MOVIMENTO

Bandeira empunhada por muitas mulheres

Publicado em 19 de setembro de 1999

A luta pela anistia no Brasil ficou marcada na história pela participação de mulheres que empunharam essa bandeira país a fora, começando por São Paulo e Rio Grande do Sul. A lei da anistia foi promulgada em 28 de agosto de 1979 e ampliada duas vezes: na Constituinte (1985) e na Nova Constituição (1988).

Lançado em São Paulo pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, na Semana Santa de 1975, o movimento pela anistia era apartidário. A paulista Terezinha Zerbini, que foi presa durante a ditadura, (1964-1979) tornou-se sua primeira coordenadora nacional. Terezinha pediu que se levantassem os nomes de todos os presos políticos dentro e fora do país. Esta tarefa marcou o início do movimento.

Aqui no Rio Grande do Sul, no entanto, a história começou um ano antes, quando Mila Cauduro, candidata a deputada estadual em 1974, usou os palanques para pregar a anistia. Mila era candidata pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), a frente de oposição. Ela inseriu em sua pregação eleitoral a luta pela anistia ampla, a revogação dos atos institucionais e eleições diretas.

Brizolista, Mila queria aproveitar sua campanha para poder falar do exílio do ex-governador Leonel Brizola. “Ele estava exilado e sequer se podia falar o nome dele no Brasil; era um terror, estávamos num regime de força”, relata.

Com o movimento iniciado em São Paulo, Terezinha queria alguém para contato no Rio Grande do Sul. Na capital paulista, foi aconselhada por uma amiga, a também ex-prisioneira Dilma Rouseff (hoje secretária estadual de Energia, Minas e Comunicação) a procurar a então estudante de Ciências Sociais Lícia Peres, casada com o vereador de oposição Glênio Peres. Era 1975, Ano Internacional da Mulher. Lícia e Dilma se conheceram. Dilma levou para a estudante o “Manifesto da Mulher Brasileira em Favor da Anistia”, onde se lia: “eis por que, neste Ano Internacional da Mulher, nós nos antepomos aos destinos da Nação, que só cumprirá sua finalidade de paz se for concedida anistia ampla e geral a todos aqueles que foram atingidos pelos atos de exceção”.

Lícia aceitou a tarefa e se tornou a primeira presidente do Comitê pela Anistia no Rio Grande do Sul. Imediatamente entrou em contato com Mila, devido à repercussão de sua defesa na anistia durante a campanha no ano anterior. “Foi uma luta humana, fraterna, muito política e apartidária”, lembra Mila, que assumiu a presidência da entidade um ano depois.

Em 31 de janeiro de 1977, Glênio Peres foi cassado após seu discurso de posse na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Naquele dia, ele disse que o papel de um vereador não seria o de se preocupar com buracos de rua, porque o grande buraco era a falta de direitos humanos. Seu companheiro de partido, o estreante Marcos Klasman, foi solidário com ele e no dia seguinte repetiu o mesmo discurso. Também foi cassado. Os mandatos foram recuperados dois anos e meio depois, com a anistia.

À frente do movimento, as mulheres passaram a percorrer ruas, fábricas, escolas e igrejas recolhendo assinaturas em favor da anistia. “A maioria das pessoas sequer conheciam essa palavra e perguntavam o que significava; explicávamos que era uma luta para fazer voltar ao país as pessoas expulsas pelo regime militar”, conta Mila.

Aos 83 anos, Mila Cauduro, ex-secretária da Cultura no governo Collares, relembra emocionada a luta que protagonizou. “Aquele não era um movimento de ódio, mas um movimento humano. Achávamos que todos os brasileiros tinham o direito de viver no Brasil, defendendo suas idéias”. René Cabrales percorreu ruas, fábricas e escolas: palavra desconhecida

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