JUSTIÇA

Em corrida para licenciamento, Bets têm um terço de apostadores endividados e com nome sujo na praça

Baixa renda, jovens e superendividados. Esse é o perfil de quem aposta on-line no Brasil. Após escândalos, setor teve regulação aprovada no Congresso
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 16 de agosto de 2024
Em corrida para licenciamento, Bets tem um terço de apostadores endividados e com nome sujo na praça

Foto: West Ham/ Divulgação

O meia Lucas Paquetá, da seleção brasileira e do West Ham, foi um dos atletas diretamente envolvido em um escândalo das Bets no futebol inglês. O jogador foi denunciado formalmente em maio

Foto: West Ham/ Divulgação

Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que jovens entre 19 e 29 anos são quase a metade dos que jogam em empresas de apostas on-line no Brasil (46%), as chamadas Bets.

Segundo o relatório do trabalho, chama a atenção o grau de endividamento desses apostadores que tentam a “sorte” no segmento que teve processo de regulamentação acelerado pelo governo após escândalo de manipulação de resultados em jogos de futebol.

Um terço dos apostadores on-line estão com seus CPFs negativados nos serviços de proteção ao crédito, mas 37% mantêm três cartões de crédito, modalidade de pagamento que dá acesso aos jogos.

Entre os jovens de 19 e 29 anos, 34% são das classes C, D e E. Os mais ricos, classes A e B, representam 25% dos jogadores frequentes.

A pesquisa do Locomotiva foi realizada entre os dias 3 e 7 de agosto e ouviu mais de 2 mil entrevistados em 142 cidades brasileiras.

Licenciamento

As Bets têm até o próximo dia 20 para encaminhar ao Ministério da Fazenda pedidos de licenciamento para garantir a liberação, até 1º de janeiro, para que possam operar legalmente no Brasil em 2024.

Após essa data, as inscrições continuam abertas, mas sem a garantia de que a autorização será concedida até o início do próximo ano.

O licenciamento faz parte da regulamentação das atividades do setor aprovadas no final do ano passado. Até o momento, foram 23 pedidos, entre eles a da Betfair, a gigante britânica que opera a maior bolsa de apostas on-line do mundo e oferta apostas desportivas on-line: casino, pôquer e bingo.

Também estão na lista as duas maiores patrocinadoras do futebol brasileiro, a Betano e a Superbet.

Escândalo das Bets

Em corrida para licenciamento, Bets tem um terço de apostadores endividados e com nome sujo na praça

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Lula sancionou em janeiro a Secretaria de Prêmios e Apostas, que conta com uma Subsecretaria de Autorização, uma Subsecretaria de Monitoramento e Fiscalização e uma Subsecretaria de Ação Sancionadora

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Foi exatamente no futebol que um escândalo denunciado em 2023 jogou holofotes para a urgência de regulamentar as apostas on-line no Brasil. Além de não pagar impostos, a atividade criava espaços para fraudes.

A Operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás, expôs um esquema de apostas esportivas envolvendo jogadores de futebol de diversos times e divisões no Brasil.

Grupos criminosos pagavam até R$ 100 mil para manipular resultados. Como tudo se podia apostar, jogadores recebiam cartões ou cometiam outras ações como pênaltis durante uma partida para beneficiar apostas.

A operação ganhou destaque nacional com a deflagração de sua segunda fase que resultou em prisões e mandados de busca em 16 municípios de 20 estados.

Foram denunciadas 16 pessoas, entre as quais sete são jogadores de futebol, por manipulação de resultados em jogos das séries A e B do Campeonato Brasileiro e de campeonatos estaduais. Prints de conversas no WhatsApp entre jogadores e apostadores evidenciam o esquema.

A regulação

A Lei 14.790/2023, aprovada em dezembro, e que regulamenta as apostas no Brasil, incluiu mecanismos para coibir a manipulação de resultados.

Ela prevê a criação de sistemas de controle e monitoramento das atividades de apostas, além da exigência de transparência e compliance por parte das empresas que operam no setor.

As operadoras serão obrigadas a reportar atividades suspeitas e colaborar com as autoridades para identificar e punir fraudes. Esses mecanismos visam garantir a integridade das competições esportivas e proteger o mercado contra manipulações.

A regulação das apostas ainda exige que empresas e apostadores paguem tributos sobre suas atividades. Os recursos arrecadados serão destinados a áreas como saúde, educação e segurança pública. Além disso, as empresas precisam obter licenças para operar legalmente no país.

Comentários