Foto: C.S.
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As explicações são várias. Muitos dos empréstimos foram feitos para pagar os custos da própria dívida, além disso, a balança comercial apresentou déficits consecutivos, ou seja, importou-se mais do que se exportou, e muito pouco do dinheiro que entrou no País foi para investimentos no setor produtivo. No ano passado, 64% do orçamento da união foi destinado ao acerto dos juros das dívidas interna e externa. As duas estão totalmente relacionadas pois a primeira aumenta em conseqüência da segunda. Só com a desvaloriza ção do Real, os custos com a amortização excederam em US$ 36 bilhões o gasto que estava previsto em US$ 90 bilhões. Mesmo assim, o Palácio do Planalto não quer nem tocar no assunto. Procurada por nossa reportagem, a assessoria do Ministro do Planejamento, Pedro Malan, afirma que o tema não está na pauta e que o ministério não tem interesse em se manifestar sobre o assunto. Porém, em entrevista recente, o próprio ministro deixou escapar que existe um confronto entre forças políticas divergentes no que se refere à questão e sugere um pacto em defesa da economia. Para ele, a política que defende segue preceitos universais e o simples fato de ventilar notícias no Exterior sobre correntes políticas (referindo-se principalmente a setores ligados ao PT e PDT) que questionem o pagamento da dívida, já serviria para criar um clima de desconfiança em relação ao País junto ao capital internacional. “Esta discussão pertence ao passado, talvez há quinze anos isso tivesse sentido, mas agora este plebiscito é totalmente fora de propósito, é uma baboseira, presta um desserviço ao país. Um calote agora está fora de questão”, declarou publicamente o ministro durante uma visita ao Rio de Janeiro.
“Não interessa o que o governo pensa”, diz D. Jaime, “queremos saber o que realmente devemos e se devemos. Uma investigação minuciosa pode dizer até que esta dívida já está paga. E aí?”.
O presidente da CNBB alega que não se trata de defender o calote, mas de esclarecer a população sobre o tema para que possa tomar partido e completa: “Queremos pagar, mas com justiça, dentro do que consideramos correto e moral. O que não podemos é continuar enviando dinheiro que nos custa educação, saúde e vidas humanas. Se o próprio Fernando Henrique, há pouco, perdoou países pobres que deviam ao Brasil, por que nossos credores não podem fazer o mesmo?”