Criança Yanomami morre por desidratação e desnutrição em Roraima
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
Uma criança de apenas um ano e cinco meses de idade morreu no domingo, 5, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, vítima de desnutrição grave e desidratação.
A informação foi repassada à Agência Brasil por Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kuana (Codisi-YY), uma das principais lideranças da região de Surucucu, no extremo Oeste do estado e próxima à fronteira com a Venezuela.
De acordo com o relato, a criança estava em estado grave desde sábado, 4, e as equipes de saúde pediram sua remoção imediata para Boa Vista, mas o mau tempo impediu a decolagem da aeronave.
A criança Yanomami era da região Haxiu, que fica a cerca de 15 minutos de helicóptero do polo base de Surucucu, onde há um aeródromo e um pelotão de fronteira do Exército Brasileiro.
Acossados pelo avanço do garimpo ilegal, os Yanomami sofrem com a destruição da floresta e a contaminação da água e dos peixes com mercúrio. Sem alimentos e impedidos pelos garimpeiros de acessar os serviços de saúde indígena, as comunidades vivem uma realidade de desnutrição e doenças como malária e pneumonia. Nos últimos quatro anos, foram registradas 570 mortes de crianças no território.
O ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino, anunciou na manhã desta segunda-feira, 6, um aumento dos efetivos da Polícia Federal (PF) e da Força Nacional de Segurança Pública em Roraima.
Base Aérea Yanomami
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
Em visita a Roraima, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que a base aérea no Surucucu vai ser reestruturada para que possa receber aviões de maior porte.
Com isso, disse, será possível levar a infraestrutura para montar um hospital de campanha na região.
A pista de Surucucu não opera por instrumentos e só permite voo visual, o que limita o acesso em horário noturno ou com mau tempo.
A FAB instalou um Hospital de Campanha ao lado da Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista (RR), a fim de auxiliar o Ministério da Saúde no apoio à crise da região. Desde 27 de janeiro, houve 600 atendimentos a indígenas Yanomami.
O hospital conta com equipe multidisciplinar e já foram empregados mais de 300 militares médicos, com especialidades em ortopedia, cirurgia geral, pediatria, radiologia, ginecologia e patologia.
A estrutura também tem capacidade de realizar exames laboratoriais, ultrassonografias e dispõe de leitos de estabilização. Pacientes em estados mais graves são encaminhados para outros hospitais de Boa Vista.
Remoção de pacientes
De acordo com o Centro de Operações Emergenciais (COE), colegiado interministerial criado pelo governo federal, em janeiro, foram removidos 223 pacientes da terra indígena para a capital do estado.
No balanço mais recente, o COE informou também que a Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista, abriga, no momento, 601 yanomami, entre pacientes e seus acompanhantes. Além disso, há 50 indígenas internados, no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), ambos na capital.
O governo federal informou que foram entregues mais de 75 toneladas de mantimentos (3.785 cestas básicas) e medicamentos à população da região até 3 de fevereiro.
O trabalho é coordenado pelo Ministério da Defesa e executado pela Força Aérea Brasileira (FAB), que transporta os suprimentos desde 21 de janeiro, diariamente para aldeias Yanomami – o maior território indígena do país. A montagem, preparação e entrega dos suprimentos fazem parte de um trabalho conjunto com o Exército.
Os kits estão sendo enviados por cinco aeronaves (C-98 Caravan, C-97 Brasília, C-105 Amazonas, C-130 Hércules e KC-390 Millennium), que realizam os lançamentos aéreos com paraquedas, em função do difícil acesso à região, e helicópteros, em especial o H-60 Black Hawk.
Neste período, a FAB viabilizou, também, 37 evacuações aeromédicas com indígenas em situação grave de saúde. Os militares já realizaram mais de 600 atendimentos médicos e acumulam mais de 340 horas de voo em trabalho de ajuda humanitária.
Acesso restrito
Para garantir a segurança do Povo Yanomami, uma portaria assinada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) estabeleceu procedimentos de acesso à Terra Indígena Yanomami durante o período de vigência da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. O ingresso será coordenado a partir das ações prioritárias definidas no Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami).
O objetivo é garantir o resguardo e respeito aos povos indígenas. Entre as exigências de acesso estão comprovante de esquema vacinal completo, comprovante de teste de Covid-19 negativo realizado 24 horas antes da data prevista de ingresso na Terra Indígena e um atestado de avaliação médica que comprove a não existência de doença infectocontagiosas.