Silêncio do casal Bolsonaro e de assessores diante da PF repercute como confissão de culpa
Foto: Isac Nóbrega/PR/Arquivo
Menos de 24 horas após fontes relatarem que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) resistia a ficar em silencio no depoimento à Polícia Federal, o inevitável acabou ocorrendo.
No interrogatório realizado nesta quinta-feira, 31, na sede da Superintendência da PF em Brasília, Bolsonaro e sua esposa, Michele, sob a orientação de advogados silenciaram diante dos agentes.
O assessor ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, e o ex-ministro e advogado do ex-presidente, Fabio Wajngarten, também prestaram depoimento e adotaram a mesma estratégia: permaneceram em silencio diante dos agentes. A decisão repercutiu no mundo político e nas redes sociais.
Nos bastidores, o comentário foi de que a estratégia do casal e seus assessores teria o objetivo de “ganhar tempo” para refazer a relação com o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens preso preventivamente desde maio.
Nos meios jurídicos e policiais, o silêncio do casal Bolsonaro, Wajngarten e de Câmara também foi visto como uma manobra jurídica para fugir do assunto nas investigações no caso das joias.
A mais recente estratégia de defesa de Jair e Michelle Bolsonaro agora é questionar a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) na investigação do caso das joias.
Foi diante disso que o advogado Paulo Bueno sugeriu que o casal optasse por silenciar diante das perguntas da PF. Ele quer remeter o caso para a primeira instância, em Guarulhos, SP.
Refazendo a relação
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
A decisão da PF de realizar depoimentos simultâneos foi decisiva para o silêncio do ex-presidente e seu entorno, já que ele não sabe o que Mauro Cid teria falado nos últimos dias para os investigadores.
Cid, aliás, em seu depoimento de mais de cinco horas nesta quinta-feira, ignorou a possibilidade aventada de silêncio de Bolsonaro. Ele chegou antes do ex-chefe à PF e esticou suas declarações aos agentes sobre as joias.
O ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Lula, em suas redes sociais, teceu um comentário com base em sua experiência pessoal.
“Fui juiz federal por 12 anos. E sempre dizia aos acusados: o interrogatório é um momento precioso para a autodefesa. Poucos abriam mão desse direito. E quando o faziam, era em razão da avaliação deles de que falar era pior do que calar. A experiência sempre ensina muito”, asseverou Flávio Dino.
O ministro ainda lembra que o silêncio é um direito assegurado na Constituição Federal e que caberá ao judiciário interpretar a decisão dos investigados.
Bolsonaro diz uma coisa e faz outra
A postura do ex-presidente, diante de suas históricas declarações contra institutos do Estado Democrático de Direito como o Habeas Corpus e que passa até pela defesa da tortura para se obter confissões, não passou batido nas redes.
“A verdade não vos libertará? Bolsonaro, Michelle, Wajngarten e Marcelo Câmara usaram do direito de ficar em silêncio no depoimento sobre a corrupção das joias. Direito que não existia na ditadura, tão exaltada pelo inelegível e sua horda”, disse o deputado federal Chico Alencar (PSol/RJ).
Seguindo a mesma linha, um post no Twitter registrava: “O direito ao silêncio é garantia do Estado Democrático de Direito, coisa que não tem numa ditadura. Bolsonaro, entusiasta do Estado de Exceção e apologista de tortura, gozou desse direito em seu depoimento. Um bicho feroz, mas só com o revólver na mão”, ironizou a postagem.
Outro internauta foi mais contundente: “Alguns sites dizem que a PF já tem informações suficientes pra prender Bolsonaro no caso das joias, porém o Estado dá ao ex-presidente a oportunidade de contar sua versão num depoimento, mas ele abre mão e prefere o silêncio. Diante disso, o justo seria a PF prender logo esse ladrão com base nos dados que tem”, incitou.
Poucas foram as manifestações mais articuladas em defesa do casal. Entre elas o do canal bolsonarista Gazeta do Povo: “Silêncio de Bolsonaro em depoimento à PF é protesto contra condução do caso pelo STF”.