JUSTIÇA

Tony Garcia denuncia novas ilegalidades da Lava Jato e chantagem a desembargadores

Ex-deputado do Paraná afirma que Sergio Moro montou esquema na Lava Jato para perseguir desafetos e teria chantageado desembargadores do TRF4
Por Gilson Camargo / Publicado em 5 de junho de 2023

Foto: Reprodução

O ex-deputado e empresário Tony Garcia relatou que desembargadores foram constrangido por Moro para condenar Lula

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O ex-deputado estadual paranaense, Antônio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia, revelou, em depoimento sigiloso à justiça na sexta-feira, 2, que foi coagido a grampear autoridades por ordem do então juiz da Lava Jato e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Ele afirmou que o ex-juiz da Lava Jato, com a cumplicidade dos procuradores Carlos Fernando de Souza e Januário Paludo, montou um esquema de chantagens para perseguir desafetos.

Um dos alvos da perseguição foi o advogado Roberto Bertholdo, que vinha anulando sentenças de Moro. Bertholdo foi preso com base em um falso testemunho prestado por Tony Garcia.

“Eles me jogaram no porão da Polícia Federal. Ele fazia de Curitiba a Guantánamo brasileira. Ele fazia os mesmos métodos de tortura psicológica para tirar de você, preso, o que ele queria”, alegou Garcia, que deverá prestar novo depoimento nos próximos dias.

Detalhes do depoimento dado pelo delator no dia 2 foram revelados pela Revista Veja e pelo canal de tevê digital 247. Na noite de sexta-feira, Garcia deu uma entrevista-bomba ao jornalista Joaquim de Carvalho, no programa Boa Noite 247.

Nesta segunda-feira, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) apresentou requerimento à Comissão de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados (CASP) para que o delator seja convidado a se manifestar em relação às denúncias que tem apresentado.

Desembargadores

Entre outras revelações, Tony Garcia afirmou que os desembargadores do TRF4 que mantiveram a condenação e aumentaram a pena de prisão de Lula em 2018 foram chantageados por Moro.

Segundo ele, em 2003, Bertholdo teria organizado um “baile de cuecas” na suíte presidencial do principal hotel de Curitiba, que teve a participação de membros da alta cúpula do judiciário.

Entre os convidados, estavam “vários” desembargadores do TRF4 que foram de Porto Alegre para a capital paranaense em jatinhos fretados.

O encontro foi filmado e as imagens teriam sido usadas por Moro para produzir os resultados que ele queria impor à Lava Jato, inclusive manipular a atuação de desembargadores.

Questionado sobre a existência de provas, Garcia disse que bastaria levantar as fichas dos hóspedes do hotel na data que ele mencionou no depoimento.

O delator já havia admitido que gravou de forma ilegal o ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) em 2018.

“Jamais tinha passado por uma coisa tão fora da lei. Queriam criminalizar a política, políticos, tribunais superiores, jornalistas e advogados. Deltan, Carlos Fernando, Moro. O que eles botavam na minha boca… para buscar coisas contra o PT, para tirar o Lula da eleição”, apontou.

Tony Garcia afirmou ainda que foi “instado a procurar coisas contra o PT através do Eduardo Cunha” e que relatou as perseguições em 2021 em um depoimento feito em sigilo à juíza Gabriela Hardt.

“Uma perseguição clara. Grande parte do estou falando, eu falei pra Gabriela Hardt. Eu denunciei, e nada acontece. Ela engavetou. O Brasil tem que passar isso a limpo. Eles (referindo-se a senadores) tinham de fazer uma CPI da Lava Jato”, acrescentou. desembargadores

Para o jornalista Luís Nassif, do portal GGN, o depoimento do delator pode explicar a resistência do TRF4 em permitir uma gestão transparente na 13a Vara de Curitiba. “Mas abre o caminho para a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça e o próprio STF para proceder a maior operação da história, de limpeza do Judiciário. E depressa, já que há indícios de destruição de provas”.

Derrocada da Lava Jato

Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a suspeição de Sergio Moro nos processos contra o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A partir de 2019, o site The Intercept e o jornalista Gleen Grennwald passaram a divulgar a série de reportagens VazaJato, tornando públicas conversas de Moro com procuradores da Lava Jato no Telegram e demonstrando que o ex-juiz interferia na elaboração de provas.

Em 2022, Moro foi derrotado no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) por fraude em domicílio eleitoral e foi obrigado a lançar a candidatura ao Senado pelo estado do Paraná, tendo sido eleito.

No dia 16 de maio, o ex-procurador da Lava Jato e deputado Deltan Dallagnol teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido a denúncias que estavam em análise no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) em 2022, quando ele saiu candidato. Em outra decisão, Dallagnol foi condenado pelo STF a indenizar Lula em R$ 75 mil por danos morais devido à apresentação do Power Point em 2016.

A partir de 2019 começaram a ser divulgados na imprensa trechos de conversas entre Moro e procuradores do Ministério Público Federal (MPF-PR). De acordo com os diálogos, o ex-juiz interferia na elaboração de denúncias, que devem ser feitas apenas por promotores.

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