JUSTIÇA

Nove trabalhadores eram escravizados em plantações de eucalipto e acácia para reflorestamento em Triunfo

Força-tarefa resgatou pessoas de 20 a 40 anos que eram mantidas em cativeiro em três frentes de trabalho escravo na extração florestal no Rio Grande do Sul
Por Gilson Camargo / Publicado em 7 de julho de 2023

Foto: MPT-RS/ Divulgação

Trabalhador resgatado em Triunfo faz seu relato aos integrantes da força-tarefa

Foto: MPT-RS/ Divulgação

Uma força-tarefa conjunta entre Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), resgatou nove trabalhadores encontrados em condições análogas às de escravo no município de Triunfo, no Rio Grande do Sul. Com pelo menos um resgate a cada mês desde fevereiro, quando o MPT-RS encontrou 207 trabalhadores escravizados em vinícolas da Serra gaúcha, o estado lidera a exploração de mão de obra análoga à escravidão. Nos primeiros dois meses do ano, o RS já era recordista, com 208 pessoas resgatadas dessa condição pela Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Em 2022 foram 156 e em 2021, 76  resgatados no estado.

A operação foi realizada ao longo da semana e terminou nesta sexta-feira, 7. Foram inspecionados cinco estabelecimentos nos municípios de Porto Alegre, Viamão, Osório e Triunfo que desenvolviam atividades rurais, urbanas e domésticas. Os agentes da força-tarefa dedicaram-se a identificar situações de trabalho degradante e irregularidades trabalhistas, com o objetivo de garantir a proteção dos direitos dos trabalhadores.

A partir de rastreamento realizado pela PRF, foi possível localizar três frentes de trabalho em Triunfo nas quais trabalhadores que vinham exercendo atividades de extração florestal eram mantidos alojados em precários barracos de lona, sem instalação sanitária, sem água encanada potável para o consumo e sem locais para preparo, consumo e conservação dos alimentos.

Foto: MPT-RS/ Divulgação

Trabalhadores estavam alojados em barracas, dormindo em colchoes diretamente no chão e sem infraestrutura para alimentação e higiene

Foto: MPT-RS/ Divulgação

Os trabalhadores dormiam em barracas de camping montadas dentro dos barracos de lona, sobre colchões dispostos diretamente no chão ou sobre estruturas improvisadas com tocos de madeira. Um dos trabalhadores dormia dentro de um veículo. O alojamento também não tinha banheiros nem instalações para o asseio pessoal. As refeições eram preparadas em fogareiros improvisados no chão.

Os trabalhadores resgatados são homens e maiores de idade, com idades variando entre 20 e 40 anos. Eles eram oriundos de cidades da própria região e realizavam atividades de corte, desgalhe, transporte e empilhamento de madeira de eucaliptos e acácia na zona rural de Triunfo/RS.

O tempo de trabalho nas condições degradantes variava, mas a maior parte se encontrava havia um ou dois meses na função. Foram todos imediatamente resgatados pela força-tarefa e tiveram garantidas suas verbas salariais e rescisórias, no valor total de R$ 29 mil, divididos entre os trabalhadores de acordo com o tempo que cada um passou em exploração.

Os empregados resgatados retornaram às suas residências na região. Eles receberão o seguro-desemprego do trabalhador resgatado, que totaliza três parcelas de um salário-mínimo (R$ 1.320,00), emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

“Incrível que em 2023 ainda se explore pessoas assim no RS: meio do mato, sem luz, sem água decente, sem comida própria, sem EPI, sem banheiro, dormindo debaixo de lonas. Rescisórias pagas, dignidade restaurada e outras indenizações a caminho, para que essa situação nunca mais se repita no corte e na puxada de lenha”, ressaltou o procurador do trabalho Bernardo Mata Schuch, que participou da operação representando o MPT-RS.

*Com informações do MPT-RS.

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