Movimentos sociais se mobilizam para garantir conquistas, enquanto prática de negociação é aperfeiçoada pel novo governo. Professores estaduais querem reajustes salarial e marcam paralisação de três dias
A primeira manifestação contra o governador Olívio Dutra ficará para a história. Ao invés de darem com a cara na porta do Palácio Piratini ou enfrentar pelotões da Brigada Militar, os manifestantes – capitaneados por políticos de oposição, contrários à renegociação de contratos com as montadoras de automóveis – foram surpreendidos pelo próprio governador, que subiu no palanque adversário para explicar a razão de suas medidas. O episódio, ocorrido no início de abril, serviu como marco das novas relações entre governo do estado e movimentos sociais.
Movimentos que, aliás, continuam tão vivos quanto antes. O que muda é o relacionamento com os novos governantes. Por exemplo: trégua é uma palavra que não existe no dicionário do Cpers/Sindicato (Centro dos Professores do Rio Grande do Sul), a maior instituição classista da América Latina. Com uma base de 86 mil professores sem reajuste há dois anos, a direção está negociando uma nova política salarial sem deixar de lado a mobilização da categoria. Os professores estaduais vão fazer três dias de paralisação em 9, 10 e 11 de junho para pressionar o governo. Nos dias 30 de abril e 4 de maio, houve duas horas de paralisação nas escolas estaduais.
Os professores querem um piso reajustado para R$ 377,00 (básico de 20 horas) e R$ 353,00 para funcionários escolares com 40 horas. “O governo ainda não nos apresentou uma proposta concreta para um problema que hoje é questão de sobrevivência”, critica a presidente do Cpers, Marcia Dorneles. Ela ressalta que a relação com o governo atual é “tranqüila, transparente e muito séria”. Ao contrário do governo anterior, assegura a dirigente, que não cumpriu a política salarial em vigor.
Apesar das diferenças de tratamento, Marcia argumenta que os novos governantes têm de entender as necessidades da categoria. “Eles dizem que não têm condições de atender nossa reivindicação salarial, mas não há mais como segurar essa situação. O governo precisa apresentar uma contra-proposta aos professores”, reivindica. Marcia lembra que o estado gasta 80% de seu orçamento com a folha de pagamento dos funcionários públicos. Apesar de os professores somarem 51% do total de funcionários, representam apenas 38% da folha salarial. “Portanto, não somos nós os culpados pelas dificuldades de caixa do governo”.
O secretário da Administração, Jorge Buchabqui, reconhece que a mobilização do magistério é legítima. “Os salários são baixos e há muita perda acumulada, o governo admite isso, mas há uma imposição material que impede qualquer reposição nesse momento”, antecipa. Segundo ele, o estado está administrando um déficit de R$ 1,1 bilhão que impede reajustes salariais em curto prazo. “Quando conseguirmos reequilibrar as contas públicas, vamos efetuar a reposição”, promete.
Assim como a dirigente do Cpers, Buchabqui também ressalta que houve mudanças nas relações do governo com a categoria. “Temos canais abertos e permanentes para dialogar”. Ele anuncia que já está pronto um projeto-de-lei revogando o atual plano de carreira do magistério e revalidando o antigo, como reivindicam os professores. “Isso não terá repercussão econômica a curto prazo, mas a longo prazo certamente”, informa.