MOVIMENTO

A política venceu o marketing?

Stella Máris Valenzuela / Publicado em 30 de setembro de 1998

As eleições empolgaram ou não os eleitores? Para a cientista política Céli Regina Pinto, doutora pela Universidade de Essex, França, a resposta é sim. “Empolgação não é um conceito capaz de definir a complexidade da política. Houve uma construção hábil do governo federal de transformar a política numa questão técnica e a conjuntura nacional num tema internacional. Diante disso, as pessoas se sentiram alijadas do processo. Veja bem, se para resolver os problemas das bolsas, da evasão do capital estrangeiro e da manutenção do real, não envolve uma decisão política, o eleitorado se retrai”, analisa ela, professora do Departamento de Ciência Política da UFRGS, acrescentando: “se a questão não é nacional, mas internacional, é preciso buscar – e esse discurso foi muito difundido no Brasil – alguém confiável internacionalmente e com condições técnicas de resolver. Então, o quadro deixou de ser político”.
Segundo Céli, foi feito um discurso de susto e parte do eleitorado comprou esta idéia. “Quando se escolhe entre duas opções, estamos selecionando formas de resolver. Mas o governo diz que há apenas uma saída, porque a crise é internacional e não temos solução. A oposição não teve fôlego para desmascarar a tese de que se não fosse o governo seria o caos. Na verdade, a crise é econômica, porém alicerçada politicamente”.

Democracia – O discurso do “não empolgou” serviu ao governo. “Isso é um desserviço à democracia. A grande imprensa alardeou que os militantes não foram às ruas e ninguém discutiu política. Bem, diante disso, o melhor é ficar em casa e não votar. Mas esta abordagem não foi dita. Em 1989 a conjuntura era outra. Há muito tempo o país não tinha eleição para presidente. Em 1983/1984 o povo foi às ruas pelas diretas. Havia uma grande mobilização. O primeiro pleito presidencial significou o rompimento com o autoritarismo. Logo em seguida veio a tragédia colorida. Depois, Fernando Henrique Cardoso e o plano real. Há de se considerar que as democracias vão amadurecendo. Votar de dois em dois anos começa a ser um hábito. E não é bom para a democracia parar seis meses para discutir quem vai ser o próximo presidente. Aliás, para uma boa democracia é importante que no intervalo de um sufrágio e outro, as pessoas exerçam sua cidadania, busquem espaços em seus sindicatos, nas escolas, edifícios, na posição como consumidoras, como pagadoras de impostos e membros de um partido. Portanto, a idéia de empolgação vendida não é verdadeira”.

Repetição – Ela entende que o RS não comprou a propaganda do Fernando Henrique e as pessoas votaram a favor e contra o governo, mas a oposição cresceu. “A idéia de um grande partido único, como no México, não se materializou. O eleitorado brasileiro apresentou maturidade e sabia em quem estava votando. Houve empolgação sim. Em cada esquina havia uma pessoa sacudindo uma bandeira do Britto. Mas, as pessoas têm as suas vidas e, em determinados momentos vão às ruas. A idéia de suspender tudo e balançar bandeiras provou ser tão inócua, que quem abanou bandeira não ganhou a eleição”.
André Marenco, doutor e professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS acredita que a eleição poderia ter sido mais aguerrida, caso os índices divulgados pelos principais institutos de pesquisa fossem mais fiéis aos resultados concretos das urnas. “Os prognósticos equivocados inibiram a militância petista”, avalia. Para o doutor em Sociologia e diretor do Instituto de Pesquisa Meta, Flávio Eduardo Silveira, as eleições não empolgaram por vários fatores. “No caso específico do RS passou a impressão de que este filme eu já vi. Os candidatos à presidência e ao governo do estado foram os mesmos do pleito de 1994. Em nível federal tivemos o problema da crise, como algo vindo de fora, sem responsabilidade do governo federal. A falta de debate, sem dúvidas, prejudicou. Outro elemento a considerar é a rotinização dos processos eleitorais. Porém, cada eleição tem sua singularidade. É preciso interpelar o eleitor. As pessoas vão adiando seu engajamento por questões racionais ou emocionais. Mas chega num determinado momento, elas ingressam no processo. Esta foi a razão do crescimento do Olívio”.

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