Julgamento de réu pelo assassinato de adolescente indígena paralisa Coronel Bicaco
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Foto: Maicon Ferreira / Luz e Alegria
Sessão de julgamento é presidida pela juíza Ezequiela Basso Bernardi Possani, titular da Vara Judicial da Comarca de Coronel Bicaco
Foto: Maicon Ferreira / Luz e Alegria
Sexto município mais populoso entre os 21 que compõem a Região Celeiro no Noroeste do Rio Grande do Sul, Coronel Bicaco amanheceu sob tensão nesta quinta-feira, 13, data em que vai a júri popular o acusado pelo estupro e assassinato da adolescente indígena Daiane Griá Sales, aliciada em uma festa de rua nas proximidades da reserva da Guarita, em Redentora, em julho de 2021.
O assassinato da menina indígena que revoltou a população local, de aproximadamente 8 mil habitantes, teve repercussão mundial e provocou uma intensa mobilização contra a violência e o feminicídio contra meninas e mulheres indígenas. Grupo GT Guarita Pela Vida foi um dos coletivos que realizaram vigílias desde a noite de quarta-feira em frente ao Fórum.
O julgamento começou às 8h desta quinta-feira e deve se estender até a sexta-feira, 14, devido à extensa lista de depoimentos a serem colhidos pelo tribunal do júri. Foram realizadas vigílias em diversos locais do município e em frente do Fórum de Coronel Bicaco, onde ocorre o julgamento de Dieison Corrêa Zandavalli, 36 anos, que está preso de forma preventiva desde o indiciamento pela polícia civil, em setembro de 2021.
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Imagem: Redes Sociais/ Reprodução
Mulheres indígenas e movimentos sociais fizeram vigília em frente ao Fórum no primeiro dia de julgamento
Imagem: Redes Sociais/ Reprodução
A menina caingangue vivia na Terra Indígena Guarita, no interior de Redentora, município de 9,9 mil habitantes perto da fronteira gaúcha com a Argentina. Ela foi estuprada e morta no fim de julho de 2021. Seu corpo só foi achado quatro dias depois, dilacerado, em meio a uma terra lavrada. Leia a cobertura do caso pelo Extra Classe.
Zandavalli responde pelos crimes de estupro de vulnerável feminicídio homicídio qualificado por motivos torpe e fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima e dissimulação para assegurar a impunidade. A sessão de julgamento é presidida pela juíza Ezequiela Basso Bernardi Possani, titular da Vara Judicial da Comarca de Coronel Bicaco.
Os depoimentos iniciaram pela manhã, após o sorteio dos nomes dos jurados que integram o Conselho de Sentença, quando foram ouvidas testemunhas de acusação e de defesa. São 11 depoimentos ao todo, além do réu. Em seguida ocorrem os debates da debates da acusação e da defesa, com 1h30min para cada advogado.
Caso o Ministério Público opte pela réplica, o julgamento deverá se estender por mais duas horas. Somente depois disso os jurados se reúnem em sala secreta e votam pela culpa ou absolvição do réu. Se ele for condenado, será o juiz quem determina a sentença em anos. “Que a voz de Daiane seja ouvida”, disse Bira Teixeira, advogado da família da vítima, que ressaltou a existência de provas materiais suficientes para a condenação.
“Também existe a expectativa de que durante o julgamento fique mais claro se teve a participação de mais pessoas no assassinato, porque isso remeteria a um processo de investigações posterior sobre as novas pessoas, caso seja evidenciado durante o júri”, afirmou o advogado em entrevista a veículos locais.
Devido a grande quantidade de testemunhas, Teixeira acredita que o júri poderá se estender até a sexta-feira. “Independente do tempo, o nosso objetivo maior é dar voz para a Daiane. A voz que não foi ouvida naquela noite fria de 2021, em um lugar isolado, quando ela pediu socorro. Que hoje ela possa ser escutada no júri e que os jurados compreendam a dor que esta menina passou e a necessidade de condenação do réu que praticou um crime bárbaro”.