria dos usuários de drogas reluta em procurar ajuda, ele não descarta que possa haver um número desconhecido de vítimas que morreram em suas casas e ainda não foram localizadas.

O ministro da Segurança, Sergio Berni, pediu que as pessoas que compraram a droga e ainda não a consumiram joguem a cocaína no lixo. Ao menos 12 pessoas foram presas até esta quinta-feira.

Em um comunicado, o Ministério Público qualificou a droga como “altamente tóxica”.

A Unidade Funcional de Instrução (UFI) 9 especializada em Drogas Ilícitas de Morón, chefiada pelos promotores Antonio Ferreras e Ernesto Lovillo, está investigando as causas dos óbitos e solicitou autópsias.

Um sobrevivente relatou à polícia que comprou a droga nas proximidades do assentamento “Puerta 8”.

Amostras de cocaína foram apreendidas com este e outros pacientes nos centros de saúde para análise.

Também foram registrados casos de intoxicação nos distritos de Morón, Ituzaingó, Tigre, General Rodríguez e Moreno.

Veneno de rato

“Ainda não temos o número exato de pacientes. Estamos fazendo um levantamento em todos os hospitais da região para centralizar todos os casos e tomar medidas urgentes para identificar a origem da droga, retirá-la de circulação e alertar e prevenir mais casos”, afirmou a porta-voz dos tribunais de San Martín. “Consumiram droga com veneno de rato”, disse a familiar de uma vítima.

Lapargo afirmou que o ocorrido “é um evento excepcional” para o qual “não há precedentes”. “Isso nos faz pensar que a substância foi incluída deliberadamente, não é um erro no processo”, cogitou.

O procurador disse ainda que o caso “pode ser um acerto de contas entre quadrilhas de traficantes, mas é conjectural, não temos histórico disso, o que nos leva a pensar que a substância foi incluída intencionalmente”.

Das vítimas fatais, dez morreram nos hospitais Eva Perón (San Martín), San Bernardino (Hurlingham) e Bocalandro (Três de Febrero). Sete corpos foram encontrados em residências e outras três pessoas morreram enquanto eram socorridas pelos serviços de saúde.

Ao todo, 74 pessoas foram hospitalizadas com sintomas de intoxicação grave, das quais 18 são mantidas com assistência respiratória mecânica. “O número de internados aumenta constantemente: as pessoas estão chegando em estado grave aos centros de saúde”, informou o jornal Página 12.

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