Em corrida para licenciamento, Bets têm um terço de apostadores endividados e com nome sujo na praça
Foto: West Ham/ Divulgação
Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que jovens entre 19 e 29 anos são quase a metade dos que jogam em empresas de apostas on-line no Brasil (46%), as chamadas Bets.
Segundo o relatório do trabalho, chama a atenção o grau de endividamento desses apostadores que tentam a “sorte” no segmento que teve processo de regulamentação acelerado pelo governo após escândalo de manipulação de resultados em jogos de futebol.
Um terço dos apostadores on-line estão com seus CPFs negativados nos serviços de proteção ao crédito, mas 37% mantêm três cartões de crédito, modalidade de pagamento que dá acesso aos jogos.
Entre os jovens de 19 e 29 anos, 34% são das classes C, D e E. Os mais ricos, classes A e B, representam 25% dos jogadores frequentes.
A pesquisa do Locomotiva foi realizada entre os dias 3 e 7 de agosto e ouviu mais de 2 mil entrevistados em 142 cidades brasileiras.
Licenciamento
As Bets têm até o próximo dia 20 para encaminhar ao Ministério da Fazenda pedidos de licenciamento para garantir a liberação, até 1º de janeiro, para que possam operar legalmente no Brasil em 2024.
Após essa data, as inscrições continuam abertas, mas sem a garantia de que a autorização será concedida até o início do próximo ano.
O licenciamento faz parte da regulamentação das atividades do setor aprovadas no final do ano passado. Até o momento, foram 23 pedidos, entre eles a da Betfair, a gigante britânica que opera a maior bolsa de apostas on-line do mundo e oferta apostas desportivas on-line: casino, pôquer e bingo.
Também estão na lista as duas maiores patrocinadoras do futebol brasileiro, a Betano e a Superbet.
Escândalo das Bets
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Foi exatamente no futebol que um escândalo denunciado em 2023 jogou holofotes para a urgência de regulamentar as apostas on-line no Brasil. Além de não pagar impostos, a atividade criava espaços para fraudes.
A Operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás, expôs um esquema de apostas esportivas envolvendo jogadores de futebol de diversos times e divisões no Brasil.
Grupos criminosos pagavam até R$ 100 mil para manipular resultados. Como tudo se podia apostar, jogadores recebiam cartões ou cometiam outras ações como pênaltis durante uma partida para beneficiar apostas.
A operação ganhou destaque nacional com a deflagração de sua segunda fase que resultou em prisões e mandados de busca em 16 municípios de 20 estados.
Foram denunciadas 16 pessoas, entre as quais sete são jogadores de futebol, por manipulação de resultados em jogos das séries A e B do Campeonato Brasileiro e de campeonatos estaduais. Prints de conversas no WhatsApp entre jogadores e apostadores evidenciam o esquema.
A regulação
A Lei 14.790/2023, aprovada em dezembro, e que regulamenta as apostas no Brasil, incluiu mecanismos para coibir a manipulação de resultados.
Ela prevê a criação de sistemas de controle e monitoramento das atividades de apostas, além da exigência de transparência e compliance por parte das empresas que operam no setor.
As operadoras serão obrigadas a reportar atividades suspeitas e colaborar com as autoridades para identificar e punir fraudes. Esses mecanismos visam garantir a integridade das competições esportivas e proteger o mercado contra manipulações.
A regulação das apostas ainda exige que empresas e apostadores paguem tributos sobre suas atividades. Os recursos arrecadados serão destinados a áreas como saúde, educação e segurança pública. Além disso, as empresas precisam obter licenças para operar legalmente no país.