MOVIMENTO

Caravana em defesa da Escola

Da Redação / Publicado em 2 de junho de 1998

Desde 11 de maio, a Caravana em Defesa da Escola Pública e da Cidadania vem percorrendo o Rio Grande do Sul. Até 25 de junho, foram sete mil quilômetros de viagem, passando por mais de 200 municípios e 500 escolas. Nesse período, reuniu milhares de pessoas em atos públicos, plenárias sindicais, carreatas e passeatas. Na avaliação da diretoria central do CPERS /Sindicato, a Caravana superou os objetivos iniciais de fazer a aproximação com a base da categoria e atingir um número expressivo de associados.

“Aos poucos, a categoria vai adquirindo consciência de que é necessário fortalecer cada vez mais o sindicato para que possa estabelecer uma correlação de forças favorável no processo de negociações com o governo do Estado”, analisa a presidente da entidade, Lúcia Camini. Para ela, a abertura da negociação da pauta de reivindicações com o Executivo – a primeira audiência foi realizada dia 19 de junho – foi resultado da pressão provocada pela Caravana.

Numa conjuntura em que as greves são cada vez mais difíceis de sustentar, o CPERS/Sindicato está apostando em formas de mobilização que tenham o apoio da sociedade. “Estamos construindo a possibilidade de fazer o enfrentamento não só com o governo do Estado, mas também com os outros setores que detém o poder econômico”, continua Lúcia.

Através das manifestações públicas e do uso de símbolos, a Caravana tem sido um instrumento de resgate de valores coletivos como a solidariedade e a convivência entre as pessoas. “Elas se encontram não apenas para tratar dos problemas que enfrentam na vida profissional, mas também para superar aquilo que angustia na individualidade e que é reflexo da política que vem sendo adotada no país”, explica.

“Os professores e funcionários das escolas estaduais que não acompanham a velocidade e a intensidade das políticas de desmonte do Estado, às vezes, se sentem até culpados por essa situação”. A Caravana está cheia de exemplos de como a fragmentação das escolas nem sempre é percebida pelos educadores. Eles apontam, por exemplo, a falta de funcionários, mas não estabelecem a relação deste problema com as reformas adotadas pelo Executivo estadual.

Duas razões contribuem para isso: primeiro, a sobrecarga de trabalho e a falta de perspectivas profissionais. Segundo, o impasse na questão salarial. Mas um fator que parece ser determinante é a falta de informação e de tempo para o debate. Muitos ainda não têm uma avaliação precisa sobre as conseqüências das reformas nas suas vidas e na estrutura do sistema de ensino. “Na medida em que nós cumprimos este papel, de trazer a informação e de fazer a avaliação global da situação, isto permite que eles redescubram-se como sujeitos e formadores de opinião”, sublinha Lúcia Camini.

Mas, se custam a entender a profundidade das mudanças que ocorrem à sua volta, os educadores estão sofrendo os efeitos da crise social que cerca a escola. Eles trabalham com um público que está sendo afetado pela política de exclusão. A Caravana tem demonstrado que a luta por salário não pode ser desvinculada das políticas gerais do país. A tomada de consciência acontece no momento em que o educador consegue entender essa relação. “Aí nós podemos produzir uma luta social muito mais consistente”, assinala Lúcia.

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