JUSTIÇA

Prisão de monitora escolar acusada de abuso sexual causa comoção e comunidade pede por sua liberdade

Conhecida como Tia Erika, auxiliar de ensino de uma tradicional escola de Guaratinguetá está detida desde maio. Colegas, mães e até grupos de oração saíram em sua defesa
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 12 de julho de 2024

Foto: Reprodução Redes Sociais

A prisão revoltou pais, mães e colegas de Erika, que têm realizado uma série de protestos para dar visibilidade ao caso pedir por sua liberdade

Foto: Reprodução Redes Sociais

A prisão preventiva da monitora do ensino infantil de uma tradicional escola particular de Guaratinguetá, Erika Moreira de Oliveira, causou comoção na pequena cidade do interior de São Paulo.

Acusada de abuso sexual em crianças que cuidava, ela completará 60 dias no cárcere no próximo dia 14. A prisão revoltou pais, mães e colegas de Erika, que têm realizado uma série de protestos para dar visibilidade ao caso e pedir por sua liberdade.

Até o momento já foram realizadas vigílias em frente ao Fórum do município, passeatas, carreatas e correntes de oração, com a reza de terço, além de missas.

Representante dos que acreditam na inocência da monitora, Ingridy Nociti, descreve o inusitado da situação.

“Quando há uma denúncia de crimes contra crianças de tenra idade, a população cegamente se volta contra o suposto agressor. E foi justamente o contrário que aconteceu”, descreve. Ingridy relata que tem quatro filhos e todos foram atendidos por Erika e que, em nenhum momento, chega a desconfiar da culpa da monitora.

Ela relembra o caso Escola Base, quando proprietários de uma escola infantil foram acusados injustamente de abuso sexual e sofreram danos irreparáveis de reputação devido a conduta incorreta da polícia e cobertura precipitada da imprensa.

Não por acaso, Ricardo Shimada, filho dos proprietários da Escola Base, fez contato com Ingridy para conversar sobre o que está ocorrendo em Guaratinguetá. Shimada lançou em 2023 o livro O Filho da Injustiça (Editora Casa Flutuante) onde narra detalhes da sua vida com os pais antes, durante e após todo o ocorrido.

Rede de apoio à monitora

A rede de apoio em torno da monitora só cresce. Profissionais da saúde da cidade se colocaram à disposição para ajudar como peritos técnicos no caso.

E, recentemente um importante escritório de advocacia criminal de São Paulo assumiu a defesa de forma gratuita de Erika.

O renomado médico Guido Palomba, considerado um dos maiores psiquiatras forenses do Brasil, também atuará sem custos como auxiliar da defesa.

Como o caso está em segredo de justiça, a única coisa dita pela advogada de Erika, Marcela Ortiz, é que, por fatos novos, foi feito um novo pedido de liberdade na primeira instância e que a matéria está no Ministério Público (MP) para avaliação.

No próximo dia 24, antecipa a advogada também será avaliado um Habeas Corpus pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

O que ocorreu

A primeira denúncia contra a Erika foi feita no dia 25 de março. Mães de duas meninas de 3 anos de idade procuraram a Delegacia de Defesa da Mulher e relataram supostos abusos e apontaram a monitora como autora.

Segundo Ingridy, relatos de manifestações anteriores de mães apontavam que inicialmente haveria reclamações sobre a higienização das crianças após ida ao banheiro da escola, uma das atribuições de Erika.

Contudo, elas teriam sido “alertadas para a gravidade do fato” por uma amiga que era, na ocasião, juíza de Direito na cidade.

A magistrada acompanhou as mães na escola o que, por si só, é encarado por quem defende Erika como um ato intimidador.

“Tanto é que, em ata da reunião, a escola o tempo todo se refere a presença dela como juíza”, explica, Ingridy.

Inclusive, fala Erika, áudios registram que, antes mesmo de terem sido iniciado as investigações, a magistrada compareceu em reunião posterior na escola para tratar do assunto mesmo não tendo mais filhos matriculados no estabelecimentos.

Daí uma série de coincidências passaram a ocorrer. Após saída de férias da titular da Delegacia de Defesa da Mulhe, a delegada substituta não atendeu pedido de novas diligências da promotoria e encerrou o caso em 10 dias.

Concomitantemente, no dia 2 de maio, o juiz que era o titular da vara onde corria o processo entrou de férias e assumiu em seu lugar a magistrada que figura na primeira ata que tratou das reclamações das duas mães.

Mesmo com a juíza tendo se declarada impedida no caso, Ingridy que tem formação em Direito, transparece suas desconfianças.

“Não é comum. Em menos de 10 dias, essa delegada concluiu um inquérito sem ter atuado no caso”.

Efeito manada

Erika foi presa na frente de uma filha adolescente uma hora e meia depois do mandado de prisão preventiva ter sido expedido no dia 14 de maio. Dois dias depois foi transferida para a Penitenciária Feminina de Tremembé.

Sem antecedentes criminais, trabalhando com crianças há 20 anos, Erika tem 43 anos de idade e está no último ano de pedagogia.

Em Nota, a escola onde trabalhava desde 2011 disse que afastou a colaboradora como medida de precaução e que, em 13 anos que a monitora prestou serviços à instituição, não houve qualquer registro que desabonasse sua conduta profissional.

Além de Ingridy, outras mães que pediram para não se identificar também demonstram indignação. Todas acreditam em um possível “efeito manada” como no caso da Escola Base.

Depois de circular a notícia em WhatsApp de pais, mais três famílias procuraram a polícia para dizer que seus filhos também poderiam ter sido abusados. Todos da mesma sala, com idades entre 3 e 4 anos.

Nenhum, porém, do outro turno onde a monitora também exercia funções idênticas.

Quem defende Erika não têm dúvidas e acusa que o processo é falho e açodado. Laudo pericial do IML que foi vazado indicou escoriações, mas considerou a situação inconclusiva.

“Ela (Erika) está presa porque já chegaram lá com a ideia de um crime e que já havia uma pessoa culpada. Nenhuma oitiva especializada para crianças foi feita”, denuncia Ingridy.

Segundo ela, nem as imagens das câmeras de monitoramento da escola foram solicitadas pela polícia e que elas só chegaram à Delegacia de Defesa da Mulher por iniciativa da escola.

Uma das imagens, usada para justificar a prisão preventiva de Erika, mostrava a monitora sozinha com as meninas por menos de 40 segundos. Outras imagens a mostravam entrando e saindo do banheiro com crianças.

“Esse era o trabalho dela, gente!”, exclama Ingridy que vê uma espécie de histeria que circulou entre os pais da mesma turma.

“Crianças acabaram sendo inqueridas por pais preocupados e disseram que, sim, a tia Erika tinha tocado no ‘pipi, no bumbum’, mas, isto é óbvio e faz parte dos cuidados de higiene que ela fornecia desde 2011”, arremata.

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