Ministério da Mulher tem prazo para esclarecer relatos de Damares sobre tráfico e estupro de crianças
Imagem: Youtube/ Reprodução
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) solicitou, nesta terça-feira, 11, que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) informe detalhadamente, no prazo de três dias, todos os casos de denúncias recebidas pela pasta, em trâmite ou não, nos últimos sete anos, de 2016 a 2022, envolvendo tráfico transnacional de crianças e estupro de vulneráveis.
O pedido ocorre em virtude das denúncias sobre a prática de estupro e tráfico de crianças na Ilha de Marajó, no Estado do Pará, feitas pela ex-ministra Damares Alves, que se encontram disponíveis no Youtube e foram divulgadas pelo jornal Estado de Minas.
No vídeo, a ex-ministra discursa em um templo da igreja Assembleia de Deus, em Goiânia, no último final de semana, e faz graves acusações para tentar angariar votos ao presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição no próximo dia 30. Ela afirma que uma comitiva do governo federal, da qual teria feito parte, foi à região e testemunhou crianças sendo traficados e submetidas a violências sexuais. Eleita senadora pelo Republicanos no Distrito Federal, Damares é acusada de omissão por não ter citado qualquer ação da sua pasta ou do governo para combater as atrocidades que ela relata na gravação.
“Essa manifestação da ex-ministra do MMFDH foi recebida com preocupação e perplexidade, em especial porque pode se tratar de informações sigilosas às quais se teve conhecimento em razão do cargo público então ocupado”, afirmou, no ofício, o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena.
O procurador pede à atual ministra Cristiane Britto lista com número de registro, o procedimento no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) e as íntegras de cada caso, inclusive com o encaminhamento dado pela pasta.
No documento, ele esclarece que a PFDC é um órgão vinculado ao MPF responsável por velar, no âmbito extrajudicial, pelo respeito aos direitos constitucionais dos cidadãos e cidadãs, especialmente daqueles integrantes de grupos socialmente vulneráveis, como é o caso das crianças e dos adolescentes. As violações trazidas à tona envolvem a atuação de vários grupos especializados da PFDC, criados para analisar e atuar em temas específicos que envolvam a proteção e promoção dos direitos humanos.
Omissão de Damares
O ofício da PFDC reforça pedido feito, na segunda-feira, 10, por membros do MPF no Pará à secretária-executiva do MMFDH, Tatiana Barbosa de Alvarenga. Além dos supostos casos descobertos pelo ministério em visita ao arquipélago do Marajó, eles pediram que o MMFDH informe quais providências tomou ao descobrir os casos e se houve representação (denúncia) ao Ministério Público ou à Polícia.
Em nota, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirma que as declarações da ex-ministra na gravação se baseiam em inquéritos já instaurados que dão conta de “uma série de fatos gravíssimos praticados contra crianças e adolescentes”. No caso específico de Marajó, diz a pasta, foi criado o programa Abrace o Marajó como resposta à vulnerabilidade social, econômica e ambiental, com investimentos de R$ 950 milhões em iniciativas para o desenvolvimento social e econômico do arquipélago.